Arte com fundo na cor cinza e desenho de doze animais pintados de azul. No topo há a ilustração de um rato, boi, tigre, coelho, dragão e serpente. No meio da imagem está escrito, em branco, “horóscopo chinês e a economia do Brasil”. Na parte inferior da imagem estão enfileirados os desenhos de um cavalo, carneiro, macaco, galo, cachorro e porco.
Economista e especialista em astrologia chinesa falam sobre o que aconteceu de mais importante recentemente | Arte: Nathalia Fabro

O que o zodíaco chinês diz sobre a última década da economia brasileira

Cavalo envolvido na Lava Jato é só uma das coisas que você vai encontrar nessa viagem entre os signos e as contas do País

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Nos últimos dez anos, a economia brasileira foi do céu ao inferno. Entre o crescimento econômico de 7,5% em 2010 e uma recessão que deixou como legado o maior contingente de desempregados da história – 14,2 milhões de pessoas em março de 2017 segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, uma taxa recorde de 13,7% –, passaram tigre, dragão, coelho e até cavalo. Chegamos ao ano do cão, 2018, com uma eleição importante pela frente e sem poder dizer que a Taça do Mundo é nossa. Se você quer entender o que aconteceu de mais importante no Brasil e o que os animais têm a ver com isso, juntamos um economista e um especialista em astrologia chinesa. Com a ajuda do professor de história econômica Cesar Caselani, da Fundação Getulio Vargas (FGV), separamos os principais eventos na economia brasileira desde 2008 e algumas projeções para o próximo ano no País. Já o especialista em zodíaco chinês Luiz Raposo Almeida analisou a linha do tempo dos índices econômicos e acontecimentos políticos. Acompanhe:

2008 – Rato

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “rato. 07/02/2008 a 25/01/2009”. No lado esquerdo há o desenho de um rato, pintado de azul.

Apesar de pequeno, o rato “causou” em 2008, no início de um ciclo de 12 anos do horóscopo chinês. Naquele ano, o mundo se deparou com uma das piores crises financeiras após a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Os bancos americanos investiram em financiamentos imobiliários de segunda linha tendo os imóveis como garantia, o chamado “subprime”. O crédito era farto e a oferta de imóveis também. As pessoas de mais baixa renda não tinham como pagar suas hipotecas, e aquelas dívidas negociadas com os bancos estavam emprestadas a outros bancos e fundos de investimento mundo afora. Em setembro daquele ano o Lehman Brothers quebrou. No Brasil, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a situação era um tsunami nos Estados Unidos, mas que não passaria de uma marolinha por aqui. Mesmo assim, muitos investidores tiraram suas aplicações de empresas e títulos brasileiros.

2009 – Boi

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “boi. 26/01/2009 a 13/02/2010”. No lado esquerdo há o desenho de um boi, pintado de azul.

Para estimular o consumo e aquecer a economia, o governo brasileiro baixou os juros de 13,75% em outubro de 2008 para 8,75% dali um ano, e reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca. Só ficou sem fogão, geladeira e lavadora de roupa quem quis. Mas na hora de pagar a dívida… A taxa de inadimplência da pessoa física subiu para o maior nível da década até então, chegando a 8,6% em maio de 2009, segundo dados do Banco Central. O boi pedia muito esforço e trabalho duro para colocar a casa em ordem. Só que o que o País fez foi escolher uma opção rápida, testada em outros momentos de crise: consumo. A economia dos EUA (PIB) encolheu 2,4%, enquanto a do Brasil teve a primeira queda anual em 17 anos, para 0,2%. A China, esta sim, continuava inabalável, embalada por um crescimento de 9,2%.

2010 – Tigre

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “tigre. 14/02/2010 a 02/02/2011”. No lado esquerdo há o desenho de um tigre, pintado de azul.

Ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais, mas o que embalou os brasileiros não foi o ritmo de Shakira cantando Waka Waka na África do Sul na abertura da festa do futebol. O PIB do Brasil cresceu 7,5% em 2010, a maior expansão econômica em 24 anos. Com a economia bombando, a Petrobrás fez a maior capitalização da história e levantou R$ 120 bilhões no mercado para explorar o petróleo na camada pré-sal. O real, valorizado frente ao dólar (R$ 1,66), tornou o último ano de governo do ex-presidente Lula uma boa época para realizar o sonho de conhecer a Disney. O Tigre, regente de 2010, que representa força, iniciativas e conquistas, parecia ter tudo dominado. Esse é o animal que vai fazer com que os primeiros sinais de problemas sejam percebidos. Antes de o ano terminar, o País elegeu a primeira presidente da República: Dilma Rousseff (PT) recebeu 55 milhões de votos.

2011 – Coelho

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “coelho. 03/02/2011 a 22/01/2012”. No lado esquerdo há o desenho de um coelho, pintado de azul.

O Tigre ficou pra trás e começou o reinado do Coelho, signo da multiplicação. Na África e Oriente Médio, o que proliferou foi o número de protestos e revoltas que derrubaram ditaduras de longa data, marcando o que ficou conhecido como Primavera Árabe. No Brasil, o coelho indicou que era hora de se entregar às conquistas do ano anterior. Mas a inflação continuou subindo e terminou 2011 em 6,5%, no teto da meta do Banco Central. Foi um ano de juros em alta – Selic a 12,50% ao final de agosto – para segurar os preços. A economia desacelerou e o PIB teve crescimento de 3,9% pela nova metodologia do IBGE (antes da correção, havia sido de 2,7%).

2012 – Dragão

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “dragão. 23/01/2012 a 09/02/2013”. No lado esquerdo há o desenho de um dragão, pintado de azul.

Chega o ano do Dragão, signo que marca um período para desenvolver a sensibilidade. O dragão é considerado um dos melhores animais do zodíaco chinês por ser místico. “Ele tem muita força energética e não física”, diz Almeida. Na economia, o governo Dilma se concentrou em estimular o mercado interno com bondades tributárias. O IPI reduzido ajudou a indústria automobilística a vender um número recorde de carros. O Banco Central voltou a baixar juros e a Selic caiu para 7,25% em outubro, mas o estrago já estava feito. O crescimento desacelerou de novo, com o PIB em 1,9%. Mesmo assim, cerca de 3,5 milhões de brasileiros saíram da pobreza em 2012, de acordo com o IPEA.

2013 – Serpente

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “serpente. 10/02/2013 a 30/01/2014”. No lado esquerdo há o desenho de uma serpente, pintada de azul.

O clima começa a mudar sob a regência da Serpente, signo que tem a ver com a racionalidade e aparece para que as coisas voltem a andar no sentido positivo. Em junho, protestos iniciados com o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo ganham as ruas no País inteiro. As Jornadas de Junho ampliaram as reivindicações dos manifestantes para saúde, educação, segurança e combate à corrupção (eita, prepara que aí vem o bote!). O ano desse bicho é uma espécie de choque de realidade, continuando o ciclo do dragão. Alheia ao guizo da Serpente, a economia cresceu 3% e a inflação seguia controlada. Mas a taxa de juros (Selic) chegou a 10% e ajudou a alimentar incertezas e insatisfação.

2014 – Cavalo

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “cavalo. 31/01/2014 a 18/02/2015”. No lado esquerdo há o desenho de um cavalo, pintado de azul.

Esse foi o ano em que a crise chegou a galope. O Cavalo, regente de 2014, representa o sol do meio-dia, que não deixa nada encoberto. Em março, explodiram as primeiras denúncias da Operação Lava Jato, expondo a corrupção disseminada em Brasília (#nãovaiterCopa). Em junho, o Brasil era só verde e amarelo (agora vai, Brasil!) enquanto a economia patinava, os juros subiam e a inflação preocupava. O 7 a 1 não foi só na Copa do Mundo. Numa eleição acirrada, Dilma Rousseff foi reeleita para o segundo mandato na Presidência da República em um ambiente de crise aberta na política e na economia. Com juros em 11,75% em dezembro, a economia ficou praticamente estagnada e o PIB cresceu apenas 0,5% (no dado revisado pelo IBGE).

2015 – Carneiro

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “carneiro. 19/02/2015 a 07/02/2016”. No lado esquerdo há o desenho de um carneiro, pintado de azul.

Em 2015, o Cavalo foi rebaixado a Carneiro e desandou geral. Juros e desemprego em alta, PIB ladeira abaixo. A inflação volta à casa dos dois dígitos pela primeira vez em 13 anos e acumula alta de 10,67% no IPCA. A economia encolhe 3,8% e a recessão chega ao Brasil. O desemprego ficou em média no ano 8,5% e a taxa de juros fechou a 14,25%. A partir de 2015, a estimativa é que mais de 3,5 milhões de pessoas tenham deixado a classe C rumo à base da pirâmide de renda. No zodíaco chinês, o Carneiro representa o fim do verão, uma época usada para organizar coisas, principalmente as que foram feitas de qualquer jeito. “A energia disponível no planeta é para que as coisas que floresceram comecem a decair”, diz Almeida. Os escândalos da Lava Jato se multiplicam e expõem um governo sem força e o lado sombrio da política do toma-lá-dá-cá em Brasília.

2016 – Macaco

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “macaco. 08/02/2016 a 27/01/2017”. No lado esquerdo há o desenho de um macaco, pintado de azul.

Parecia que a macaca estava solta mesmo. Com a Presidente da República afastada e investigada pelo Congresso, recebemos atletas do mundo inteiro na Olimpíada do Rio de Janeiro. Se não levamos a Copa, levamos o ouro olímpico com a Seleção Brasileira de Futebol masculino e em outras seis modalidades. Na política e na economia, quem subiu ao pódio foi a crise. Em agosto, Dilma Rousseff sofreu impeachment e o ex-presidente Lula se tornou réu na Lava Jato. Como o Macaco representa agitação e movimento no zodíaco chinês, continuou “causando”: os ingleses aprovaram a saída do país da União Europeia e os americanos elegeram o republicano Donald Trump para suceder Barack Obama na Casa Branca. Fechamos o ano de novo em recessão (-3,6% o PIB), taxa média de desemprego em 11,5% e a taxa de juros em 13,75%.

2017 – Galo

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “galo. 28/01/2017 a 15/02/2018”. No lado esquerdo há o desenho de um galo, pintado de azul.

O ano chegou com a marca do Galo, o bicho da propaganda. O início da gestão de Michel Temer na Presidência alimentou expectativas de reformas no horizonte, especialmente da Previdência, para enfrentar o déficit nas contas públicas. O que nem todo mundo esperava é que o signo chinês de 2017 desse as caras tão claramente. “Galinha que canta como galo, corta-lhe o gargalo”, diz o ditado. A taxa de desemprego foi recorde em março, de 13,7%, com mais de 14 milhões de pessoas fora do mercado, segundo o IBGE. Em maio, o vazamento da delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, citava Temer e assessores próximos – uma bomba que afugentou investidores. O governo injetou R$ 44 bilhões na economia com a liberação de saque das contas inativas do FGTS. O galo cantou novamente para anunciar a volta do crescimento de apenas 1% – ok, pelo menos saímos da recessão. A inflação ficou mais baixa que o previsto – alta acumulada em 2017 de 2,95%, quando a meta fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) era de 4,5%. Lá fora, a moeda virtual Bitcoin explodiu e chegou a valer quase US$ 20 mil por unidade.

2018 – Cão

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “cão. 16/02/2018 a 04/02/2019”. No lado esquerdo há o desenho de um cão, pintado de azul.

O ano no horóscopo chinês é do Cão. “O ano do Cão é um período de final de ciclo”, explica Luiz Raposo Almeida. No primeiro trimestre, chegou ao fim a chance do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reverter a condenação de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o triplex do Guarujá. Em abril, o juiz Sérgio Moro pôs fim à liberdade do petista, numa novela transmitida ao vivo em rede nacional. O ano nem tinha chegado à metade quando acabou também a paciência dos caminhoneiros com os reajustes quase diários nos preços dos combustíveis pela Petrobras. Com as estradas lotadas de caminhões, tudo foi chegando ao fim: alimentos, remédios, combustíveis, aulas nas escolas, transporte público, e por aí vai. Teve Copa do Mundo. Não levamos a taça, mas vimos a volta para casa da Alemanha – nada como uma Copa após a outra. A inflação bem comportada derrubou os juros a 6,5%, um dos níveis mais baixos da história brasileira. Mas é melhor esperar pra comemorar: há uma eleição presidencial pela frente.

2019 – Porco

Arte: Nathalia FabroArte com fundo cinza e os escritos em branco “porco. 05/02/2019 a 24/01/2020”. No lado esquerdo há o desenho de um porco, pintado de azul.

O Brasil terá conhecido seu novo presidente. As reformas Fiscal e da Previdência seguem no jogo, mas não há garantia de aprovação. Para 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou que a economia do País pode expandir 2,5%. Mas o signo do ano é o porco – e ele nunca sugere muito otimismo. Correspondente ao inverno no horóscopo chinês, o animal representa que não é o momento ideal para plantar. O bicho deve levar, inclusive, mais atenção da população para casos de corrupção e desonestidade.