Planejamento e mapeamento de rede são palavras-chaves para que ideias, como controlar a iluminação de sua casa por um aplicativo no celular, saiam do papel e virem realidade por meio do crowdfunding. Seja um serviço ou uma iniciativa social, encontrar e comunicar bem o interesse coletivo do projeto é o primeiro passo para ter sucesso nas vaquinhas virtuais, segundo especialistas.
As narrativas das campanhas têm de ser construídas de acordo com o público alvo e a plataforma de divulgação. “Você pode falar que quer gravar um CD porque tem o sonho de ser cantora ou porque com isso você estará investindo na cultura e na arte”, exemplifica a gerente de Projetos Especiais da plataforma Benfeitoria, Larissa Novais. “A partir da forma como você comunica a sua campanha, vai engajar mais as pessoas ou não.”
Um processo que a cantora e compositora Camilla Farias compreendeu bem na segunda tentativa de crowdfunding na Benfeitoria. Com ajuda de mais pessoas gerenciando a campanha, ela alterou os textos de divulgação, deixando o material mais curto e objetivo. Também fez posts diários nas redes sociais e vídeos rápidos e explicativos sobre o projeto. “Isso trouxe uma comunicação mais direta, rápida e dinâmica”, conta. “Deixou as pessoas mais perto de mim.” E o resultado veio. Ela alcançou a meta de R$ 5 mil para o lançamento de seu CD Singeleza.
Essas ações precisam ser planejadas antes de colocar a campanha no ar, para que não seja necessário pensar nelas durante o processo. É aí que entra o mapeamento de rede, que ajuda a entender se a meta é viável, quais recompensas você pode oferecer ao colaborador, o tempo de campanha e as melhores estratégias de comunicação.
Uma pesquisa que os mineiros Tiago Loureiro, Wellington Soares Junior e Vinicius Loureiro começaram a fazer por conta própria. Antes de iniciar a arrecadação para o projeto de automação de iluminação, a Bluelux, eles analisaram campanhas bem-sucedidas do setor de tecnologia no Brasil e nos Estados Unidos. E ainda ligaram para amigos e parentes, para fazer pedido de apoio individual.
Assim, uma campanha que tinha duração de um mês e meio, ganhou forma com dez dias pela plataforma Kickante. Mais de cem pessoas decidiram contribuir para a empreitada e a meta inicial, de R$ 15 mil, foi totalmente superada, com mais de R$ 28 mil arrecadados.
Wellington, um dos três sócios da Bluelux, fala da importância de atuar com antecedência para que a campanha dê certo. “Você já tem de trabalhar um mês antes”, afirma o empresário. Isso ajuda a ter uma boa resposta logo no lançamento, algo muito importante para o resultado final. “O ideal é que você se planeje para arrecadar 30% da sua campanha no primeiro dia.
A estratégia é essa mesmo e se apoia inicialmente na rede primária de parentes e amigos, segundo Larissa, gerente da Benfeitoria. “São eles que ajudam a passar mais credibilidade para pessoas fora do seu círculo mais próximo”, afirma. Larissa faz uma ressalva: “Esse grupo inicial serve para alavancar, mas não são os parentes que têm de financiar a maior parte do projeto”.
Veja aqui mais dicas da Larissa para o lançamento do seu projeto.
Para ir além de sua rede, é possível fazer um mapeamento para identificar pontos de acesso a outras pessoas do nicho, principalmente se planeja continuar fazendo outras campanhas de crowdfunding. “Não é necessariamente seu irmão ou alguém próximo da sua rede que vai ajudar”, diz o professor José Marques Pereira Junior, da Escola Superior de Empreendedorismo (ESE) do Sebrae-SP. “Mas se eu achar dentro da minha rede dez pessoas que tenham o perfil da ideia e conseguir engajar esse grupo, possibilitando que eles consigam outros interessados, o meu esforço tem resultado melhor.”
Modelos mais recomendados
A consultoria de financiamento coletivo Somos Bando analisou as campanhas da plataforma Catarse de 2016 e descobriu que aquelas inscritas no modelo Tudo ou Nada, ou seja, ou alcançam a meta proposta ou o dinheiro volta para os colaboradores, arrecadavam quase dez vezes mais do que na modalidade Flexível, na qual o realizador sai com qualquer valor que tenha sido doado. Um dos fundadores da consultoria, Téo Benjamin explica que essa diferença acontece porque as campanhas geralmente têm dois picos de contribuição: no começo, quando o engajamento da rede primária faz diferença, e no fim, quando no Tudo ou Nada é possível criar o senso de urgência nos apoiadores.
“Traz confiança, porque o colaborador sabe que se não der certo ele recebe o dinheiro de volta”, diz Benjamin. “E também para o realizador, porque sabe que se não alcançar a meta, não fica com um pepino na mão.”
E o meio da campanha? Conhecido como Vale, é um período que tem de ser o mais curto possível, já que as colaborações tendem a diminuir. Benjamin explica que o contrário do que todo mundo pensa, campanhas mais longas não arrecadam mais, mas só aumentam esse período mais lento. Por isso, recomenda a duração de três a seis semanas, mesmo se as plataformas tiverem opções de prazo mais longo.
Outro pulo do gato, na opinião de Benjamin, é sempre incluir nas campanhas recompensas para quem contribuiu com ela. Seja a entrega do produto final do projeto ou um evento. Segundo ele, isso ajuda a aumentar o tíquete médio da contribuição.
O professor Pereira Junior, do ESE, vê outra vantagem de se oferecer recompensas. É que elas podem servir como boas medidoras de mercado. “Você tem duas certezas: de que as pessoas consumiriam o seu produto e de que a receita inicial da produção já começará a entrar no seu caixa antecipadamente”, explica. “Você já consegue mensurar se aquele valor que você definiu tem interesse do público.”
Com as informações dos especialistas de financiamento coletivo, Larissa Novais (Benfeitoria) e Téo Benjamin (Somos Bando), montamos uma linha do tempo com dicas do que fazer no processo de campanha de crowdfunding.