Cinco hambúrgueres dispostos lado a lado sobre uma mesa de madeira. Fundo preto. O pão de um dos hambúrgueres é roxo, outro é vermelho. Todos os lanches têm queijo
Empreendedor investiu em um cardápio variado, com opções de frango e para vegetarianos | Foto: Rafael Campos/Divulgação

Acha que sua ideia de negócio é a galinha dos ovos de ouro?

Confira uma checklist de perguntas obrigatórias para se pensar antes de investir tempo e recursos em seu projeto, do público-alvo ao financiamento

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Sabe aquela ideia de negócio que você teve quando estava rolando na cama e que promete ser o fim dos boletos atrasados? É normal se empolgar com ela, ainda mais quando encontramos no Google casos de pessoas que ficaram milionárias ao investir em um sonho.

Mas empreender não é tão simples. Aproximadamente um em cada quatro negócios fecha no País antes de completar dois anos, segundo o último estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil, realizado em 2016

Como é possível diferenciar uma ideia que realmente tem tudo para dar certo de uma cilada? Como diferenciar a galinha dos ovos de ouro daquela que renderá, no máximo, belos omeletes?

Arte: Pedro Prata/EstadãoGrupo de palavras consideradas essenciais para um bom empreendedor. As palavras são: persuasão, persistência, autoconfiança, pesquisa, planejamento, iniciativa, comprometimento, network, metas
Fonte: Daniel Palacios, gerente regional do Sebrae-SP

Coordenador do MBA em Empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcus Quintella diz que é comum as pessoas se  deixarem levar pela euforia. “Todo mundo acha que a sua ideia é a melhor do mundo, mas é preciso separar a paixão da razão. Primeira coisa: não se apaixone pela sua ideia.”

O risco de uma empresa fracassar pode ser agravado quando o jovem não pesquisa nem se informa sobre as características de seu negócio e do mercado em que pretende atuar, explica o coordenador regional do Sebrae, Daniel Palacios.

“Um problema comum entre os jovens é a empolgação em excesso. Só porque pesquisaram algo na internet ou viram um tutorial no YouTube, acham que já estão prontos”, conta Palacios. “É preciso ter humildade, entender que um negócio não é brincadeira.”

Confira um check list de perguntas que você deve fazer a si mesmo antes de colocar sua ideia à prova:

 

O que há de semelhante ao meu produto no mercado?

Quintella explica que uma ideia bem-sucedida não é necessariamente a mais inovadora ou exclusiva no mundo. Na verdade, boa parte dos negócios começa a partir de ideias já existentes.

“A primeira coisa que é preciso fazer é pesquisar para saber o que você tem igual, quais são as suas concorrentes e como é o mercado que você vai atingir”, diz o coordenador da FGV.

Estudante de Arquitetura na Universidade Federal Fluminense (UFF), Rafael Campos, hoje com 23 anos, fez esse tipo de análise quando decidiu transformar a paixão por hambúrgueres em fonte de renda, há dois anos. Como não tinha experiência no setor, pesquisou à sua maneira, visitando lanchonetes que estavam à venda. “Assim, eu podia ver como era a cozinha e perguntar por que não tinha dado certo”, conta Rafael.

Qual é o diferencial do meu produto?

A partir deste aprendizado, o universitário decidiu investir em um cardápio variado, com opções de frango e para vegetarianos, e na identidade visual do negócio. “Contratei um designer para refazer dos uniformes ao logotipo”, diz Rafael. “Ele ainda teve a ideia de desenvolver personagens para cada hambúrguer.”

Ter essa diferenciação é considerado essencial para se ter sucesso. De acordo com relatório feito pelo Sebrae sobre a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil (colocar o link), entre os principais fatores para o fechamento de negócios nos dois primeiros anos de vida estão a falta de investimento no aperfeiçoamento e no diferencial dos produtos.

Foto: Rafael Campos/DivulgaçãoHambúrguer com pão, farinha, carne, alface, queijo, cebola caramelizada e batatas rústicas de acompanhamento. Lanche sobre uma mesa de madeira e fundo de tacos de madeira.
Rafael Campos fez da paixão por hambúrgueres o seu negócio

Vale sempre lembrar que concorrente não é apenas o que vende o mesmo produto que você, mas sim aquele que pode tirar a atenção do seu produto e substituí-lo, segundo Quintella, da FGV. Ou seja, se você vai abrir uma loja de milk shakes, provavelmente vai dividir o público com a lanchonete de sucos que fica ao lado, entendeu?

Qual é o meu público-alvo?

Outro passo importante é definir o público-alvo de seu produto ou serviço. Até porque esta decisão ajuda a escolher o melhor lugar para abrir o negócio – com mais chance de de atrair clientes – ou onde buscar interessados.

“Como a gente queria causar um impacto social, buscamos nosso público nas áreas de periferia”, conta Lucas de Carvalho, de 21, que foi sócio da startup Striker. O aplicativo, que surgiu associado a um projeto no Facebook, dava orientação profissional a jovens que desejavam entrar no ensino superior ou técnico e estavam em dúvida sobre a área de atuação. “Então, todo evento que a gente realizava, geralmente era relacionado a escolas públicas.”

Pensar e pesquisar as características de seu mercado consumidor permite ao jovem empreendedor realizar campanhas destinadas a ele de forma mais assertiva, afirma Daniel Palacios, do Sebrae. “O público mais jovem é uma parcela da população que está ligada em redes sociais. Vale a pena fazer um investimento para ter um canal no YouTube para divulgar o meu produto?”, indaga.

3_FOTOO estudante de direito Lucas Carvalho apresenta seu projeto chamado "Striker". Ele está com um microfone na mão e camiseta onde se lê "Striker", nome do projeto.
Lucas Carvalho durante evento da startup Striker

Qual é o investimento financeiro que eu terei de fazer?

Como a startup desenvolvida por Lucas e dois amigos era destinada a jovens de regiões periféricas, eles optaram por não cobrar o serviço de seus clientes. Os recursos para manter o negócio viriam de parcerias com universidades e empresas. E essa foi a parte complicada, pois os três não chegaram a conseguir montar essa rede. Como estavam desempregados, os empreendedores se viram forçados a engavetar o Striker depois de sete meses de atividade.

Que aprendizado você pode tirar desta experiência? O principal é que você precisa se questionar com franqueza se tem possibilidade de se manter financeiramente (e manter a empresa também) até a ideia dar certo. Segundo especialistas, é necessário que esta previsão já esteja no plano de negócios, que precisa traçar um cenário realista de receitas e despesas.

Lucas, por exemplo, tinha consciência de que projetos de impacto social levam mais tempo, na média, para atrair recursos. Mas ele e os sócios acreditaram que conseguiriam segurar a estrutura até os primeiros resultados começarem a chegar.

“É importante lembrar que o papel aceita tudo. Ou seja, qualquer projeção de receitas que você fizer, certamente será otimista demais”, afirma Quintella, da FGV. No caso de negócios que envolvam produtos, lembra o especialista, é necessário ainda pesquisar se a quantidade que quer vender e os valores que você quer cobrar são viáveis para o consumidor.

Estar atento às despesas necessárias para abrir e manter o negócio também é fundamental. E é justamente aí que muitos empreendedores falham, segundo Palacios, do Sebrae. “A pessoa descobre que tem uma série de investimentos para fazer e vai fazendo sem olhar a conta no final. É aí que ela se enrola financeiramente.”

Outro conselho básico, mas que sempre é bom relembrar: não misture despesas e receitas pessoais com as da empresa. Trocando em miúdos, nada de usar o que entrou no caixa do seu empreendimento para pagar a mensalidade da faculdade.

Eu tenho o conhecimento necessário para administrar uma empresa?

Marcus Quintella esclarece que empreendedor é aquele que tira uma ideia do papel e transforma numa empresa. A partir desse momento, ele deixa de ser empreendedor e passa a ser empresário, algo que exige novas e diferentes aptidões.

“Nessa hora entram os conceitos de gestão, é outro mundo. Muitos gestores são empreendedores porque já estão na gestão e vão procurar expandir e inovar seu produto. Porém, não necessariamente o bom empreendedor vai saber gerir o negócio”, diz o coordenador do MBA em empreendedorismo da FGV.

O País testemunhou, nos últimos anos, a expansão do empreendedorismo por necessidade. Se você tem urgência porque está desempregado ou não quer mais depender dos pais, o conselho é ter cautela.

“O imediatismo é uma característica do jovem. O recomendável é estudar como gerenciar uma empresa antes de abrir o negócio”, avalia Palacios. “No entanto, se ele quer ou precisa abrir logo sua empresa, que faça isso de uma maneira muito modesta e com o pé no chão.”

Lembra do Rafael Campos, que queria trabalhar com hambúrgueres? Pois ele seguiu essa dica à risca. Começou apenas fazendo eventos. Hoje, já tem um container fixo em um food park. Rafael ainda não tem formação empresarial, mas procura se aprimorar a cada dia. “Meu pai, que sempre trabalhou com vendas, veio ajudar nessa parte”, diz o empreendedor. “Estou trabalhando nisso, a cada mês eu faço um balanço do que é preciso melhorar para que a parte financeira fique redonda.”

Arte com os quatro fatores comuns para o fechamento de uma empresa. São eles o fato do empresário estar desempregado antes de abrir o negócio; empresários que abriram o negócio por necessidade ou que tiveram pouco tempo para planejar; empresários que possuíam pouca experiência no ramo de seu negócio ou que não investiram na própria capacitação; e empresários que não conseguiram empréstimos, não inovaram e não souberam controlar as receitas e despesas