Especial Copa do Mundo 2018

Moscou

Cidade das artes

Catedral de São Basílio, o maior cartão-postal da Rússia Maxim Zmeyev/Reuters

Há beleza estética até nas ruas e nos subterrâneos, ao lado do legado de nove séculos

Bruna Toni / Moscou

Maiakovski escreveu que “queria viver e morrer em Paris se não houvesse uma cidade como Moscou”. É a melhor definição que encontrei até hoje para o que vi e vivi na capital russa, uma metrópole de 12 milhões de habitantes onde cabem tantos séculos de história quanto ideologias.

Percorrer a cidade com pressa, definitivamente, não é uma opção. Reserve ao menos cinco dias – sete, contando os dias de partida e chegada. Acredite: serão muitas as razões para você prolongar sua estada.

O atual centro político e econômico da Rússia foi hábil em preservar seus nove séculos de história. Uma história que começa por volta de 1146, justamente na região de um dos principais símbolos e pontos turísticos da cidade na atualidade: as muralhas do Kremlin.

Sem dúvida, chegar à Praça Vermelha será um dos momentos mais emocionantes da viagem à Rússia, sobretudo no verão. Se no sol da primavera, sob temperaturas na casa dos 12 graus, os moscovitas já lotam as ruas, praças e parques, imagina na Copa?

Moscou tem muitas feições para além dos emblemáticos tijolos vermelhos de sua praça principal. É aristocrática ao mesmo tempo que se pretende moderna. Com seus shoppings e as lojas de grife da Avenida Tverskaya, a principal, faz acreditar que o capitalismo, ali, sempre existiu. Mas só até que se note, nas ruas, que seus prédios vão do clássico ao construtivista, muitas vezes estampando a foice e o martelo. Ou até a fome nos levar a um restaurante dos tempos soviéticos que ainda vende os mesmos chaburek (pastel) e vodca baratinhos de décadas atrás.

É assim, entre quadros expostos nas fachadas de prédios antigos e arranha-céus, que Moscou se mostra de mil e uma formas.

Estação Komsomolskaya (linha 5), com mosaicos em referência à história militar russa Bruna Toni/Estadão

Metrô, mais que transporte

Procurar o bilhete, correr para alcançar o trem, se apertar para entrar no vagão. Tudo isso seria perfeitamente familiar se, no percurso, a estação não fosse um prédio antiquíssimo, ou se a parede em frente à catraca não ostentasse uma imagem do rosto do filósofo Karl Marx.

Percorrer Moscou de metrô está longe de ser uma experiência convencional para estrangeiros. Não sem motivo, a rede é chamada de Palácio Subterrâneo. Inaugurado em 1935 – a linha mais antiga é a Socolhnitcheskaia –, foi sendo expandido ao longo dos três anos seguintes dentro de uma proposta arquitetônica e estética inovadora. Em cada estação, ou melhor, em cada plataforma, paredes de granito e de mármore; desenhos talhados no gesso; lustres gigantes pendurados; mosaicos; vitrais coloridos; esculturas de bronze; painéis de esmalte.

São ao todo 12 linhas e 206 estações, cada uma com sua particularidade estética e histórica. Por isso, mais do que um meio de deslocamento, o metrô de Moscou é um ponto turístico. E, como todo grande museu, as chances de se perder são enormes até que você compreenda a logística e a proposta. Vá com tempo.

Em Moscou, as placas informativas ainda não têm transcrição para o alfabeto latino – com exceção dos nomes das estações da linha dentro dos vagões. Ou seja: até a plataforma, as direções e orientações de saída (vykhod) estarão em cirílico. Impossível se localizar para quem não sabe russo? Não, mas aqui vão as dicas de quem testou de tudo.

Tenha sempre em mãos mapas do metrô no nosso alfabeto e em cirílico (não é difícil achar em hotéis grandes e alguns museus), para poder encontrar as equivalências. Contar o número de estações entre a origem e o destino da sua viagem também ajuda a não errar. E se você souber ao menos algumas letras usadas na língua russa, conseguirá deduzir o que está escrito mesmo que não saiba ler tudo. Isso me ajudou muito na hora de saber para qual lado seguir.

Como no metrô de Nova York, numa mesma plataforma podem circular trens de linhas diferentes. Isso significa que nem sempre bastará descer de um lado, atravessar a plataforma e pegar o próximo trem para o sentido oposto. E mais um detalhe: existem algumas estações com o mesmo nome em linhas diferentes. Preste atenção às placas que tudo dará certo. E, se não der, tudo bem. No mínimo, você conhecerá mais uma bela estação.

Comprar bilhetes será um pouco mais fácil. Há adesivos colados nas cabines de atendimento informando “eu falo inglês”. São vendidos passes ilimitados para um, três, sete ou 30 dias, válidos em qualquer tipo de transporte público, a partir de 218 rublos (R$ 12) e passes que dão direito a determinado número de viagens, de uma a 60, a partir de 55 rublos (R$ 3) – para estes, vá direto aos terminais automáticos com textos em inglês.

Conheça as estações mais bonitas de Moscou

Museu Histórico do Estado entre a Muralha do Kremlin (à esquerda) e o Shopping GUM (à direita). Bruna Toni/Estadão

Praça Vermelha, o centro de tudo

Levou um tempo até que eu me desse conta de que estava, enfim, pisando na Praça Vermelha. Aquela mesmo, das cúpulas coloridas em formato de cebola, dos tijolos vermelhos, da muralha com 2,5 quilômetros de extensão. Aquela, onde há 100 anos a revolução socialista derrubou o império czarista de dois séculos de existência. É o coração de Moscou e Patrimônio Mundial da Unesco.

Para quem chega pela movimentada Avenida Tverskaya, uma das mais importantes da capital russa, a porta de entrada para a Praça Vermelha é uma outra praça, a do Manege. É nela que está o cronômetro para a Copa do Mundo e outros elementos decorativos com a temática do Mundial.

O que separa as duas praças é uma subida curtinha, paralela ao Museu Histórico do Estado e ao Kremlin. Antes de subir, repare na imponente construção bege em um dos lados da Praça do Manege. Sua fachada é réplica da do luxuoso e emblemático Hotel Moscou, construído no mesmo lugar em 1935 e um dos melhores exemplares da arquitetura soviética stalinista.

Além de ter hospedado nomes importantes da primeira metade do século 20, como Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar ao espaço, o Hotel Moscou ficou famoso por apresentar designs completamente diferentes para cada uma das asas frontais. O arquiteto responsável pela construção, Alexey Shchusev, teria enviado a Stalin dois projetos de fachada para escolha. Mas o líder soviético assinou no meio dos dois desenhos, levando Shchusev a decidir, então, por ambos os projetos. Fez cada metade de um jeito.

No início dos anos 2000, o prédio foi demolido e, em seu lugar, um novo hotel foi erguido. A fachada, no entanto, foi reconstruída seguindo fielmente a do antigo Hotel Moscou – o que significa que você ainda poderá contemplar e sorrir diante dos dois lados diferentes.

Quem assumiu o espaço, abrindo as portas ao público em 2004, foi a rede canadense Four Seasons, que manteve assim o caráter luxuoso que a hospedagem sempre teve. A diferença está nas novas instalações, pensadas para atender às demandas do público do século 21, entre elas a existência de um spa sofisticado (leia mais logo embaixo).

Conheça os principais pontos turísticos da Praça Vermelha

Four Seasons reproduziu a fachada do Hotel Moscou Peter Vitali/Four Seasons

Onde ficamos em Moscou

Após um longo dia de aeroporto, voo e deslocamento com malas e tripé, tudo o que eu queria era banho e cama bons. Encontrei ambos no Hotel Four Seasons de Moscou, além de outras gratas surpresas: quarto com vista para as muralhas do Kremlin e mesa com café e chocolate me aguardando.

Inaugurado em 2004, o hotel de luxo conta com 8 tipos de quartos, todos muito espaçosos – de 75 a 520 metros quadrados. Um de seus pontos altos é o Amnis Spa, com seis opções de massagem e tratamentos estéticos, incluindo um banho com ervas da Sibéria para rejuvenescer a pele. Em junho, as diárias começam em US$ 2 mil: bit.ly/fourseasonsmos.

A segunda metade da viagem foi num apartamento do Airbnb perto da Rua Arbat. Nosso anfitrião Konstantin nos ajudou da chegada até a hora em que entregou as chaves do local, com dicas de transporte e alimentação.

No centro, aluguel em torno de R$ 500 por dia em junho: bit.ly/airbnbmos.

Rua Arbat, uma das mais antigas de Moscou Bruna Toni/Estadão

Passeios ao ar livre

Há tanta história e arte nas ruas, praças e parques de Moscou, que mesmo se você não quiser/puder entrar em nenhum de seus prédios e atrações turísticas – ou não tiver muito tempo para isso -, conseguirá visitar locais importantes e se divertir apenas andando por suas ruas, ao ar livre.

Confira 5 lugares para conhecer ao ar livre (e grátis)

Trajes de astronautas no Museu da Cosmonáutica Alexander Natruskin/Reuters

Atrações imperdíveis em Moscou

Além de seu centro histórico, a capital russa oferece uma variedade grande de museus (inclusive interativos) e catedrais ortodoxas para o visitante. Há opções para quem quer saber mais sobre as conquistas espaciais no Museu da Cosmonáutica; para quem quer mergulhar na Guerra Fria no Bunker-42; para quem aprecia a arte sacra de suas catedrais suntuosas.

Confira 5 lugares imperdíveis em Moscou 

Petiscos em um tour pelo Danilovsky Bruna Toni/Estadão

Um dia do mercadão

Às 11h, encontrei Yulia Manakova e o grupo – um casal alemão e uma norte-americana – na estação Tulskaya (linha 9) para o passeio por um dos mais antigos rynki (mercados) de alimentos de Moscou, o Danilovsky. Por meio da plataforma de experiências do site de reserva de hospedagens Airbnb Experiences, Yulia oferece o Discover Russian Food Market, tour pelo mercadão moscovita.

A ideia era mergulhar no universo das comidas russas entre moradores. Deu certo. Foram três horas de aprendizado e comilança na companhia de Yulia, que é professora de inglês e ainda fala espanhol.

O Danilovsky é um galpão moderno – parece uma flor (ou uma casca de tartaruga?). Reabriu em 2017 reformado e descolado, com mesas coletivas – no verão, também ao ar livre.

Depois de experimentar o sirnik, bolinho de queijo adocicado com geleias feitas pela mãe de Yulia, circulamos pelos corredores provando tomate russo, repolho, picles (há muitos produtos em conserva), queijos e leite da fazenda. Não comemos arenque e caviar – mas, se quiser comprar, o mercado é um bom lugar. Ao fim do tour, ganhamos um livreto com expressões úteis e dicas de restaurantes deshevo (baratos) e dorogoy (caros) em Moscou. O tour custa R$ 116.

TV Estadão - Rússia 360 graus

Redação: Adriana Moreira (editora), Mônica Nobrega (editora-assistente), Bruna Toni (produção, reportagem e textos), Larissa Godoy (reportagem), André Carmona (colaboração), Letícia Ginak (colaboração) TV Estadão: Bruna Toni (imagens), Iolanda Paz (edição de vídeo), Everton Oliveira (editor de vídeo), Bruno Nogueirão (edição de vídeo)

Agradecimentos
Airbnb, Four Seasons Moscou, Stella BarrosTurismo, Mandarin Oriental Barcelona, Royal Caribbean, Grandrus Tours, Nádia Khristova, Irina Ignatenko, Henrique Canary, Yulia Manakova e Oksana Staritskaya