Aglomerado de jovens estão na Avenida Paulista, em São Paulo, em protesto.
Jovens fazem manifestação contra a corrupção na Avenida Paulista | Foto: Leonardo Soares/Estadão-DATA?

Número de jovens filiados a partidos políticos cai 44% em 8 anos

Em números absolutos, legendas têm 168 mil militantes a menos, segundo levantamento feito pelo ‘Estado’ nas legendas com pré-candidatos à Presidência

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Gráfico em barras horizontais que correspondem à queda percentual do quadro de jovens filiados aos partidos políticos de 2010 a 2018. O quadro de jovens do Partido dos Trabalhadores caiu 76%. Do Democratas, 69%. Do Partido Popular Socialista, 58%. Do Movimento Democrático Brasileiro, 57%. Do Partido Democrático Trabalhista, 56%. Do Partido Republicano Brasileiro, 56%. Do Partido da Social Democracia Brasileira, 43%. Do Partido Comunista do Brasil, 42%. Do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, 34%. Do Partido Social Cristão, 32%. Do Partido Trabalhista Cristão, 27%. Do Partido Social Liberal, 10%. O quadro de jovem do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado aumentou 47%. E do Partido Socialismo e Liberdade, 103%.

Ex-filiado do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e do Partido Social Liberal (PSL), o estudante Fábio de Lima, de 19 anos, não crê mais na participação partidária como o caminho para mudar o País. “Acabei acreditando mais na força de cada um do que em siglas.” Fábio não está sozinho nesse movimento. Juntas, as 14 legendas com pré-candidatos à Presidência sofreram redução de 44% em seus quadros jovens, com 168.634 filiados a menos na faixa de 16 a 24 anos, de acordo com levantamento feito pelo a partir de dados do TSE .

Para a reportagem foram considerados apenas os partidos que já tinham registro em 2010 e que até 12 de junho tinham pré-candidatos. Assim, ficaram de fora PPL, Rede, Novo e Solidariedade. Os únicos partidos que registraram aumento no quadro de jovens foram o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).

Hoje, os jovens estão em busca de formas de participação mais adequadas aos seus ciclos geracionais, sem necessariamente ter a rigidez dos partidos”, diz Eduardo Grin, cientista político da FGV

A estrutura burocrática e hierarquizada dos partidos é um dos fatores para a diminuição dos jovens, segundo Eduardo Grin, cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP). “Hoje, os jovens estão em busca de formas de participação mais adequadas aos seus ciclos geracionais, sem necessariamente ter a rigidez dos partidos”, afirma.

Atualmente associado ao Livres – movimento suprapartidário que já esteve abrigado no PSL-, Fábio acredita que sem a burocracia dos partidos suas possibilidades de atuação são maiores, com mais chances de chamar a atenção da sociedade civil. “Com as plataformas, percebemos que a participação política vai além do que se filiar a algum partido.”

A filiação ao PSDB, em 2015, quando tinha 16 anos – idade mínima segundo o TSE -, foi motivada pela vontade de renovar a política. Mas o pouco espaço dentro partido fez Fábio se desligar após um ano e meio. “Os mais velhos, ditos ‘cabeças brancas’, acabam anulando os jovens no partido”, critica.

Por causa da presença do Livres, Fábio se filiou ao PSL, do qual saiu quatro meses depois, com a entrada do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro. A saída não representa desinteresse pela política. “Os jovens continuam com essa força de vontade de querer melhorar o País, mas agora por meio de outros caminhos.”

Para o professor e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, a principal diferença entre os eleitores mais jovens e os mais velhos é o pragmatismo. “É muito mais difícil negociar com jovens do que com adultos mais velhos”, explica. “Acho que os jovens podem e devem ser o mais idealistas possível, mas é preciso um pouco de pragmatismo para mudar a realidade.”  Janine também entende que a estrutura hierárquica dos partidos é um problema para os mais jovens, que não querem líderes. “Peguemos as marchas de 2013, por exemplo. Aquele ano foi uma espécie de 1968. O que todas aquelas manifestações tinham em comum? Não havia um líder que falasse por todo o movimento”, diz o ex-ministro.

A filiação partidária dos jovens é, segundo Eduardo Grin, importante para garantir o processo de renovação política, necessário em uma democracia. “Querendo ou não, é por meio dos partidos que se organiza o processo de escolha de representantes. O afastamento da juventude significa que estamos fortalecendo lideranças velhas”, diz.

É por isso que, mesmo sem estar de acordo com o PSL, o estudante de Direito e coordenador local do Students for Liberty Brasil Lucas Pagani, de 21, resolveu se filiar ao partido. Seu propósito é entender melhor os problemas de Umuarama (PR), cidade onde mora. “Minha permanência no partido é meramente local”, afirma. “Tenho de saber me situar na minha cidade. Não adianta querer mudar o mundo se você não se engaja na sua cidade.”

Exceção

Ainda no levantamento do Estado, o PSOL e o PSTU são as exceções à regra. No PSOL, o número de jovens praticamente dobrou, passando de 6.691 para 13.580 em oito anos. Já no PSTU, foi de 244 para 359 no mesmo período.

A estudante Flávia Silva, de 18, ajuda a entender o fenômeno. Filiou-se ao PSOL para entender melhor os mecanismos da política e acabou se surpreendendo positivamente. “Os filiados e militantes têm muita voz no partido”, afirma. “E os jovens têm participação bastante ativa”. A legenda tem 37% do quadro de filiados com menos de 34 anos, de acordo com os dados do TSE. No MDB, PT e PSDB, os três partidos com o maior número de filiados, esses eleitores somam 8,5%, 14%, e 12%, respectivamente.

Apesar da redução de jovens filiados a partidos políticos, os números gerais são positivos para as legendas. Considerando eleitores de todas as faixas etárias dos partidos analisados, houve aumento de 20% no total de filiados entre maio de 2010 e o mesmo mês deste ano. Apesar de os jovens não enxergarem a filiação e militância partidárias como a melhor maneira de exercer a cidadania, os eleitores mais velhos ainda seguem esta via.

Dois gráficos que comparam o número de jovens filiados a partidos políticos nos anos 2010, 2014 e 2018 com o número geral de filiados no mesmo período. No gráfico da esquerda, que mostra o número de jovens filiados: em 2010 eram 380841; em 2014 eram 225603; e em 2018 são 212207. Entre os filiados totais, em 2010 eram 8942294; em 2014 eram 9729617; e em 2018 são 10695391.