Fernanda seguiu para a Tunísia. Marina escolheu o Egito. Países com muitas atrações turísticas, sem dúvida. Mas a principal motivação de ambas não era visitar os bazares e as belas mesquitas, ou as pirâmides famosas. As duas queriam fazer o bem. E investiram tempo e recursos em programas de intercâmbio social.

A viagem da estudante paulistana Fernanda Matos, de 23 anos, foi em 2014. Seu destino foi a cidade tunisiana de Nabeul, onde ela ensinou inglês para crianças. “Comecei minha busca pelo melhor programa com duas coisas em mente: gostaria de trabalhar com crianças e queria ir para um país que eu nunca tinha pensado em visitar ou que não iria normalmente”, explica. “Acabei me candidatando para três projetos, um no Sri Lanka, um na Indonésia e outro na Tunísia.”

As crianças tunisianas com quem teve contato eram de diferentes idades e tinham pouca experiência com o idioma inglês. “Foi um desafio grande. Mas também muito lindo ver o vínculo e a intimidade que fomos criando com os alunos ao longo das semanas”, lembra Fernanda. “Fomos superando as barreiras linguísticas e culturais.” A estudante, que sempre gostou de viajar, voltou ao Brasil encantada com a Tunísia. “Fui sem saber quase nada do país e voltei apaixonada pela cultura, pelas pessoas, pela culinária de lá e pelo projeto de voluntariado. Conheci tudo de uma forma que dificilmente conheceria em uma viagem turística normal.”

Projetos de intercâmbio social têm atraído a atenção de jovens brasileiros. Só a Aisec (Uma organização não governamental formada por jovens), a que mais promove esses programas no País, manda 7 mil voluntários por ano para programas de voluntariado. Os destinos mais comuns são o Egito, Peru, Argentina e México. Para participar, é preciso ter ao menos 18 anos e estar matriculado em uma universidade - a idade média dos voluntários fica na faixa entre 20 e 30 anos.

Durante o projeto, é o intercambista que arca com custos como passagem, acomodação, alimentação, seguro viagem e despesas pessoas, além de eventuais taxas. Segundo a diretora de Relações Públicas e Universidades da Aiesec, Gabriela Brasil, o voluntário gasta cerca de R$ 4 mil.

Ele já deixa o Brasil sabendo o que vai fazer no destino. As atividades variam desde dar aulas de inglês para crianças a até ajudar em hospitais. Também existem países onde o foco é ajudar em programas de preservação ambiental.

Nunca é desnecessário lembrar que não se trata de uma viagem de entretenimento. Quem reforça isso é a publicitária de São Paulo Marina Guedes, 23 anos, como Fernanda, ela também aprovou sua experiência em uma creche, no Egito. “Você tem de estar bem aberto para o que vier, não é glamour”, conta Marina. “Mas no geral é muito bom, você conhece outras pessoas e diferentes culturas. Aprende a ser mais independente e vê que o mundo não é aquela bolha em que a gente vive.”

Marina Guedes - Arquivo Pessoal
Marina Guedes em seu primeiro intercâmbio para o Egito

Além da Aisec, outras empresas promovem programas de intercâmbio social. A Central do Intercâmbio, a Exchange do Bem e Experimento também oferecem esses serviços.

Confira outros programas de trabalho que fazem sucesso com os mais jovens:

Au pair

O que é?
O programa é a principal escolha das jovens que decidem estudar e trabalhar no exterior. Nessa modalidade, a intercambista vive com uma família e ajuda a cuidar das crianças da casa, como se fosse uma babá. O trabalho é remunerado. Representante da STB, Bruno Contrera diz que o Au Pair é uma forma de economizar o intercâmbio. E acaba sendo atraente em tempos de crise. Na empresa, a procura por esse pacote registrou alta de 15% no primeiro trimestre de 2017, comparado com o mesmo período do ano passado.

Quem pode fazer?
Mulheres entre 18 e 26 anos, com o ensino médio completo. Também é fundamental ter o inglês pelo menos no nível básico e gostar de crianças. Algumas empresas exigem que a intercambista tenha experiência trabalhando com crianças e carteira de motorista internacional.

Quem presta esses serviços?
Por ser uma das modalidades mais procuradas pelos intercambistas, o Au Pair é encontrado nas principais empresas de intercâmbio, como na Central de Intercâmbio, STB e Cultural Care Au Pair.

Quanto custa?
Entre taxas e passagens, o programa sairá por volta de R$ 4 mil. Parte desse custo será recuperado com o trabalho remunerado. Para os Estados Unidos, o salário é de US$ 195,75 semanais, além de uma bolsa de estudos de US$ 500 dólares. Há um dia e meio de folga semanal, um fim de semana inteiro de folga por mês e duas semanas de férias remuneradas.

Quem fez:
A secretária Thais Rodrigues, de 27 anos, foi Au Pair em Dublin, na Irlanda, em 2013. “Sempre tive facilidade para lidar com crianças. Além de aprender inglês, que era meu objetivo, aprendi sobre a cultura Irlandesa e convivi com uma rotina e costumes completamente diferentes dos brasileiros”, lembra. “A experiência me fez crescer bastante.”

Thais Rodrigues - Arquivo Pessoal
Thais Rodrigues em Dublin, na Irlanda

Disney Cultural Exchange Program

O que é?
Oferecido pela Disney para estudantes do mundo inteiro, o programa inclui cursos de idiomas e a oportunidade de trabalhar nos parques da empresa durante as férias.

Quem pode fazer?
É preciso estar pelo menos no segundo semestre na universidade, ter mais de 18 anos e inglês fluente.

Quem presta esse serviço?
No Brasil, quem faz a intermediação entre a Disney e os estudantes é a STB. Ela organiza o processo seletivo.

Quanto custa?
Não existe um valor fixo. O intercambista é o responsável pelo pagamento da passagem, do seguro viagem e da taxa para obter o visto. Também existe uma taxa de US$ 354, 50, que deve ser paga antes do embarque. O intercambista recebe o valor de 10 dólares por hora trabalhada e deve trabalhar pelo menos 30 horas por semana.

O que faz o intercambista?
Eles realizam funções de atendimento ao público. É possível que o trabalho seja em lojas, lanchonetes e restaurantes do parque. Também há funções de organização nas atrações ou ajudante de limpeza. Alguns podem ser convidados a atuar como personagens ou auxiliando os personagens.

Quem fez:
A estudante paulistana Fernanda Fantinel, de 23 anos, gostou tanto da experiência que já participou duas vezes do programa. A primeira foi em 2014 e a mais recente, em 2016. “É uma vivência diferente de quem vai lá para visitar. No intercâmbio, você tem contato com gente do mundo todo”, conta Fernanda. “Eu nunca tinha viajado muito, nem ido para a Disney. Então, foi unir o útil ao agradável.”

Fernanda Fantinel- Arquivo Pessoal
Fernanda Fantinel durante o intercâmbio na Disney