Uma das primeiras e mais importantes universidades da terceira idade do País, a entidade atrelada à Uerj não consegue arcar com os custos básicos para se manter. A redução de 60,68% dos recursos repassados pelo governo do Estado obrigou a instituição a reduzir de 150 para 20 as atividades oferecidas aos alunos, cortando de 3 mil para 200 o número de vagas disponíveis. E não parou por aí. A universidade teve ainda de interditar elevadores, encerrar contratos, diminuir salários e demitir funcionários para continuar atendendo seus alunos.

Os recursos repassados à instituição vêm caindo desde 2016. No ano passado, a dotação orçamentária foi de R$ 1,124 bilhão, mas apenas R$ 767,4 milhões chegaram à Uerj. Para este ano, conforme a Lei do Orçamento Anual (LOA), o valor destinado é de R$ 1,113 bilhão. Porém, a Secretaria da Fazenda estadual libertou somente R$ 301,7 milhões aos cofres da universidade, uma redução de 60,68% em um ano.

Aluna da UnATI há 19 anos, a funcionária pública federal aposentada Iaracy Lins, de 86 anos, é figura carimbada nos corredores da universidade. Mas, com as greves semanais e o agravamento da crise no Estado, ela começou a perder as esperanças. “Temos de levar garrafa de água, porque os bebedouros estão secos, e até mesmo papel higiênico.” A limpeza não está sendo paga, conta o diretor Renato Veras. “Sabemos que se essas pessoas não forem cuidadas, o tempo e a qualidade de vida delas vão diminuir muito. Mas é uma luta que não tem fim, não vamos deixar essa peteca cair.”

Veras diz que com a redução dos recursos ficou difícil manter o curso e o nível de qualidade do serviços. “Vivemos uma crise muito séria. Perdemos 28 dos 60 funcionários e professores que tínhamos. No setor de saúde, que atuava juntamente com o de educação e cultura, perdemos médicos, nutricionistas e fisioterapeutas.” A situação é tão complicada que a UnAti não tem dinheiro para comprar folha sulfite. “É um absurdo, não é? Uma instituição, reconhecida pela OMS como programa modelo, onde seu diretor tem de comprar papel para imprimir os textos dos alunos.”

Para economizar, o uso dos elevadores foi limitado. Essa restrição impediu o acesso dos idosos ao 10º andar do prédio, onde fica a UnATI. Com problema no nervo ciático, Iaracy teve de cancelar algumas aulas. “Não pude comparecer à disciplina de psicomotricidade e memória. Não tinha elevador, apenas escada, e não consigo usá-la.”

Uma maneira de incentivar os alunos a irem às aulas foi transferi-las para o térreo. “Reduzimos as oficinas e agora priorizamos visitas a exposições e realizamos Café Literário, cine debate e atividades lúdicas no jardim”, diz a coordenadora de Projetos de Extensão da Uerj, Sandra Rabello.

A queda da qualidade do ensino e da redução do número de cursos oferecidos não impede que Iaracy e seus colegas continuem dispostos a continuar. “Os professores são maravilhosos. Lá é um lugar para encontrar amigos e esquecer das doenças. A nossa vontade é tanta que enfrentamos tudo isso.”

“A Uerj está resistindo. Não estamos perdendo nossa essência, mas o sacrifício é grande”, diz a diretora de administração financeira da universidade, Maria Thereza Lopes de Azevedo. Ela conta que os pagamentos de salário começaram a declinar no ano passado. Até o diretor está sem receber. “Tenho cinco meses de uma bolsa atrasados, além de décimo terceiro e três salários pendentes”, diz Veras.

A Sefaz do Rio de Janeiro confirma que o benefício salarial de 2016 não foi pago aos servidores da Uerj e alega que a exceção foram os aposentados e pensionistas que têm remuneração bruta de até R$ 3.200. Ainda não há previsão para o pagamento para os demais funcionários. Apesar da insatisfação por parte dos professores da universidade, o governo estadual diz valorizar esses profissionais. “Desde o início de 2010, houve aumentos de salários para os professores da instituição que variaram entre 43,7%, no caso dos professores adjuntos, a 73,3%, para professores associados”, informou a Sefaz, por meio de nota.

De acordo com o órgão, no último ano os repasses não ocorreram em sua totalidade “devido à crise nas finanças estaduais, provocada pela significativa queda na receita de tributos em consequência da depressão econômica do País, pelo recuo na arrecadação de royalties e a redução dos investimentos da Petrobrás”.

Segundo Veras, falta apoio. “Há interesse político, porque o idoso é o grupo etário que mais cresce. Políticos acham que o idoso só vai dar voto. É preciso fazer projetos interessantes, qualificar pessoal e investir.”

A crise não é generalizada

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP) criaram, também em 1993, suas respectivas Universidades Abertas à Terceira Idade. Mas, diferentemente da Uerj, as duas vivem uma situação financeira mais confortável.

Mesmo dependendo do repasse do governo estadual, a USP, no mesmo período, conseguiu ampliar sua capacidade de atendimento. Atualmente, trabalha com um público que varia de 7 mil a 9 mil idosos por ano. Para Egídio Dorea, que coordena o programa, esse tipo de iniciativa precisa oferecer liberdade de horários e cursos variados, moldados à curiosidade dos alunos. “Idoso não é tudo igual, eles não têm os mesmos interesses.” Por isso, a USP oferece mais de mil cursos aos ingressantes.

O crescimento da população idosa de Belo Horizonte motivou a UFMG a criar sua própria Universidade para a Terceira Idade. Diferentemente da Uerj, a instituição mineira oferece apenas um curso semestral para 50 pessoas. As aulas, divididas em quatro grandes temas (envelhecimento e saúde, movimento e qualidade de vida, aspectos psicológicos e sociais e cotidiano e cultura), acontecem duas vezes por semana, das 14h às 17h. Segundo a coordenação, a procura pelo serviço é grande e, por isso, é comum as classes terem até 70 alunos.

A universidade arca com o custo de bolsas de estudo para quem não tem condições de pagar o curso. Aos que podem, é cobrada uma mensalidade de R$ 50. “Se eles não tiverem condições, tudo bem. Continuamos funcionando normalmente”, explica Marcella Guimarães Assis, uma das coordenadoras da Universidade para a Terceira Idade. Em decorrência da crise econômica brasileira, o número de alunos não-pagantes aumentou. “Apesar disso, a UFMG continua oferecendo a mesma quantidade de atividades.”

No Brasil, existem cerca de 160 instituições de ensino superior públicas e privadas com programas de educação voltados para a terceira idade, segundo a Associação Brasileira das Universidades Abertas para a Terceira Idade (Abrunati). Apesar de terem os mesmos objetivos, isto é, incentivar a autonomia da pessoa idosa e reverter os estereótipos associados ao grupo, as universidades adotam métodos pedagógicos diferentes.