Da época em que a agência bancária era a solução para tudo até a possibilidade de resolver boa parte da sua vida financeira pelo celular, muito já mudou. Mas será que as inovações param por aí? A resposta é um sonoro não. E o futuro dos bancos, acredite, mais parece episódio de Black Mirror do que algo que você já tenha visto. A evolução do sistema bancário tem nome: open banking. A promessa é reunir em um único ambiente todos os dados financeiros do cliente. Afinal, as informações são suas, não do banco.
Quando isso acontecerá? Depende de como a discussão vai caminhar no Brasil. Na Europa, que passa por um processo de regulamentação e implementação do conceito de open banking, os bancos foram obrigados a liberar os dados dos clientes, quando solicitados. Para deixar disponíveis essas informações cadastrais ou movimentações, como o seu extrato bancário, por exemplo, o banco terá de criar comandos de programação de software, mais precisamente um API (do inglês Application Programming Interface).
Com o open banking, você poderá acessar a sua conta e realizar movimentações financeiras sem estar necessariamente conectado à rede de um banco específico.
“O open banking é uma forma de o usuário conseguir ter portabilidade de seus dados”, afirma o professor de Economia do Ibmec-SP Gustavo Cunha. Ele explica que o controle será centralizado pelo cliente, ou seja, em uma única tela você poderá visualizar suas contas correntes, cartões e investimentos. Seria como ter uma assinatura digital financeira.
Bastaria você compartilhar seus dados com um outro banco ou mesmo com uma fintech, nome dado a startups de serviços financeiros que funcionam como alternativas para determinados produtos, concorrendo com os bancos tradicionais. “Bancos mais digitais já estão criando APIs e dando acesso a fintechs ou a terceiros”, afirma Cunha.
O Banco do Brasil, por exemplo, lançou uma plataforma de open banking desenvolvida em parceria com a fintech Conta Azul, especializada na gestão de contas para micro e pequenas empresas. Por meio de uma API, o cliente acessa a informação que deseja – e porque o banco a forneceu.
O diretor de Negócios Digitais do Banco do Brasil, Marco Mastroeni, defende que haja uma regulamentação para open banking a fim de evitar riscos aos clientes. “Há responsabilidades que precisam ser muito bem discutidas e regulamentadas, de modo que preservem a segurança principal do cidadão e das instituições que precisam se adaptar a essas informações”, afirma.
Mastroeni diz que é importante saber quem é “esse terceiro” que terá acesso a informações de seus clientes depois da abertura da API. No caso da Conta Azul, o banco sabe exatamente com quem ele está compartilhando informações. Por isso, o executivo do BB acredita que a regulamentação no Brasil não necessariamente vá obrigar os bancos a abrir as informações, como é o caso da Europa.
O Banco Central informou, em nota, que vem “acompanhando e estudando as inovações no segmento financeiro” com o objetivo de manter a solidez e a eficiência do Sistema Financeiro Nacional. Para a instituição, o open banking é um dos temas de interesse, tendo em conta o “potencial impacto na oferta de novos serviços financeiros e sobre a concorrência”.
Para a B3, a bolsa de valores oficial do Brasil, o open banking também possibilitará que os investidores optem pela disponibilização de informações de seu portfólio de investimentos para terceiros e outras plataformas. A B3 já possui tecnologia e plataformas que permitem esse acesso de forma digital em ambiente seguro e de alta performance, porém deve sempre respeitar o ambiente legal no País.
Planejamento facilitado
Com o open banking regulamentado, pode ficar mais fácil organizar as finanças. Muitos dos problemas dos nossos pais, como endividamentos e atraso nas contas, vieram da falta de planejamento financeiro. A novidade permite reunir em um único ambiente todos os dados bancários e operar por ali. “O open banking permitirá que surjam empresas que queiram inovar ao prestar consultoria, mapeando o perfil de consumo para então oferecer dicas de gestão financeira”, diz Mauro Guaraciaba, diretor executivo para a indústria de Finanças da DXC Technology, empresa de serviços de TI.
Mas as inovações não param por aí. No futuro, a promessa é que as informações serão descentralizadas e as interações poderão ser feitas sem a necessidade de um intermediário ou órgão regulador. Isso será possível por causa da tecnologia blockchain, que também está por trás das criptomoedas como o bitcoin. Aliás, alguns especialistas estão apostando que as moedas virtuais vão substituir o dinheiro físico.
Parece abstrato, mas a internet e o celular também assustaram muitas pessoas no início. Descubra as novidades que estão surgindo nos serviços financeiros clicando nas cartas abaixo – ou acesse diretamente os links das matérias:
- Com conta digital você só fala com o gerente se quiser
- Cartão de crédito sem anuidade não é mais exclusividade
- Empréstimo sem recorrer ao banco? Isso já é possível
- Gerente não está só na agência do banco
- Robôs vão ajudar a encontrar melhor opção para investir dinheiro
- Mas o que é mesmo uma fintech?
- Esse tal de blockchain