Gabriel tem cabelos encaracolados e óculos quadrados de armação preta. Ele segura o celular e tem feição triste.
Gabriel da Mata, de 14 anos, reclama de seu pacote de dados insuficiente | Foto: Gabriel da Mata/Arquivo pessoal

Negociar dá trabalho. Mas é melhor do que ficar sem internet no celular

Conversar com a operadora pode garantir o plano mais adequado para seu perfil de uso; perguntar sempre a senha do Wi-Fi também ajuda, não é?

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Dá para cortar lanche, café, cinema, mas poucos estão dispostos a abrir mão do celular. E se não é possível viver sem ele, o que você pode fazer é trocar o seu plano por um melhor e mais barato. E também garantir que, se algo acontecer com o seu aparelho, você não fique na mão. Para todas essas negociações, você vai ter de passar algumas horas na loja da operadora ou pendurado ao telefone. Sim, é chato negociar. Mas vamos combinar que o resultado vai valer a pena. Assim, você evita ficar sem internet bem na hora de confirmar o rolê ou subir aquela foto incrível no Instagram.

Vira e mexe, Gabriel da Mata, de 14 anos, fica sem 3G. Ele conta que o problema não está na velocidade de navegação, mas na franquia que se esgota na metade do mês. “O plano que eu uso varia entre R$ 50 a R$ 60 por mês. Quando estou fora de casa, entro no Instagram e acabo gastando bastante os dados. Aí, tenho de esperar até o próximo mês para acessar as redes sociais normalmente.”

De acordo com uma pesquisa global realizada pela Motorola, 38% das pessoas de 16 a 20 anos concordam que passam tempo demais utilizando o celular. Além disso, 49% afirmam que o aparelho é o seu melhor amigo.

“Esta geração tem muito o que fazer na internet. Hoje, diversos aplicativos de celular vêm fazendo parte da rotina, ainda mais para os jovens. Sendo assim, o consumo de dados móveis é crescente. Para esse público ficar offline não é bom”, diz o educador financeiro do Grupo The One, Uesley Lima.

Além do consumo de dados, os preços relacionados ao uso do celular também subiram. A alta acumulada de janeiro até dezembro de 2017 é de 6,04%, conforme medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE. Ficou, assim, acima da inflação geral do ano, que foi de 2,95%.

O levantamento Holistic View, da Kantar Worldpanel, publicado em julho, mostra que os gastos dos brasileiros com comunicação cresceram 5,1% em 2017 na comparação com o ano anterior. De acordo com o estudo, a alta foi impulsionada pelas contas e planos de serviços.

Os planos pré-pagos são os que mais fazem sucesso com o público jovem. Pessoas de 18 a 24 anos representam 19% dos que contratam esse serviço. E é justamente essa categoria que demonstra ter mais problemas como cliente das operadoras para entender como seus créditos são gastos. De 0 a 10, a nota para esse quesito segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é de 6,03. O número fica próximo da média de satisfação dos usuários dos planos pré-pagos, de 6,83, ainda segundo a agência.

Mas as operadoras estão no topo da lista de reclamações dos consumidores em geral. No primeiro trimestre de 2018, quatro empresas de telefonia celular estavam no Top 10 da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP).

Como resolver

Insatisfeito? Antes de mais nada é importante conversar com a sua operadora e traçar um panorama do seu consumo real de dados. Normalmente, a empresa indica o melhor plano para o seu histórico de consumo. “Caso a empresa que você utiliza não ofereça esse serviço, é a hora de mudar”, diz Lima.

Outra opção é usar um aplicativo para levantar seu perfil de consumo de dados. O Call Meter, por exemplo, é um app que mostra as estatísticas de tudo o que você usa no seu aparelho. Assim, é possível definir limites de gastos para cada função. Para saber mais sobre a ferramenta, acesse em outra aba o site do Call Meter. O Liga+, por sua vez, identifica de qual operadora são os números da sua agenda, o que ajuda a não gastar em ligações para as quais o seu plano não tem tarifas especiais. Acesse o portal do Liga + em outra guia para ver mais informações.

Nessa mesma linha, o app Meu Plano ajuda a encontrar serviços mais indicados para seus hábitos de consumo. Com 50 mil downloads no Brasil, ele atua exatamente na falha entre o que os clientes gastam e o que seus planos oferecem. “No Brasil, 80% das pessoas vivem essa diferença famosa de expectativa e realidade na conta do celular”, diz Sergio Wainer, sócio investidor da startup. Ele explica que a grande dificuldade em comparar as opções desse mercado está na variedade de planos disponíveis.

Por meio de acordos com as empresas de telefonia e terceirizadas de vendas, o Meu Plano permite a negociação do pacote escolhido. Com a função de conferência de conta, você pode fazer o upload do seu boleto e pedir que o app confira se o que está sendo cobrado é de fato o que foi gasto, no caso da opção pós-paga. Para entender as funções do aplicativo, acesse em outra guia a página do Meu Plano.

E que tal o seguro?

Ele foi seu sonho de consumo por meses a fio e nem está pago ainda. Aquele smartphone novinho em folha agora é seu. Mas e se ele cair na rua ou for furtado da sua mochila, como é que você fica? Só em São Paulo, três celulares são levados por hora, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) bloqueou 1,6 milhão de linhas telefônicas em 2017.

E não há diferença entre classes sociais: tanto nas classes A e B quanto nas demais (C,D e E), a proporção de vítimas é de 49%, segundo a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box com internautas brasileiros que já tiveram o celular roubado ou furtado nos últimos doze meses. Esse índice aumentou: na pesquisa anterior, referente a junho de 2017, o porcentual era de 39%.

Para não ficar sem o aparelho, escolher um seguro é uma opção. Só que é preciso encarar o preço, que costuma ser de 35% a 50% do valor do smartphone, dependendo do modelo e da frequência de roubo do modelo.

A procura por seguros para celular também cresce. O prêmio (valor pago pelos clientes) nessa modalidade foi 70% maior em 2017, chegando a R$ 900 milhões, de R$ 530 milhões em 2016, segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg). “Estimamos que mais de 350 mil celulares serão repostos ou reparados em 2018”, diz Marco Garutti, presidente da Comissão de Seguro Garantia Estendida e Afinidades da FenSeg.

Há também seguros cooperativos, em que os beneficiados ficam encarregados de fazer uma “vaquinha” para criar um fundo para ressarcir furtos ou roubos. É o caso da startup Pier Digital, que por enquanto cobre apenas Iphone. Funciona da seguinte forma: quando uma pessoa quer participar, ela solicita um convite na plataforma e precisa providenciar alguns dados, para que seja feita a análise de risco de furto. Após confirmada a participação é necessário pagar um valor que varia entre R$ 11,90 e R$ 99,90 mensais, dependendo do telefone segurado.

Yan França teve seu telefone roubado enquanto esperava um Uber na região da Rua Augusta. “Eu estava na calçada, com o telefone na mão, quando um carro parou do meu lado e a pessoa que estava no banco do passageiro puxou o aparelho da minha mão”, conta. O jovem enviou um e-mail para a Pier e recebeu instruções para enviar o boletim de ocorrência. Com o que recebeu de reembolso, Yan adquiriu um celular novo, só que não era Iphone. “Quando eles começarem a proteger Android, com certeza voltarei a usar o seguro.”

A maior parte dos seguros para celular é oferecida no ato da compra diretamente pela loja. Também pode ser do tipo “garantia estendida”, um seguro para cobertura de possíveis defeitos ou problemas que aconteçam após o término do prazo de garantia determinado por lei. Alguns planos também de seguradoras permitem ressarcimento do valor em dinheiro pago pelo aparelho caso não exista outro similar no mercado.

Plano: usar bem o celular

Para garantir que o seu pacote dure até o fim do mês, confira essas dicas

  • Qual a senha do Wi-Fi: Peça sempre a senha do Wi-Fi de onde você estiver. Não fique tímido. É melhor perguntar do que ficar sem fazer selfies até o fim do mês
  • Só o importante: Use o 3G/4G para coisas realmente necessárias, como se comunicar com amigos e família
  • Família, dá um tempo: Programe o seu aplicativo de mensagens para não baixar fotos e vídeos automaticamente. As mensagens de “bom dia” da família acabam com o seu pacote de dados
  • Menos notificações: Dá para programar o seu celular para não enviar notificações de todos os seus aplicativos. Assim, a tentação de usar o 3G a cada nova curtida diminui