Um time de futebol inteirinho poderia ser formado apenas pelos colegas da casa onde Natália Bressan, de 25 anos, morou em 2013. O imóvel em Bauru, no interior paulista, era dividido por nada menos que 11 pessoas, com cobrança diferente de aluguel, dependendo do tipo de quarto ou suíte que haviam escolhido. As contas se tornavam ainda mais complexas porque a casa tinha jardim e piscina, itens que representam despesa na certa – e que despesa. Isso além dos gastos com luz, água e IPTU.
Sabe quem administrava a tal casa-com-jardim-e-piscina-e-muitos-gastos? Sim, Natália, que na época tinha apenas 20 anos e estudava Engenharia de Produção. Era ela que praticamente vestia a camisa das atendentes de telemarketing e caprichava na hora de lembrar os colegas de pagar o aluguel e outras despesas. “Não era fácil administrar todo o dinheiro”, lembra Natália. “Morando em 11, eu tinha de cobrar para pagar tudo em dia.”
Para não ser surpreendida ao longo do mês, ela também mantinha uma “caixinha”. “A gente usava para gastos que não estavam previstos, como o gás que acabava”, conta. “Era mais fácil pagar um pouco a mais antes, algo como R$ 50, do que arcar com o custo em cima da hora. Às vezes, a pessoa não tinha o dinheiro. Ainda mais universitário, né?”
A jovem parecia estar em alerta, desde aquela época, para o dado divulgado no último dia 11, pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que aponta que mais de 4,4 milhões de jovens com idades entre 18 e 24 anos estão inadimplentes no Brasil.
Acesse o site da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas para ler mais sobre o número de pessoas negativadas no mês de setembro.
E agora você deve estar se perguntando: o que esse número tem a ver com a vida em repúblicas estudantis? Caso não haja organização, é possível que o fiador do “apê” ou o responsável pelas contas fique com o nome pendurado, alerta o consultor financeiro Jonatha Souza. “A relação precisa ser objetiva, como a de negócios, os cálculos têm de ser abertos e as contas, expostas com muita transparência”, diz o especialista. “Pode parecer invasivo, mas, se as pessoas estão morando juntas, é preciso conhecer a realidade das demais.”
Tudo nosso
No lar, doce lar onde residem Lana Scott, Lara Duarte e Pedro Pereira, a dinâmica é “familiar”. Segundo o jovem de 23 anos, estudante de Ilustração, não há regras bem definidas. “As contas dentro de casa, de limpeza e comida, são feitas de um modo meio comunista”, explica. “Quando falta, alguém vai e compra. Ninguém fica cobrando o dinheiro de ninguém.” O trio mora no bairro da Liberdade, em São Paulo, e se esforça para manter as contas em dia.
O consultor Souza diz que essa contabilidade mais solta não é das melhores. Bem mais adequado é dividir tudo na ponta do lápis, bem vintage mesmo. “Evita que alguém pague mais ou menos do que o outro. Ninguém precisa sustentar ninguém. A relação tem de ser saudável para todos.” A sugestão do especialista é fazer a divisão pelo valor total dos gastos – e não pelo tipo de conta. Ou seja, nada de querer ficar com a conta mais barata e deixar o “parça” com o IPTU.
Dividir exatamente as despesas já é uma realidade na casa onde mora a universitária Luisa Curvello, de 22 anos, na Vila Mariana. Além das contas comuns, como aluguel, luz e internet, ela e sua colega racham a manutenção do apê. “Tem uma faxineira que vem uma vez na semana e a gente divide assim: uma semana eu pago, na outra, ela paga”, conta a estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Compras, cada uma faz a sua. A gente nunca discutiu, estamos nos dando bem.”
Lembra da Natália Bressan, que administrava a casa das 11 pessoas? Pois é… Ela acumula no currículo passagem por cinco repúblicas. Em três, ela assumiu o papel de administradora. Pedimos para Natália dividir aqui sua experiência.
Leia aqui a transcrição do áudio da Natália Bressan.