Por terem mais familiaridade com a tecnologia, os brasileiros entre 20 e 40 anos — que representam 45% dos usuários de internet no País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — acabam se arriscando muito no mundo virtual. Os jovens são mais propensos a compartilhar fotos privadas e até nudes, de acordo com um levantamento da empresa de segurança digital Kaspersky na América Latina, divulgado em maio deste ano. Do total, 67% dos entrevistados entre 16 e 24 anos admite essa prática.

“As pessoas se arriscam. Você avisa: sua foto vai vazar. E elas não ligam”, diz o especialista em inovação Sílvio Meira, professor associado da FGV-Rio e Pesquisador-Sênior do Senai. “Se a gente fizesse software como deveria ser feito, primeiro nos preocuparíamos com a segurança. Depois, colocaríamos as funcionalidades em cima. Mas como é que é feito? Funcionalidade e usabilidade primeiro.”

Muitas destas fotos e outros conteúdos impróprios partem do celular. De todos os usuários brasileiros, 89% acessam a rede por smartphones, de acordo com o IBGE. “O mobile traz uma sensação de intimidade, que faz com que as pessoas se comportem com maior exposição, devido a uma falsa sensação de proteção e anonimato”, diz o diretor de prevenção da Safernet, Rodrigo Nejm.

Essa sensação de anonimato dá margem ao crescimento da intolerância e do discurso de ódio, cujos alvos principais são mulheres, LGBTs, negros e minorias. “Na internet valem todas as leis. Pena que tem gente que acha que é a terra da impunidade absoluta”, diz Nejm, ressaltando que cada indivíduo é legalmente responsável por seus atos também no mundo online. Mas como evitar a intolerância? “Não há como. Um abuso acontece por conta do abusador, não da vítima. Os mecanismos que existem para coibir são os de denúncia”, explica a especialista em comportamento e cultura digital Ana Freitas.

Grande parte desses compartilhamentos ocorre em redes sociais, como o Facebook, que no dia 27 de junho anunciou ter atingido a marca de 2 bilhões de usuários no mundo, sendo 117 milhões no Brasil. Para Ana Freitas, a empresa cria um espécie de condomínio fechado na rede. “Muitas pessoas acham que a internet se resume a essa rede social.”

Para se proteger contra crimes virtuais ou invasão ao dispositivo, é importante mesclar soluções técnicas com uma postura preventiva, tanto na navegação como no compartilhamento de dados pessoais. “A gente sabe que andar na rua pode ser perigoso, mas nem por isso vamos deixar de andar. A gente anda, mas toma certos cuidados. Na Internet é parecido”, explica Francisco Cruz, diretor do InternetLab, centro de pesquisa em direito e tecnologia. Ele acredita que é preciso educar a população para conseguir essa mudança de mentalidade.

“A partir do momento em que temos mais equipamentos conectados, maior velocidade de conexão, que estamos conectados por mais tempo e compartilhamos mais informações, mais sujeito estamos às características, tanto boas quanto más, das tecnologias usadas”, resume a analista de segurança do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert.br), Miriam von Zuben.

DICAS PARA SE PROTEGER

Usar senhas complexas e diferentes por serviço. Há softwares que podem adivinhar senhas fáceis na base de tentativa e erro. Isso é mais fácil se o usuário utiliza dados pessoais, aos quais o hacker tem acesso. Às vezes, as empresas não têm consciência de que foram invadidas ou demoram a notificar os afetados. Enquanto isso, hackers compram, vendem ou trocam listas de usuários, sem que eles estejam cientes.

Ativar a autenticação em duas etapas. Senhas não são mais suficientes. Empresas como Facebook e Google oferecem aos usuários um camada extra de proteção desde 2011. Depois de preencher a senha, o usuário precisa dar uma segunda autorização, a partir do celular. É necessário, portanto, ter o aparelho em mãos antes de acessar a conta.

Estar sempre atualizado. Mantenha ativadas as atualizações automáticas. Os programas e aplicativos são atualizados com frequência por conta das falhas de segurança. E os programas de proteção, como softwares antivírus, precisam estar sempre em dia.

Faça backup. A melhor maneira de se precaver de vírus como o WannaCry, que criptografa informações dos computadores infectados para tentar cobrar um resgate, é fazer backups dos dados regularmente.

Desconfie. Seja cuidadoso ao clicar em links, independente de onde foram recebidos e de quem os enviou. Na dúvida, o melhor é segurar a curiosidade e não clicar. Tenha um pé atrás com preços muito baixos e promoções que parecem boas demais para ser verdade. É preciso considerar que mesmo que a mensagem venha de conhecidos, ela pode ter sido enviada de contas falsas ou invadidas.

Pense duas vezes. Como você já deve saber, é impossível apagar algo da internet. Isso é motivo mais que o suficiente para que você pense bem antes de declarar opiniões fortes ou postar conteúdos que possam vir a ser polêmicos, como nudes. Não se deixe levar pelo calor do momento e reduza os riscos, utilizando os controles de privacidade.

Ligue para sua privacidade. Há quem não se importe de compartilhar informações pessoais, usando o argumento de que “não deve nada a ninguém”. Não é bem assim, privacidade é também um direito. Grandes empresas digitais, como Google e Facebook, dão recomendações aos usuários para proteger suas informações. É importante investir algum tempo para aprender a lidar com isso. Leia mais orientações sobre privacidade na cartilha do Cert.br.