Montagem de diversos cartões mesada e pré-pagos. Da esquerda para a direita: sorriso da Mônica da Turma da Mônica, personagem do jogo God of War, bandeira do time Atlético Paranaense, cartão decorado com corações e a hashtag Teen Card, personagens do jogo Angry Birds, bola de futebol com o escudo do Flamengo, cartão com fundo roxo e bolinhas coloridas, cartão laranja com galhos de árvore, cartão da Capricho com cactus coloridos, cartão azul com o símbolo do Acesso Card, a letra A com um risco na frente, e cartão azul com o desenho de uma onda do mar.
Feitos para cair no gosto de jovens e adolescentes, cartões são ilustrados por personagens e times | Arte: Guilherme Sette/Estadão

Cartão pré-pago agora concentra o dinheirinho da mesada

Praticidade e facilidade para controlar gastos são vantagens, mas é preciso ficar atento às taxas cobradas por bancos e operadoras

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Você tem visto colegas pagando com um cartãozinho de débito na cantina da escola ou no caixa do fast-food do shopping? Muito provavelmente, é um cartão mesada ou pré-pago, tão simples de conseguir que alguns são vendidos até em supermercado. Se você está pensando em pedir um igual para seus pais, saiba que eles têm prós e contras, como quase tudo na vida, aliás.

Na época da faculdade, Vitória Zanata, hoje com 23 anos, teve um pré-pago, que usava para suas despesas em Bauru. “É mais seguro ter a mesada no cartão do que em dinheiro e é também mais fácil. Você não precisa sacar”, diz a engenheira recém-formada. “Minha mãe fazia os depósitos pelo celular.”

Por outro lado, ela conta que tinha dificuldade de saber exatamente quanto dinheiro já havia gasto e a quantia ainda disponível. “Em um ponto me atrapalhou, porque quando se usa o dinheiro em papel e ele acaba, você percebe melhor.” Vitória usou o pré-pago dos 18 aos 20. E só parou quando teve de abrir uma conta corrente para receber uma bolsa de iniciação científica pela universidade.

O funcionamento do cartão é bem simples. Basta carregar com um determinado valor e começar a utilizar. Quando não houver mais saldo, nada feito. Ele não vai passar a compra e você terá de fazer uma recarga.

Somente a bandeira Visa incluiu “mesada” no nome do produto. Para as demais operadoras de cartão e para os bancos, se trata apenas de um cartão pré-pago, que também pode ser usado em outras situações, como em viagens internacionais ou para presentear alguém. Mas claro que há uma tentativa de chamar a sua atenção: há cartões da Turma da Mônica, da Capricho, do jogo God of War. Os times de futebol também não foram esquecidos, claro.

Só que essa praticidade de usar o débito tem um preço. A recarga do pré-pago do Itaú, por exemplo, chega a R$ 15, enquanto o cartão-mesada Visa cobra R$ 9,80 por saque realizado. Não é preciso ter conta corrente para adquirir um pré-pago que não esteja vinculado a um banco.

Tabela com as taxas dos principais cartões pré-pago e mesada. Confira as taxas: Cartão Mesada Visa Capricho e Turma da Mônica: Emissão: 24 reais e 90 centavos. Recarga: 3 reais. Saque: 9 reais e 80 centavos. Tarifa: 4 reais e 90 centavos por mês. Segunda via: 25 reais. Extras: Recarga mínima de 20 reais. Cartão pré-pago Itaú. Emissão: 15 reais. Recarga: 15 reais. Saque: 6 reais e 50 centavos. Tarifa: 4 reais e 50 centavos por mês. Segunda via: 15 reais. Extras: Saque no exterior é cobrado 3 unidades da moeda local (dólar ou euro, por exemplo). Cartão Pré Pago Ourocard Banco do Brasil. Emissão: 10 reais. Recarga: Grátis. Saque: 5 reais. Tarifa: 5 reais por mês. Segunda via: 10 reais. Extras: Cobrança de tarifa no saque a partir do terceiro saque no mês. Cartão MasterCard Acesso. Emissão: 14 reais e 90 centavos. Recarga: 2 reais e 50 centavos. Saque: 7 reais e 50 centavos. Tarifa: 5 reais por mês. Segunda via: 9 reais e 90 centavos. Extras: Recarga gratuita acima de 500 reais. Cartão Bradesco Buxx. Emissão: 5 reais e 20 centavos. Recarga: 2 reais. Saque: 5 reais. Tarifa: 34 reais e 80 centavos por ano. Segunda via: 5 reais e 20 centavos. Extras: Válido também no exterior.

Além das opções pré-pagas, é possível usar o cartão de uma conta da poupança, que pode ser criada com qualquer idade. Tanto para a conta da poupança quanto para usar um cartão pré-pago, é preciso ter um CPF vinculado, que pode ser o seu próprio ou de um de seus pais. As taxas para usar o serviço do cartão-poupança são menores. Pedir segunda via do cartão custa R$ 8,50, por exemplo. Já o extrato pode ter uma taxa de até R$ 3. A transferência entre contas custa R$ 1,20, mas você tem até quatro saques mensais de graça – a partir disso, a cobrança é de até R$ 2,50 por operação.

Uma das vantagens apontadas pelos pais é o fato de poder substituir o cartão, se a criança perder o pré-pago. Não dá para fazer o mesmo com as notinhas de real entregues como mesada. “Primeiro, comecei a dar em dinheiro”, conta a empresária Cláudia Reis, que usa cartões para os filhos gêmeos de 12 anos. “Só que eu percebi que o dinheiro nessa idade ainda é complicado: a criança coloca no bolso e perde, não sabe no que gastou.”

Cláudia acredita que ambos ficaram mais organizados financeiramente depois do cartão. “O conselho de anotar os gastos em um caderninho não funcionava, eles não tinham controle do dinheiro”, diz a empresária. “O controle dos gastos com o pré-pago é melhor. O extrato fica no site: é só entrar e olhar. Fora que criança adora tecnologia.”

Seja com dinheiro físico ou por meio do cartão, o relevante é o aprendizado, diz o professor de finanças Joelson Sampaio, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  “A criança precisa errar para aprender. Por exemplo, ver que gastou em algo sem necessidade e ficou faltando para coisas importantes.” Ele recomenda apenas que a iniciação financeira não seja feita somente no meio digital. “Com o dinheiro em espécie, a pessoa tem a ideia do capital, do meio de troca. Desenvolver essa consciência é uma questão mais psicológica do que financeira.”

Sampaio pondera ainda que, com o pré-pago, não dá para saber se a criança ou o jovem está tomando atitudes financeiras corretas porque desenvolveu essa habilidade ou porque tem a consciência de que os pais podem acompanhar os gastos no cartão.

Vitória, já maior de idade, não se incomodava com o fato de os pais terem acesso aos seus gastos. “Eles sempre foram de boa com isso, não ficavam de olho”, conta a engenheira. “Até porque, nunca comprei nada de errado.” Já Cláudia opta pelo diálogo com os filhos, que não têm autorização para fazer compras que ela não aprove. “Eles conversam abertamente comigo, falam o que querem e o que estão fazendo.”

Entre os adultos, a substituição do dinheiro pelos cartões veio para ficar. Em 2017, o valor total movimentado por cartões superou a quantia sacada em dinheiro nos caixas automáticos pela primeira vez, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs). A pesquisa, divulgada em março, apontou ainda que 32% dos pagamentos foram realizados por meios eletrônicos em 2017. A quantia transacionada no ano, R$ 842,6 milhões, supera em 11% o total de reais movimentados em cartões em 2016.