Vinhos de brasileiros no exterior


José Luiz Pagliari


Vinhos para a aposentadoria

Texto: Marcel Miwa, especial para o Estado
Foto: JF. Diório/Estadão
O especialista em vinhos José Luiz Pagliari começou sua apresentação explicando a razão para escolher o tema pouco comum de vinhos estrangeiros produzidos por brasileiros. “Nas outras edições do evento Paladar - Cozinha do Brasil - sempre focava em vinhos brasileiros. Esta foi a forma que encontrei para apresentar diferentes estilos e tipicidades”.

Antes de começar a degustação, Pagliari questionou os motivos que levam brasileiros a produzir vinhos fora de sua região de origem. “Em muitos casos são planos que se concretizam pós-aposentadoria, pessoas que já possuíam o vinho presente em suas vidas e querem se envolver com sua produção”. O enólogo chileno Mário Geisse, presente na plateia, complementou dizendo que “o dono de vinícola normalmente é um ser inquieto, que procura algo diferente para fazer e ambiciona a perfeição. Mas no final, sabemos que as pessoas ficam nos lugares que amam, algo muito maior que só produzir vinho”.

O primeiro vinho apresentado foi o Les Clos des Grandes Vignes Sauvignon Gris + Blanc 2011 (R$ 82,00, importado pela JefsVinus) do casal Eric e Aurea Recchia. Neste caso, o vinhedo de seis hectares em Oisly, região de Touraine, no Loire, é o resultado do plano de aposentadoria do casal franco-brasileiro. Em 2009, eles decidiram plantar um hectare da rara variedade Sauvignon Gris para colaborar na complexidade dos vinhos. O vinho é leve, fresco, com apenas 12,5% de álcool que mal se notam. As notas predominantes são de aspargos, grapefruit e ervas frescas, envolvidas por uma sutil referência de cítricos confitados.

Partindo para a ala dos tintos, o segundo vinho foi o toscano Tenuta Podernovo Teuto 2007. O corte de 95% de Sangiovese com 5% de Merlot foi desenvolvido por Monica Rossetti, enóloga da Lidio Carraro. Com 30 anos de idade, ela traz no currículo mais de 25 safras trabalhadas (a conta não está errada, Monica trabalhava duas colheitas por ano, uma no hemisfério sul e outra no hemisfério norte) e iniciou sua experiência internacional em 2003. Além de diretora técnica da vinícola brasileira, Monica Rossetti trabalha como consultora enológica em uma empresa italiana de enologia. O vinho apresentado foi fermentado em tonéis de carvalho, seguido de estágio de 12 meses em barricas e tonéis de carvalho. Mantendo a tipicidade da Sangiovese, o vinho apresenta notas de frutas vermelhas e negras (cereja principalmente), cravo, taninos jovens e intensos e ótima acidez.

O Penedo Borges Malbec Gran Reserva 2009 (R$ 86,00 WineLovers), projeto do brasileiro Euclides Penedo Borges, é mais um caso de plano de aposentadoria. Euclides se juntou com quatro sócios para comprar uma propriedade de 70 hectares, com 24 hectares de vinhedos em Agrelo, Mendoza. O negócio foi fechado em 2004 e os socios fizeram mudanças no campo, mudaram o sistema de irrigação e reduziram o rendimento das plantas. A adega ficou pronta em 2011. O vinho é um corte de 85% de Malbec, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Syrah. Com estágio de 18 meses em barricas de carvalho americano e francês, de primeiro e segundo usos, apresenta a já conhecida tipicidade da Malbec, com notas de ameixa e leve violeta, além de pimenta negra e tostados. Os 14,6% de álcool estão bem integrados ao conjunto e não incomodam.

Em seguida foi servido o Tunquen Cabernet Franc 2011 (sem importador), primeira safra do empreendimento do casal Marcos e Angela Attillio, brasileiros que vivem no vale de Casablanca, no Chile. A primeira safra foi produzida com uvas compradas e vinificadas na vinícola Kingston, também em Casablanca, que pertencence ao movimento dos vinhateiros independentes do Chile, Movi, e mostra personalidade para alcançar seus objetivos: frescor, mineralidade e intensidade.

O quinto vinho foi o Casa Valduga Mundus Cabernet Sauvignon 2009 (R$ 60,00, Casa Valduga), produtora brasileira bastante conhecida e sediada no Vale dos Vinhedos. Comandada pelos irmãos Juarez e João Valduga, a vinícola produz, em parceria com uma vinícola chilena, este Cabernet Sauvignon amadurecido por 18 meses em barricas de carvalho. De acordo com Pagliari, “é um vinho moderno, fácil de beber, com a tipicidade do Cabernet chileno, com notas de goiaba e eucalipto”.

Para fechar o painel o vinho de uma celebridade brasileira, o narrador Galvão Bueno. Também produtor no sul do país, Bueno produz vinhos na Toscana com consultoria do talentoso enólogo italiano Roberto Cipresso. O Bueno La Valletta 2009, 100% Sangiovese envelhece por 14 meses em barricas de carvalho de segundo uso. Tem estilo gastronômico, com fruta concentrada, taninos finos em abundância e elegantes notas de baunilha e tostados.