A grana para o ônibus vai em um envelope e a da comida, em outro. Um terceiro reúne o que se pode gastar com lazer e ainda tem aquele que ajuda você a separar algo para investir no fim do mês. Para quem está começando a se planejar financeiramente, métodos que permitem ver fisicamente o dinheiro saindo podem ser melhores do que lidar com a abstração da coluna de uma planilha. É aí que entra o uso de envelopes ou mesmo de potes de vidro com a descrição de cada despesa, duas das formas mais conhecidas.
“A ideia dos envelopes é para uma pessoa que tem menos disciplina financeira”, diz o educador financeiro Ricardo Natali, da DSOP. “Ela vai precisar de um elemento físico para fazer essa divisão de gastos.” Para seguir essa técnica é necessário dividir o que você ganha em envelopes específicos, destinados a diferentes gastos. Dependendo do seu estilo de vida e das suas responsabilidades, você pode dividi-los em categorias como moradia, saúde, educação e supermercado, por exemplo.
Mas como saber qual quantidade exata de dinheiro se deve colocar em cada envelope? Natali aconselha fazer da seguinte forma: gastos com moradia devem ficar entre 25% e 30% do salário. Já despesas com saúde e alimentação consomem entre 15% a 20%. Para transportes é preciso reservar de 5% a 10% do que você ganhar. A categoria bem-estar, que inclui lazer, academia e doações, fica com de 30% a 35% da verba.
Também não se pode esquecer o envelope dos investimentos. É necessário deixar ali no mínimo 10% do salário – se conseguir, 20%. “Separar uma parte da renda para investir é fundamental”, afirma o planejador financeiro. “Assim você faz o dinheiro render para facilitar a realização dos sonhos de curto, médio e longo prazos.”
Natali explica que a categoria bem-estar pode ser usada como coringa, em meses que você extrapolar as reservas de algum outro envelope. Isso porque ela é a mais flexível. “É a categoria que mais pode variar. Se você gastar muito com alimentação ou com moradia naquele mês, você diminui a porcentagem do bem-estar”, diz o planejador.
Só não é legal usar sempre esse recurso, deixando de lado os momentos de diversão. “Os gastos fixos têm de estar adequados ao bolso de cada um, para sobrar dinheiro para o bem-estar também.”
Foi usando o método dos envelopes que a desenvolvedora de softwares Nicole Borchardt, de 24 anos, aprendeu a se organizar financeiramente. Ela dividia o dinheiro em categorias como faculdade, alimentação, gasolina, despesas pessoais e poupança. “A intenção era separar os valores e, na hora que acabasse o dinheiro de um envelope, eu não podia mexer mais para não sair do teto de gastos”, conta.
Mais experiente, hoje Nicole passou a usar planilhas para controlar as finanças, mas recomenda o método dos envelopes. “Para quem está começando a se organizar, é uma maneira bem visual para saber quanto você gasta por mês com cada coisa.”
A ideia de dividir o dinheiro por categorias pode ser aplicada também em casos especiais, como uma viagem ou um período de intercâmbio, por exemplo. Foi o que fazia a bacharel em Relações Públicas Carolina Ferreira, hoje com 30 anos, nos três anos em que morou na Irlanda. Ela adaptou a técnica e separava a grana em uma bolsinha mesmo – e não em envelopes.
“A cada semana, eu juntava para o aluguel, para fazer viagens e para a renovação dos vistos. Assim, nunca me apertava com os pagamentos. Pelo contrário, costumava ter o dinheiro antes”, diz Carolina. Para ela, poder ver o dinheiro fazia toda a diferença. Não só o que saía, mas também o que estava entrando. “Eu via as quantias aumentando e ficava motivada.”
Se for para ver mesmo o dinheiro que entra e sai, a ideia de usar potes de vidro ou plástico transparente pode ser uma boa. A estudante Ana Gomes, de 26, utiliza essa técnica para poupar. Ela se desafia a cada semana a guardar um pouco mais no pote. “Na primeira semana, guardo R$ 2. Na segunda, R$ 4 e assim sucessivamente”, conta. “Coloco tudo ali e depois gasto uma parte com alguma coisa que eu queira e outra eu poupo.”
Além da visualização física do dinheiro, outro passo fundamental para controlar as despesas é anotar os gastos. Para o educador financeiro Natali, uma boa forma de começar é registrar as saídas de dinheiro durante 30 dias, pois muitas pessoas não sabem com o que estão gastando. “Desta forma, existe uma mudança de hábito. Com a repetição da tarefa nos próximos meses, você já sabe exatamente quanto se pode gastar no mercado, no aluguel, entre outros, e segue o planejamento”, diz, reforçando a importância de registrar todas as despesas. “É importante anotar tudo, desde uma compra no cartão de crédito até um café na padaria.”