Gabrielle Lobo posa entre dois cabideiros de roupas. Ela está apoiada na parede e veste um vestido preto sem mangas com comprimento até o joelho, casaco jeans amarrado na cintura, relógio prateado e brincos grandes de argola. O cabelo dela é preto e está solto. Ela sorri.
Gabrielle Lobo uniu as suas paixões por moda e viagem e criou o brechó Global Street Fashion | Foto: Gabrielle Lobo/Arquivo Pessoal

Aquele 1%: jovens investem pouco em brechós, mas são clientes potenciais

Falta de experiência para notar as boas oportunidades de negócio é a principal razão, segundo especialista do Sebrae

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Desapegar de roupas que saíram de moda ou não cabem mais parece ser uma boa forma de faturar, correto? Sim, correto. Mas são poucos os jovens que decidem encarar os brechós como oportunidade real de negócio. Tanto é que apenas 1% dos empreendedores deste ramo tem entre 18 e 24 anos. Isso em um mercado que só faz crescer no País. De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o comércio de artigos usados teve alta de cerca de 70% em quatro anos.

Para o consultor Bruno Zamith de Souza, do Sebrae SP, a baixa presença de pessoas mais novas à frente de brechós ocorre porque elas ainda têm dificuldade de perceber as chances de negócio. “Quem é mais ativo no mercado já está mais desenvolvido na carreira e consegue identificar um empreendimento viável”, afirma Souza.

O cliente não olha mais só o preço e isso provocou uma revitalização dos brechós antigos, ajudando a tirar a imagem que eles tinham de velhos, mal cuidados e com cheiro de mofo”, fala Bruno Zamith de Souza, consultor do Sebrae.

Além de viável, é um negócio que combina com as gerações mais jovens, preocupadas com o consumo sustentável, segundo o especialista. “Além da economia, eles buscam uma experiência de compra com produtos de segunda vida”, diz Souza. “O cliente não olha mais só o preço e isso provocou uma revitalização dos brechós antigos, ajudando a tirar a imagem de velhos, mal cuidados e com cheiro de mofo.”

Com pinta de it girl do Pinterest, Gabrielle Lobo, de 24 anos, é uma das poucas jovens que se atreveram a cruzar o lado do balcão e fazer da paixão um negócio. Formada em Comunicação, ela abriu em Brasília o Brechó Global Street Fashion. O empreendimento é uma junção do interesse pela moda consciente e da vontade de viajar pelo mundo.

Ao lado da sócia Jessica Behrens, Gabrielle desenvolveu o conceito de brechó itinerante. “Gosto de conhecer novas culturas”, diz. “Fazemos um estudo do que as pessoas estão vestindo para entender como elas enxergam a moda e buscamos peças em brechós de cada país.” Com isso, a A Global consegue até lançar coleções, inspiradas em países como Argentina, Espanha e Tailândia. “Acho que já existe roupa o suficiente no mundo e há muita coisa boa que é de segunda mão”, afirma a empresária.

Brechós de moda feminina, como o Global Street Fashion, são predominantes no mercado de artigos usados, com quase 90% dos empreendimentos. E elas também são as donas do pedaço: 97% desses empreendimentos são administrados por mulheres.

Bruna Jacquier /Arquivo PessoalBruna Jacquier está em pé apoiada numa parede. Ela é morena, possui cabelos longos e usa batom vermelho. Ela usa uma saia preta justa, camiseta florida e casaco marrom. Ela possui a tatuagem de busto feminino na perna direita.
Bruna Jacquier fundou o Fatty Girl Clube Brechó, que vende online roupas plus size

Formada em psicologia, a paulistana Bruna Jacquier também é das que apostam no desapego como fonte de renda. Só que ela decidiu fazer isso no mundo virtual. A jovem de 24 anos administra sozinha o Fatty Girl Clube Brechó, especializado em roupas plus size, que usa o Instagram como vitrine. “Tomei essa decisão pela falta de peças para vender num espaço físico”, conta Bruna. “É difícil encontrar roupas para garotas gordas. Geralmente, os brechós só tem até a numeração 46.”

Apesar de não lidar com as contas de uma loja física, Bruna enfrenta outros desafios no empreendimento. “Preciso me organizar para tirar fotos, comprar as peças e pensar nos valores”, diz a paulistana. “Às vezes há divergência de horário das entregas e o preço da condução ainda reduz o lucro.”

Lojas virtuais são minoria entre os brechós. Segundo o Sebrae, apenas 17% do comércio de roupas usadas é feito online, embora mais de 80% dos empreendimentos usem a internet para fazer propaganda dos produtos.

Em Brasília, a publicitária Mariana Casceli, de 25, começou a frequentar brechós para reduzir os gastos depois que ficou desempregada. “Antes, quando tinha que comprar roupas eu preferia ir ao shopping. Agora vou somente em brechós, bazares e lojas de marcas locais.”

Mariana Casceli/ Arquivo PessoalMariana Casceli segura o filho, um bebê, no colo. Ela veste calça jeans, camiseta branca e óculos escuros. O cabelo dela é castanho e está solto. A criança veste macacão preto com o símbolo do personagem Batman, um morcego, e usa meias brancas. Eles estão sobre a grama e ao lado há uma represa.
Mariana Casceli fez bazar para repassar as roupinhas que não serviam mais no filho

A mudança na forma de consumir também influenciou sua visão de vida. Quando as roupinhas do filho de Mari não serviam mais, ela resolveu vendê-las para incrementar a renda. A iniciativa teve bom retorno e a incentivou a organizar, com a irmã, um evento local de troca e venda de itens usados. “Foi feito apenas com desapego das pessoas para aproximar a comunidade. Queremos dar continuidade ao ciclo das roupas”, afirma Mari.

5 dicas de cursos para empreendedores iniciantes:

  • Empretec: fortaleça suas habilidades como empreendedor

Desde 1993, o Sebrae busca desenvolver características de comportamento empreendedor usando no curso uma metodologia da ONU. Cerca de 258 mil pessoas já participaram. Acesse o site do Sebrae para mais informações.

  • Empreendedorismo Criativo

O curso é oferecido pela Perestroika, uma Escola Livre de Atividades Criativas com sede em cinco capitais do País. Com um viés criativo e uma pegada subversiva, as aulas buscam explorar o lado empreendedor e a inovação. Confira mais informações no site da Perestroika.

  • Gestão de Desenvolvimento de Produtos e Serviços

Oferecido pela plataforma Veduca, o curso online e gratuito é ideal para empreendedores que buscam tirar ideias do papel. As aulas são ministradas pelo professor especializado em Engenharia Mecânica Henrique Rozenfeld, da Universidade de São Paulo (USP). Veja mais sobre o curso no site do plataforma.

  • Curso de Empreendedores Mirins

Direcionado para jovens de 12 a 17 anos, o curso busca despertar o interesse pelo empreendedorismo nos mais novos, usando técnicas e tecnologias atuais, como Whatsapp e games. O curso tem duas modalidades: presencial em São Paulo e online ao vivo. Saiba mais do curso no site da ComSchool.

  • Princípios da Estratégia de Negócios

O curso busca mostrar estratégias de negócios a partir de ferramentas como análise SWOT, concorrente, ambiental, etc. As aulas online são oferecidas pela Universidade de Virginia (EUA). Apesar de serem ministradas em inglês, há legendas em português. Acesse o site do Coursera para mais detalhes do curso.