Pessoas, no vale do Anhangabaú, em São Paulo, fazendo filas, em calçadão, que fica no meio de várias árvores.
Mutirão da Central Sindical UGT de vagas de emprego no Vale do Anhangabaú, em São Paulo | Foto: Felipe Rau/Estadão - 16/07/2018

Procurar emprego também custa – e pode sair bem caro

Deslocamento e alimentação são principais gastos na busca por vagas de trabalho; veja se tem o perfil adequado antes de se candidatar

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Ter o emprego dos sonhos é difícil, mas não impossível. A questão é que para chegar lá o caminho pode ser custoso, literalmente. Mais da metade dos jovens, 56%, têm alguma empresa que consideram como “lugar  dos sonhos” para trabalhar futuramente, mas apenas 5% deles estão, de fato, onde almejam, de acordo com pesquisa feita pela Cia de Talentos, especializada em recrutamento. Geralmente, é necessário participar de processos seletivos e entrevistas, e os gastos desse ir e vir podem pesar no orçamento de estudantes ou recém-formados.

Os custos são ainda mais elevados se as posições a que o candidato concorre forem fora de sua cidade ou região. Por exemplo, quando o estudante do Nordeste é chamado para uma etapa presencial de entrevista no Sudeste e tem de arcar com  passagens de avião ou ônibus e hospedagem. “A gente recomenda que, nas datas das etapas finais, eles procurem se acomodar em casa de família para economizar”, diz a sócia-diretora da Cia de Talentos, Paula Esteves.

Esta situação de ter uma entrevista fora do Estado de origem aconteceu com o estudante de último ano de Engenharia da Computação Thiago Pina Soares, de 24 anos. Ele precisou sair de Belém (PA) para participar de um processo seletivo em uma empresa de Curitiba (PR). Só com passagem e hospedagem, Thiago pagou cerca de R$ 3 mil para fazer a segunda fase da seleção, valor que corresponde a metade do salário inicial oferecido pela empresa à vaga de Trainee. Foram quatro dias na capital do Paraná.

Thiago acabou sendo aprovado para a terceira etapa, também presencial, mas não teve como voltar a Curitiba. “Os voos do Norte do País são bem caros”, conta o universitário. “Pedi que abrissem uma exceção para o processo ser online, mas disseram que seria injusto com os demais concorrentes. Não pude ir por questão financeira.”

Em média, segundo levantamento da Catho, empresa que oferece serviço de vagas, pessoas que estão em busca de estágio ou trainee gastam cerca de R$ 300 ao mês. Esta conta leva em consideração gastos com transporte, alimentação, impressão de currículos e internet móvel. A empresa afirma, ainda, que os candidatos procuram emprego pessoalmente três vezes por semana, em média, o que pesa no bolso. Por dia, a média é de R$ 25. Agora, se for considerar a despesa com banda larga da residência, o custo é de mais R$ 50 ao mês, totalizando R$ 350. Se você quiser assinar o serviço premium do site de carreiras, acrescente pelo menos mais R$ 59,90, que é pacote inicial da Catho, somando R$ 410 mensais para buscar um emprego.

“No caso de alimentação, é mais econômico e mais saudável levar um lanche para não ter que gastar na rua”, aconselha a líder do site Infojobs, Ana Paula Prado. A página, também especializada em recrutamento, tem serviço gratuito e recursos pagos, que variam de R$ 32,90 (por mês, no plano anual) a R$ 62,90 (plano mensal).

Já o LinkedIn tem muitas de suas funcionalidades gratuitas. Mas dá para incrementar o seu perfil fazendo um upgrade de conta. O Premium Career, que custa R$ 49,99 por mês, já garante destaque e possibilidade de entrar em contato com recrutadores, além de se comparar a outros candidatos.

Há também como fazer uso do aplicativo SINE Fácil, do Ministério do Trabalho. A plataforma de empregos é gratuita e ajuda profissionais de diferentes áreas a se colocar ou recolocar no mercado de trabalho. A plataforma está disponível na Apple Store e na Play Store, via mobile.

Paula Esteves, da Cia de Talentos, ressalta que é preciso ter foco para reduzir o impacto dos gastos na busca por emprego. “É importante pensar nas empresas em que se tem real interesse, para aí sim investir no processo seletivo”, diz. “Às vezes, a pessoa se perde em meio a tantos processos, o que acaba não sendo tão proveitoso.” Segundo ela, os recrutadores estão começando a se conscientizar sobre essas dificuldades do lado do candidato, para redução de custos e maior eficiência. “As companhias de maior porte fazem os candidatos se deslocarem no máximo duas vezes.”

Mesmo diante de uma taxa de desemprego alta, como hoje no Brasil, em que cerca de 13,7 milhões de pessoas procuraram vagas no primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, é necessário manter a calma. “Os jovens tentam qualquer vaga e eu entendo o desespero”, afirma o diretor-geral do LinkedIn na América Latina, Milton Beck. Ele conta que costuma pedir que os jovens se coloquem no lugar do empregador. “Você acha que tem as características necessárias? Ou joga o nome para ver se por milagre alguém chama você?”, indaga Beck. “Esse método, geralmente, não dá certo. É melhor se candidatar a menos vagas, fazer networking, procurar vaga específica e entender mais sobre a empresa.”

A supervisora da área de Assessoria de Carreiras da Catho, Luana Marley, indica que o candidato olhe bem a descrição da vaga e veja se tem ao menos 70% das qualificações. “Precisa entender se tem o perfil da vaga”, diz.

Para quem desconfia dos sites de emprego e prefere tentar acionar as empresas que mais gosta diretamente, o superintendente nacional do CIEE, Luiz Gustavo Coppola, alerta que esta pode não ser a saída mais eficiente. “Não é produtiva a busca porta a porta. Hoje, as áreas de Recursos Humanos estão cada vez mais enxutas. Não têm condições de fazer o primeiro contato pessoalmente.”

Confira dicas de especialistas sobre como as redes sociais podem te ajudar na procura de vagas de emprego:  

Infográfico explicando os principais pontos para se sair bem nas redes sociais na hora de procurar emprego. São seis tópicos. O primeiro, chamado Auto-Imagem, fala que o ideal é ter consciência de que as pessoas estão atentas ao que se posta nas redes sociais. E finaliza com o questionamento: Pergunte-se: “O que eu quero mostrar para todo mundo?”. O segundo, chamado Sem Preconceito, explica que além de ilegais, posts assim pesam negativamente. No mundo corporativo, você vai estar em contato com muita gente e precisará saber lidar com a diferença. O terceiro, com o nome Comportamento, mostra que as empresas esperam de você ética e responsabilidade. Elas não querem que depois de contratados os funcionários demonstrem postura inadequada. O quarto, chamado Autenticidade, fala sobre não adiantar criar nas redes uma imagem diferente da realidade. Fora que, depois de contratado, você estará numa fria se o empregador descobrir a mentira. O quinto, com nome de Grupos e Fóruns, conta que participar desses espaços ajuda a formar rede de contatos. A ação é bem mais proveitosa quando você escolhe um grupo que tem a ver com a sua área de atuação. O sexto e último, chamado Conexões Fora da Tela, fala que, por mais que a 'vida virtual' influencie cada vez mais no desempenho profissional, participar de discussões e debates presenciais continua sendo uma tática eficiente. As fontes para o conteúdo foram as empresas Catho, Hays, Infojobs e LinkedIn.

Confira como utilizar da melhor forma a plataforma LinkedIn, segundo especialistas 

  • Perfil atualizado

Não sonegue informações. “A dica é colocar todas, não só as que acha importantes”, diz Paulo Silvestre, top 10 influencer do site. “Vai saber o que o recrutador quer!”

  • Networking

Siga empresas e notícias do seu setor. “Convide colegas que  trabalham no lugar que você almeja e personalidades da área”, diz Milton Beck, do LinkedIn.

  • Comentários

Curta, compartilhe, comente publicações. “O site valoriza quem se dedica à rede”, revela Silvestre. Isso ajuda a deixar o algoritmo do site satisfeito e aumenta as chances de seu perfil aparecer no topo da lista.

  • Saiba postar

No LinkedIn, tudo deve ser mais relacionado a aprendizado e a carreiras. “Não é uma rede para falar do churrasco no fim de semana, mas, sim, de qual curso deve fazer, onde procurar emprego”, diz Beck.

  • Opinião

“A cereja do bolo é publicar conteúdo na rede”, conta Silvestre. Produza posts, artigos e vídeos sobre os assuntos da sua área. Assim, os recrutadores começam a entender quem é você.