Educação é apontada como o próximo setor da economia a ser impactado pela uberização

Daniel Weterman

Na onda do modelo que une diretamente pessoas a serviços, a educação é apontada como o próximo setor a ser transformado pela Uber economia. E os investimentos já começaram. Uma pesquisa realizada pela Fundacity Investment com 66 grupos de investimentos brasileiros mostrou que 85% deles tinham intenção de financiar startups no segmento de educação entre julho do ano passado e junho deste ano. “Tem muito dinheiro na mesa para ser colocado em boas soluções educacionais”, diz Carolina Aranha, fundadora da Impactix Consulting, consultoria especializada em empresas com interesse em transformações sociais.

O Descomplica, por exemplo, recebeu R$ 13,5 milhões nos três últimos anos. A plataforma oferece aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela internet e já supera um faturamento de R$ 30 milhões por ano. Criado pelo professor Marcos Fisbhen, o serviço promete substituir os cursinhos tradicionais. “O principal fator de impacto foi dar acesso a um conteúdo que, no geral, é muito caro e elitizado nos colégios e cursinhos”, comenta o fundador. A novidade para este ano, diz ele, será uma grade de vídeos 360º para óculos de realidade virtual.

A estudante Karen Sandovetti, 20 anos, usou por dois anos o Descomplica e passou em Medicina na Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE). Escolher os horários para estudar e fazer isso em casa foram as principais vantagens em relação a um cursinho tradicional, afirma. “Assim, consegui organizar minha rotina de estudos de acordo com as minhas necessidades, focando nas áreas mais relevantes para mim.”

A reação de colégios tradicionais já começou. O Anglo lançou no ano passado um serviço de plantão online para tirar dúvidas dos alunos que estão se preparando para o vestibular. Nos próximos 12 meses, a insituição pretende implantar uma ferramenta de correção digital de redações para os alunos da rede em São Paulo. “Não temos medo de novos negócios que rolam por aí no mercado, fazemos questão de investir em coisas que melhorem o processo ao aluno”, enfatiza o diretor pedagógico do Anglo Vestibulares, Paulo Moraes.

Claudio Franco, diretor do Missu
Claudio Franco lançou o aplicativo Missu em março do ano passado para oferecer simulados do Enem e de vestibulares. A ferramenta já foi usada por 2.032 escolas. (Crédito: Divulgação)

As inovações não terminam nas aulas. Empresas começam a investir também em novas formas de avaliar os estudantes. A MindLab desenvolveu o Missão Universitária, um aplicativo para fazer simulados do Enem e de vestibulares. O aluno faz a prova e, ao receber a nota, sabe quais cursos e em quais universidades tem mais chances de ingressar com aquele desempenho. O faturamento vem principalmente do pagamento feito pelas escolas para usar a ferramenta. “Com esse resultado, a escola sabe que assuntos e disciplinas deve priorizar para ter um resultado melhor nas aprovações”, diz Claudio Franco, diretor do Missu, como é chamado o aplicativo. Lançado em março de 2015, o serviço é usado por 2 mil escolas no Sudeste e Nordeste do País, 80% delas públicas.