Richard Thaler, prêmio Nobel de Economia em 2017, é grisalho e veste terno cinza com camisa branca. Ele está sorrindo e mexendo no cabelo com a mão direita
Especialista recomenda que o dinheiro já saia automaticamente da conta para a poupança | Foto: Kamil Krzaczynski/REUTERS - 9/10/2017

Nobel de economia dá uma ‘aulinha’ para você acertar nas suas decisões financeiras

Richard Thaler, vencedor do prêmio no ano passado, diz que jovem é mais impulsivo nos gastos e dá dicas para evitar esse comportamento

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Se Richard Thaler conseguiu explicar em poucos minutos, em um filme de Hollywood, como funcionou o esquema que deu origem à crise de 2008 nos Estados Unidos, certamente ele não terá dificuldade para dizer o que você está fazendo de errado com o seu dinheiro. Até porque no ano passado ele ganhou o Nobel de Economia com isso.

Em A Grande Aposta, ele divide o momento teórico com nada mais, nada menos, do que Selena Gomez.

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Thaler é especialista em economia comportamental, área que estuda como as pessoas tomam suas decisões. A tese principal dessa linha parece óbvia à primeira vista: ninguém é totalmente racional. Longe disso. Só que até então a teoria econômica clássica tratava todos os seres humanos como 100% racionais, ou seja, capazes de sempre escolher o que faz mais sentido. E a história não é bem assim, correto?

No livro Nudge: o Empurrão para a Escolha Certa, que escreveu  com Cass Sunstein, Thaler chama os seres imaginários dessas teorias clássicas de Econs. Já as pessoas reais, com seus momentos de pouquíssima lógica, seriam os Humanos.

Kamil Krzaczynski/Reuters – 9/10/2017Richard Thaler é grisalho e está sorrindo para a foto. Ele veste terno cinza e camisa social azul
Antes de contratar algo, leia as letras miúdas, diz Thaler

Partindo do princípio de que nós somos irracionais, haveria formas de tornar os Humanos mais propensos a uma determinada decisão. Quer um exemplo? Se uma empresa que oferece plano de aposentadoria para os funcionários deixar a adesão como automática – ou seja, a pessoa só sai se pedir –, o número de trabalhadores que adere é muito maior do que se o funcionário automaticamente ficar fora e só entrar se pedir.

A forma como se oferece as opções é chamada por ele de “arquitetura da escolha”. Thaler diz que um “nudge” (ou empurrão/empurrãozinho/cutucão) é quando se oferece essas opções de uma forma que torna a pessoa mais propensa a escolher a que mais a beneficia.

O Por Minha Conta entrevistou Thaler e pediu para ele aplicar essa teoria nas finanças pessoais dos jovens. Como evitar os “empurrões” ruins? Como criar “empurrões” para você mesmo tomar as melhores decisões? E quais são as decisões irracionais que você costuma cometer? Ele explica tudo isso a seguir:

Quais são as ciladas mais comuns que os jovens costumam enfrentar nas finanças pessoais? E o que eles podem fazer para fugir delas, economizar mais dinheiro e usar melhor o dinheiro economizado? 
Jovens são propensos a cair em todas as armadilhas, já que a maioria é inexperiente e tem pouco treinamento formal. Os jovens também têm tendência a serem impacientes. Então, podem ter dificuldades para resistir à tentação de gastar agora. Para alguém de 20 anos, ter 40 é inimaginável. Por isso, é difícil pensar em metas de longo prazo. O primeiro passo é aprender como viver com um orçamento. Os pais podem ajudar ao dar uma pequena mesada para as crianças – aos 8 anos, digamos -, para elas se acostumarem a economizar.

O que os jovens podem fazer para dar “empurrões” neles mesmos e, assim, economizar mais dinheiro?
Quando se trata de economizar, a melhor estratégia é tornar as coisas automáticas. Assim que conseguir um emprego com alguma renda, você deve abrir uma conta poupança para a qual parte do dinheiro vá diretamente todo mês. Esse é um bom caminho em direção à economia para aposentadoria.

Economicamente, o que você acha que os jovens estão fazendo de errado nos dias de hoje?
O maior erro é sair da escola cedo demais. A educação é a melhor rota para o bem-estar financeiro. E não é tarde demais para remediar escolhas ruins. Consiga o máximo de educação que você conseguir, mas, antes de escolher o que estudar, pergunte-se que tipo de empregos os formados na área conseguem. E também pense se você gostaria de ter esse emprego. A vida já é dura o suficiente. Tente conseguir um trabalho que você goste de fazer e do qual se orgulhe.

Existem muitos casos em que o mercado – por meio da propaganda e afins – dá empurrões que fazem as pessoas tomarem decisões das quais provavelmente se arrependerão?
Sim. Eu sempre peço às pessoas para darem “empurrões para o bem”, mas empresas também podem dar empurrões por lucro. Eu chamo isso de “sludge”, uma prática que torna mais difícil para as pessoas tomarem boas decisões. Parte do papel dos governos deveria ser regular o sludge.

Quais são as melhores formas de se proteger contra os empurrões ruins?
Por mais doloroso que seja, você precisa aprender a ler pelo menos um pouco das letras miúdas – e jovens não têm desculpa, porque os olhos deles ainda estão bons! Faça perguntas como: o que acontece se eu quiser mudar de ideia? Eu posso cancelar a assinatura pela internet?

Existem bons empurrões que os governos podem dar nos jovens? O senhor conhece algum caso em que isso aconteceu com sucesso?
Bom, eu posso dizer algo que (infelizmente) não funcionou muito bem, que é educação financeira. Ensinar conceitos como juros compostos no ensino médio é louvável, mas não muito eficiente. O melhor treinamento é em cima da hora. Seria melhor que, antes de comprar o primeiro carro, a pessoa tivesse uma lição sobre vantagens e desvantagens de um empréstimo, por exemplo.

Será que a educação financeira não deu certo até agora, na sua opinião, porque foi ensinada de modo excessivamente teórico  ou porque os assuntos foram mal escolhidos?
O problema com cursos de educação financeira é que eles são dados antes de os alunos enfrentarem decisões complicadas, como contratarem um cartão de crédito ou comprarem uma casa. Os cursos não são ruins. O mundo é que é difícil e nós não nos lembramos muito do que aprendemos no ensino médio. O que você ainda se lembra de trigonometria?

Você acha que jovens são mais ou menos suscetíveis a empurrões do que os mais velhos? Eles são mais Econs ou mais Humanos?
Todos nós somos Humanos. Então, somos todos influenciados pela arquitetura da escolha e por empurrões.

É possível uma pessoa treinar para ser menos Humana e mais Econ? Caso seja, a pessoa deve fazer isso?
Bem, os Econs têm características boas e ruins. Eles são bons em matemática e são pacientes, mas também podem ser egoístas e não cooperativos. Então, as pessoas devem tentar ser o melhor dos dois. Aprenda a pensar como um Econ, mas também seja um membro útil da sociedade. Não seja um solitário! Faça a sua parte.