Especial Copa do Mundo 2018

São Petersburgo

Bonita por natureza

Vista noturna do Palácio de Inverno, parte mais importante do Hermitage Bruna Toni/Estadão
Bruna Toni / São Petersburgo

Planejada com ousadia e ares europeus, ela é pura ostentação

É verdade que Moscou surgiu antes nos registros oficiais. Seis séculos antes, para ser exata. Mas esse aspecto parece irrelevante se pensarmos na intensidade da história recente da Rússia. Porque toda ela, dos pés à cabeça, foi escrita nas ruas e nos canais daquela que foi sua capital por dois séculos: São Petersburgo – ou Piter, como é carinhosamente chamada.

Foi um projeto ousado de Pedro, o Grande. Construir uma cidade no litoral pantanoso da baía do Golfo da Finlândia, onde o frio congela absolutamente tudo, parecia, em 1703, algo arriscado. Mas a ideia vingou graças à persistência do primeiro imperador russo e, claro, ao trabalho forçado de milhares de servos, responsáveis por erguer as primeiras estruturas da “cidade mais abstrata e premeditada de todo o mundo”, segundo Dostoiévski.

Quem caminha neste século 21 pela Avenida Nevsky, a principal de São Petersburgo, não consegue imaginar que seus contornos barrocos e clássicos tenham sido traçados em tão pouco tempo. A ideia de Pedro era que a região conquistada na guerra contra os suecos fosse a janela da Rússia para o resto da Europa. E ao melhor estilo europeu, como você perceberá logo na primeira voltinha pela cidade, cujo centro é Patrimônio Mundial da Unesco. A natureza ajudou: O Rio Neva não deve nada ao Sena. Nem na magnitude, nem na beleza.

“As pessoas dizem que é a Veneza russa. Na verdade, é a Amsterdã russa”, disse, em bom português, Nádia Khristova, a guia que me acompanhou em um city tour de carro pela cidade (e que já está reservada para os brasileiros que forem à Copa com a operadora Stella Barros). Afinal, Pedro se inspirou na capital holandesa para construir canais por todos os lados.

Em vez da dança das bicicletas, você verá coladas às grades dos canais lindas igrejas ortodoxas; prédios de mais de duzentos anos nos estilos clássico, barroco e construtivista; palácios imperiais que se tornaram acervos gigantescos; mansões que viraram casas coletivas durante a União Soviética; referências a seus antigos nomes, Petrogrado (a partir de 1914) e Leningrado (entre 1924 e 1991); músicos de rua reunindo plateias animadas. E, dependendo da época, neve, muita neve.

Pronta para o turismo. Quando se diz que São Petersburgo é a cidade mais ocidentalizada da Rússia significa também que ela é a mais turística. Placas de ruas e do metrô estão transcritas para o nosso alfabeto (ufa!) e, nas estações, há orientações em inglês.

Falando em metrô, apesar de menos suntuoso e menor do que o de Moscou (são 6 linhas), ele leva aos principais pontos turísticos da cidade. As linhas de ônibus também funcionam muito bem, apesar do trânsito. Com um único bilhete (o Metro TravelCard), você anda em todos os transportes públicos a partir de 310 rublos (R$ 18) para dez viagens – o valor unitário é 45 rublos (R$ 2,50). Consulte: metro.spb.ru/en.

Para quem chega de trem a partir de Moscou, como eu, a estação de desembarque é a São Petersburgo-Glavny (Moscow Station). De lá, dá para pegar Uber ou táxi até seu destino ou então já embarcar num ônibus ou metrô – a estação está a 8 minutos da Avenida Nevsky.

Vista do jardim do Peterhof com as fontes ligadas Bruna Toni/Estadão

No verão, Peterhof

Max, o russo que me acompanhou até o apartamento onde me hospedei em São Petersburgo, foi enfático ao recomendar: “Você deve ir até o Peterhof”. Eu sabia que iria, mas como dica de local é como figurinha brilhante, decidi segui-la logo no dia seguinte. Até porque o palácio fica longe do centro da cidade – de carro leva pelo menos 40 minutos, dependendo do trânsito. Fui de Uber (889 rublos; R$ 50) e voltei de ônibus (o ponto fica bem próximo ao palácio e o ônibus te deixa no centro, mas a viagem leva quase 2 horas).

Peterhof é uma palavra de origem alemã (Petergof) e significa Jardim de Pedro. A área de 414,2 hectares é um complexo de palácios-museus, jardins e mais de 150 fontes às margens do Golfo da Finlândia. Sua construção, no início do século 18, foi uma celebração à vitória na Grande Guerra do Norte. E também o jeito que Pedro, o Grande encontrou para criar o seu Palácio de Verão – não à toa, é considerado o Versailles russo e virou patrimônio da Unesco.

Pedro era entusiasta do Ocidente, mas era também um criador. Foi ele quem desenhou parte do projeto do palácio, como o fez na Fortaleza de Pedro e Paulo.

Os dois séculos que se seguiram à construção deram mais glamour e tamanho ao palácio. Tanto as imperatrizes Isabel da Rússia (Elizaveta Petrovna) e Catarina II (conhecida como Catarina, a Grande) quanto o imperador Nicolau I criaram mais espaços e remodelaram outros de acordo com gostos pessoais e estilos da época. A confluência de diferentes linhas arquitetônicas que se vê hoje é uma de suas marcas.

Em 1917, com o fim do império, Peterhof se tornou um grande centro educacional. Isso até 1941, quando foi tomado pelas tropas nazistas e quase destruído por completo nos três anos da invasão. Para nossa sorte, tudo foi reconstruído após o fim da Segunda Guerra – algumas das fotos de como o local ficou por causa do conflito estão nos fundos dos jardins inferiores, perto do Marly Palace.

Há ingressos a partir de 1.000 rublos (R$ 56); vale optar pelo de 1.350 rublos (R$ 75), que dá direito a passear pelos jardins e visitar o pequeno palácio dos Tesouros Especiais da realeza. Todas as salas têm explicações em inglês, e, se preferir, há audioguias por 500 rublos (R$ 28). Site: en.peterhofmuseum.ru.

Os maiores destaques do passeio pelo Peterhof 

Escadaria Jordan, entrada do Hermitage Bruna Toni/Estadão

No inverno, Hermitage

Havia uma enorme construção no meio do caminho. Ocupava um pedaço considerável de uma das margens do Rio Neva, de onde, do outro lado, se avistava a Fortaleza de Pedro e Paulo. Ele era discreto na apresentação, de tom esverdeado e detalhes em branco e dourado. Seu tamanho e pose imperiais, entretanto, não deixavam dúvidas: aquele só poderia ser o Hermitage, o quarto maior museu do mundo.

Os 233.345 metros quadrados ocupados por ele, um conjunto de edifícios que foram sendo construídos ao longo de dois séculos, estão em harmonia com seu entorno. Eu não esperava chegar a uma praça tão grande quanto à Vermelha, em Moscou. Mas lá estava a Praça do Palácio para me surpreender novamente, com a Coluna de Alexandre I no centro e o Arco do Triunfo ao fundo, ambos recordando a vitória dos russos sobre os franceses de Napoleão e acompanhados dos prédios amarelos do Alto Estado Maior e do Ministério dos Assuntos Exteriores.

Principal construção do Hermitage, o Palácio de Inverno foi a residência dos czares russos durante o império (do século 18 ao início do século 20). O complexo inclui ainda o Pequeno Hermitage, o Velho Hermitage, o Novo Hermitage e o Teatro do Hermitage – assim, é passeio para um dia inteiro. Se você ficar um minuto diante de cada uma de suas mais de 3 milhões de obras de arte, sairá do museu em 5 anos. Ou seja: não tente ver tudo em uma só visita.

Tudo começou em 1764, quando Catarina II adquiriu a primeira coleção de pinturas holandesas e flamengas para o Palácio de Inverno, construído alguns anos antes, entre 1754 e 1762. Quem assina seu projeto é Francesco Bartolomeo Rastrelli (guarde esse nome, ele aparecerá muitas vezes nos passeios por São Petersburgo), mestre do barroco.

Como no Peterhof, arquitetura e decoração sofreram mudanças ao longo dos anos, dependendo da época e do gosto de seus nobres moradores.

O ingresso custa 700 rublos (R$ 39) e o audioguia, 500 rublos (R$ 28); grátis toda primeira quinta-feira do mês. Site: hermitagemuseum.org.

Os maiores destaques do passeio pelo Hermitage

Russos tomam sol nas paredes da Fortaleza de Pedro e Paulo Bruna Toni/Estadão

Fortaleza de Pedro e Paulo

Cada cantinho de São Petersburgo começou na Fortaleza de Pedro e Paulo. Foi na fortificação da Ilha Zayachy que Pedro impôs seu domínio no Mar Báltico e fundou a cidade no início dos anos 1700. Detalhes desta história são contados no prédio Cortina Nevsky, um dos cinco lugares principais dentre os 15 abertos ao público na fortaleza.

A visita, contudo, começa na Catedral de Pedro e Paulo, a mais alta construção da cidade. Em suas tumbas estão os corpos dos imperadores russos e suas famílias, de Pedro I a Nicolau II.

Já a luta contra o regime imperial passa pelas celas da prisão da fortaleza. Para lá foram levados integrantes do Narodnaya Volya, a quem é atribuído o assassinato do czar Alexandre II. Entre os presos famosos estão Máximo Gorki, Fiodor Dostoievski, Alexandre Ulyanov (irmão de Lenin) e Leon Trotsky.

Ali, sua última parada será o Museu da Cosmonáutica e Tecnologia de Foguetes, que funciona no prédio onde foi instalada a primeira base de construção das naves espaciais soviéticas. Aproveite também para curtir o visual da ilha e, se animar, tomar sol nas paredes de pedra da fortaleza – algo que, como se vê na foto acima, os russos fazem mesmo com a temperatura na casa dos 6 graus. O ingresso que dá acesso a tudo sai a 600 rublos (R$ 34). Site: bit.ly/pedro-e-paulo.

Interior da Catedral do Sangue Derramado Bruna Toni/Estadão

Roteiro sacro: as catedrais ortodoxas

Era uma caminhada de fim de tarde para reconhecer o terreno, afinal eu tinha acabado de chegar a São Petersburgo. Como estava hospedada no centro, fui seguindo as ruas até alcançar um de seus inúmeros canais. A vista, que já era bonita, tornou-se monumental quando eu me dei conta que, às minhas costas, estava a Catedral do Sangue Derramado. Se eu achei que tinha dado adeus às cúpulas coloridas quando sai de Moscou, estava muito enganada.

Assim como a capital, São Petersburgo é uma reunião de igrejas ortodoxas belíssimas. Mas, enquanto cidade cosmopolita, abriga igrejas de outras religiões na sua área central. Eu me deparei com uma católica bem pequenina na Avenida Nevsky; com uma sinagoga no bairro judeu; e com uma mesquita. Segundo Nádia Khristova, também há um templo budista.

Conheça 4 catedrais ortodoxas em São Peter 

Tour pelo Museu da Vodca pode incluir degustação no fim Bruna Toni/Estadão

Museus imperdíveis - e um tanto inusitados

São Petersburgo é uma cidade para ser apreciada batendo perna, muitas vezes sem destino certo. Nela, há alguns lugares, nem sempre nos roteiros tradicionais, que valem a pena o desvio do caminho. Entre eles, o museu dos ovos de Fabergé, o museu da vodca e o cruzador Aurora.

Conheça detalhes dos três museus

Vista da janela do apartamento do Airbnb onde me hospedei em São Petersburgo Bruna Toni/Estadão

Onde ficamos em São Petersburgo

Um dos motivos para Andre ser um dos 400 mil superhosts (anfitriões) do Airbnb é a atenção com o hóspede, a estrutura e a localização de seu apartamento, a três quadras da Avenida Nevsky.

Logo na chegada, ele explicou sobre os principais pontos da região e, quando precisei, o contato foi imediato. Além disso, seu apartamento é amplo – além de mim, caberiam umas dez pessoas pela casa – e tem tudo que o hóspede precisa para cozinhar, lavar roupas e, claro, descansar.

As diárias no centro saem em torno de R$ 300 em junho.

TV Estadão - Rússia 360 graus

Redação: Adriana Moreira (editora), Mônica Nobrega (editora-assistente), Bruna Toni (produção, reportagem e textos), Larissa Godoy (reportagem), André Carmona (colaboração), Letícia Ginak (colaboração) TV Estadão: Bruna Toni (imagens), Iolanda Paz (edição de vídeo), Everton Oliveira (editor de vídeo), Bruno Nogueirão (edição de vídeo)

Agradecimentos
Airbnb, Four Seasons Moscou, Stella BarrosTurismo, Mandarin Oriental Barcelona, Royal Caribbean, Grandrus Tours, Nádia Khristova, Irina Ignatenko, Henrique Canary, Yulia Manakova e Oksana Staritskaya