Ex-filiado do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Partido Social Liberal (PSL), o estudante Fábio de Lima, de 19 anos, não crê mais na participação partidária como o caminho para mudar o País. “Acabei acreditando mais na força de cada um do que em siglas.” Fábio não está sozinho nesse movimento. Juntas, as 14 legendas com pré-candidatos à Presidência sofreram redução de 44% em seus quadros jovens, com 168.634 filiados a menos na faixa de 16 a 24 anos, de acordo com levantamento feito pelo a partir de dados do TSE .
Para a reportagem foram considerados apenas os partidos que já tinham registro em 2010 e que até 12 de junho tinham pré-candidatos. Assim, ficaram de fora PPL, Rede, Novo e Solidariedade. Os únicos partidos que registraram aumento no quadro de jovens foram o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).
Hoje, os jovens estão em busca de formas de participação mais adequadas aos seus ciclos geracionais, sem necessariamente ter a rigidez dos partidos”, diz Eduardo Grin, cientista político da FGV
A estrutura burocrática e hierarquizada dos partidos é um dos fatores para a diminuição dos jovens, segundo Eduardo Grin, cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP). “Hoje, os jovens estão em busca de formas de participação mais adequadas aos seus ciclos geracionais, sem necessariamente ter a rigidez dos partidos”, afirma.
Atualmente associado ao Livres – movimento suprapartidário que já esteve abrigado no PSL-, Fábio acredita que sem a burocracia dos partidos suas possibilidades de atuação são maiores, com mais chances de chamar a atenção da sociedade civil. “Com as plataformas, percebemos que a participação política vai além do que se filiar a algum partido.”
A filiação ao PSDB, em 2015, quando tinha 16 anos – idade mínima segundo o TSE -, foi motivada pela vontade de renovar a política. Mas o pouco espaço dentro partido fez Fábio se desligar após um ano e meio. “Os mais velhos, ditos ‘cabeças brancas’, acabam anulando os jovens no partido”, critica.
Por causa da presença do Livres, Fábio se filiou ao PSL, do qual saiu quatro meses depois, com a entrada do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro. A saída não representa desinteresse pela política. “Os jovens continuam com essa força de vontade de querer melhorar o País, mas agora por meio de outros caminhos.”
Para o professor e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, a principal diferença entre os eleitores mais jovens e os mais velhos é o pragmatismo. “É muito mais difícil negociar com jovens do que com adultos mais velhos”, explica. “Acho que os jovens podem e devem ser o mais idealistas possível, mas é preciso um pouco de pragmatismo para mudar a realidade.” Janine também entende que a estrutura hierárquica dos partidos é um problema para os mais jovens, que não querem líderes. “Peguemos as marchas de 2013, por exemplo. Aquele ano foi uma espécie de 1968. O que todas aquelas manifestações tinham em comum? Não havia um líder que falasse por todo o movimento”, diz o ex-ministro.
A filiação partidária dos jovens é, segundo Eduardo Grin, importante para garantir o processo de renovação política, necessário em uma democracia. “Querendo ou não, é por meio dos partidos que se organiza o processo de escolha de representantes. O afastamento da juventude significa que estamos fortalecendo lideranças velhas”, diz.
É por isso que, mesmo sem estar de acordo com o PSL, o estudante de Direito e coordenador local do Students for Liberty Brasil Lucas Pagani, de 21, resolveu se filiar ao partido. Seu propósito é entender melhor os problemas de Umuarama (PR), cidade onde mora. “Minha permanência no partido é meramente local”, afirma. “Tenho de saber me situar na minha cidade. Não adianta querer mudar o mundo se você não se engaja na sua cidade.”
Exceção
Ainda no levantamento do Estado, o PSOL e o PSTU são as exceções à regra. No PSOL, o número de jovens praticamente dobrou, passando de 6.691 para 13.580 em oito anos. Já no PSTU, foi de 244 para 359 no mesmo período.
A estudante Flávia Silva, de 18, ajuda a entender o fenômeno. Filiou-se ao PSOL para entender melhor os mecanismos da política e acabou se surpreendendo positivamente. “Os filiados e militantes têm muita voz no partido”, afirma. “E os jovens têm participação bastante ativa”. A legenda tem 37% do quadro de filiados com menos de 34 anos, de acordo com os dados do TSE. No MDB, PT e PSDB, os três partidos com o maior número de filiados, esses eleitores somam 8,5%, 14%, e 12%, respectivamente.
Apesar da redução de jovens filiados a partidos políticos, os números gerais são positivos para as legendas. Considerando eleitores de todas as faixas etárias dos partidos analisados, houve aumento de 20% no total de filiados entre maio de 2010 e o mesmo mês deste ano. Apesar de os jovens não enxergarem a filiação e militância partidárias como a melhor maneira de exercer a cidadania, os eleitores mais velhos ainda seguem esta via.