política | entrevista

‘Sem tiro de advertência:
primeiro na testa’

Por Marcelo Godoy | Publicado em 2 de abril de 2017
O deputado Jair Bolsonaro em seu gabinete na Câmara dos Deputados. (Igo Estrela/Estadão)

Dizendo-se inspirado por Trump, Bolsonaro afirma: ‘Esses ambientalistas que torçam para eu não virar presidente’

Magro e silencioso, Floriano Amorim abre o tripé e prepara a máquina e o microfone para captar o encontro entre entrevistado e a reportagem. Ele é um dos funcionários do conjunto de gabinetes que reúne os deputados Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e seu filho Eduardo (PSC-SP). “Você compreende, né?”, pergunta o capitão da reserva do Exército. Floriano faz o trabalho com a mecânica de quem repete o mesmo gesto, o mesmo trabalho, dia após dia. No gabinete do homem que ronda o Palácio do Planalto, toda entrevista é gravada. A do Estado não seria diferente.

Dizendo-se inspirado pelo presidente americano, Donald Trump, o parlamentar quer mudar a política para o meio ambiente do País. Questionou a demarcação de reservas indígenas e de áreas de proteção ambiental impedem a exploração de minérios e da biodiversidade. Disse ser necessário desmatar para produzir mais alimentos. Criticou o mercado financeiro, afirmou haver excesso de direitos no País e disse ser possível cortar o Bolsa Família pela metade. Inflamou-se diante dos temas que, normalmente, formam sua pauta: segurança pública e o papel dos militares na sociedade e na história. “Carlos Alberto Brilhante Ustra, se eu chegar à Presidência, será declarado herói da Pátria!” Diz que vai liberar a posse de fuzis para fazendeiros se defenderem do MST. “Sem tiro de advertência. Na testa. Não vou agir como covarde e, depois, me juntar aos bundões que soltam pombinhas em Copacabana e abraçam a Lagoa Rodrigo de Freitas.” Aqui, trechos de sua entrevista.

O senhor é a favor da Reforma da Previdência?

Sim, mas não essa que está aí. É preciso pôr um ponto final nas incorporações. Isso vai corrigir o Legislativo, o Judiciário e o Executivo. Então, o primeiro passo a reforma da Previdência é esse aí.

Mas isso é uma medida para as aposentadorias futuras...

Sim, mas você tem de começar. Olha só, se um navio está fazendo água, o primeiro passo não é começar a tirar água do navio. Você tem de tapar o buraco para não deixar entrar mais água. Duvido que alguém votasse contra isso aí.

Eu reconheço que eu estou no ensino fundamental da economia perto dos que estão aí
Jair Bolsonaro

E os 65 anos?

Tá forte. O Temer devia dar uma segurada em um ano nas aposentadorias. E deixar para o futuro, eleito em 2018, dar mais uma mexida. Eu daria mais uma mexida ainda para não falar que não mexo com parlamentar. Botaria um ponto final no auxílio moradia.

E 49 anos de contribuição para ter a aposentadoria integral é o ideal?

Isso ai é um exagero. Até porque a massa que atualmente se aposenta está até três salários mínimos, mais da metade está até três salários mínimos.

E regime único de previdência para trabalhadores da iniciativa privada e militares das Forças Armadas e Polícias Militares? O senhor é contra?

Em 1999, o Estado-Maior das Forças Armadas fez um estudo mostrando que ao longo de 30 anos, na verdade, o militar trabalhava 45. E todo serviço que tirei de sábado e domingo, sem hora extra, sem nada? Segunda-feira eu estava no quartel de novo. E militar não pode reclamar de nada e nós sabemos da regra do jogo. Agora é o seguinte: a gente topa o tempo de serviço, mas nos deem todos os direitos, como os demais trabalhadores. Por que só quer empurrar para cima da gente o tempo de serviço? Se vocês nos derem isso, inclusive o direito de greve, imagina onde vai chegar o Brasil?

Você não pode ter um Banco Central independente. Sem um coração verde e amarelo no peito dos caras que estão lá dentro, o presidente da República vai ser refém deles
Jair Bolsonaro

Como deve ser a relação entre o presidente da República e o presidente do Banco Central? O senhor acredita que O BC deve ser independente?

O Meirelles foi por oito anos presidente do Banco Central do Lula - o pessoal reclama que eu não falo de economia, eu reconheço que estou no ensino fundamental da economia perto dos que estão aí. Mas nós só tivemos especialistas nos últimos 15 anos, e o Brasil está no caos.

E a independência do Banco Central?

Não, você não pode dar independência. O Banco Central independente sem um coração verde e amarelo no peito dos caras que estão lá dentro, esses caras vindo apenas do mercado financeiro, o presidente da República vai ser refém deles. Se deixar à vontade, toda vez que tiver um refresco na economia, esse pessoal vai inventar uma maneira de ajudar mais o sistema financeiro. Por exemplo, a PEC do Teto, eu votei favorável, mas a minha reclamação foi que faltou botar na mesa o sistema financeiro, para discutir o sistema financeiro. O orçamento no ano passado se não me engano, desse ano, dá R$ 1 trilhão e 700 milhões para rolagem de dívida e amortização. Praticamente metade do que se arrecada no Brasil vai para o sistema financeiro. Eu não prego o calote, longe disso.

Mas o senhor acha que o sistema financeiro tem de dar sua cota de sacrifício?

Todo mundo tem de colaborar. Não é apenas... Você pode ver, quando você fala na reforma da Previdência na forma como está sendo prevista, a cota de sacrifício é enorme. Você está transformando os aposentados em miseráveis. Você está botando todo mundo na mesma situação. Eu estou vendo aqui algumas pessoas aqui humildes no gabinete pelo semblante, sem querer ser preconceituoso, parecem ser pessoas honestas. Essas pessoas, uma vez desempregadas, como é que elas sustentariam suas famílias já que o mercado não está empregando por um excesso de burocracia e de direitos.

O Brasil tem excesso de direitos
Jair Bolsonaro

Mas o senhor acha que é por isso então?

Excesso de direito. O Brasil tem excesso de direito.

O senhor acha que o Brasil deve apostar no Mercosul ou em acordos bilaterais?

Eu apostaria mais em acordos bilaterais. Eu vi o Trump lá, ele botou por terra o Transpacífico e vai partir para o bilateralismo. Eu acho positivo, pois nós temos um potencial enorme no mundo.

Eu queria saber, sendo o senhor eleito, se o senhor pretende manter a PEC do Teto, como presidente, ou se o senhor pretende flexibilizá-lá?

Até lá, faltam praticamente dois anos, o que eu falar agora pode não valer. É mais um meteorologista dizer se vai chover daqui a trinta dias do que um economista dizer como estará o dólar amanhã. Então daqui a dois anos quem assumir, pode ser que eu assuma, você pode estudar a possibilidade de alterar a PEC do Teto.

O senhor vai estudar então?

Vou estudar até porque eu reconheço que, não é confissão, eu estive duas vezes jantando com banqueiro e gente que entende de economia no Rio de Janeiro e, em dado momento, em um desses jantares, um perguntou para mim se eu tinha alguém, um economista de nome ao meu lado.

Você tem como reduzir à metade isso aí (Bolsa Família)
Jair Bolsonaro

O senhor tem?

Eu acho que eu ainda não desperto a confiança do mercado por isso não apareceu ninguém do meu lado, mas aqueles dois jantares eram um sinal de que brevemente eu terei.

O senhor defende uma grande auditoria no Bolsa Família?

O ano passado nós gastamos 28 bilhões com o Bolsa Família. Vamos arredondar os números. Você tem como reduzir a metade isso aí. E, ao reduzir à metade, quem já recebe nessas condições que falei de extrema necessidade, tem como dar uma ampliada. Ou seja você ampliam pouco para quem tem necessidade, tira de quem não tem (necessidade) e o Estado ganha 15 bilhões anualmente. Como é feito hoje em dia? São as prefeituras que fazem esse cadastro. Nem preciso falar para você: se tem fraude em concurso, imagine em Bolsa Família.

O senhor pretende preencher metade dos ministérios com militares?

Olha só, o governo Lula e Dilma preencheu com terroristas por que a discriminação para com militar. Quando se fala em botar militar vem logo uma discriminação.

O governo Lula e Dilma preencheu (os ministérios) com terroristas
Jair Bolsonaro

Por exemplo, o general Augusto Heleno?

Pra mim ele seria o que ele quisesse. Seria Defesa, não teria problema nenhum. E eu gostaria até que ele fosse presidente e eu fosse o ministro dele. Digo até o contrário.

Como o senhor pretende fazer para pagar suas contas de campanha, se o senhor for candidato, sem a contribuição de empresas? A mídia social será suficiente?

Olha ou eu chego por uma caminho diferente ou estou fora. Em duas reuniões que eu estive com o empresariado de São Paulo um falou comigo particularmente que se eu precisasse podia procurá-lo. Eu falei: Não te procuro por um motivo muito simples. Eu quero continuar conversando contigo de igual para igual. Eu não quero um centavo de ninguém.

Nem pela internet o senhor pretende pedir dinheiro?

Eu tenho certeza de uma coisa, se a gente pedir na internet o ano que vem e eu estiver com a popularidade que estou hoje, eu vou ser quem mais vai arrecadar de todos os candidatos. Se isso vier a acontecer, vou colocar um limite no banco para aceitar contribuição.

Vocês (jornalistas) vão bater tanto em mim, que vocês vão fazer minha campanha
Jair Bolsonaro

O senhor já sabe esse limite?

Não. Não tenho a menor idéia. Eu não pretendo viajar de avião particular para lugar nenhum. Pretendo viajar em avião de carreira. E o que mais que eu acho? Vocês (jornalistas) vão bater tanto em mim, que vocês vão fazer minha campanha, porque ainda existe um viés de esquerda em muito colega seu.

O senhor acha que a imprensa é uma força adversa?

A imprensa quer fazer valer sua vontade. Assim foi nos EUA e não conseguiram. Você pode ver. Até pouco tempo não se falava em direita. E eu me intitulava direita. Como hoje em dia a direita passou a ser palatável e bom, o que grande parte da imprensa faz a meu respeito? Me chama de extrema-direita. E bota o PSDB, que é a favor do desarmamento, que tem uma pauta quase que oposta à minha, como sendo de direita.

O senhor chama de gêmeos o PT e o PSDB?

São. São xifópagos. O PT e o PSDB são gêmeos. Só que um tem classe e o outro não tem.

Classe é o PSDB que tem?

São mais educados. São mais educados para conversar, não quer dizer que vão te atender não.

PT e PSDB são xifópagos. Só que um tem classe e o outro não
Jair Bolsonaro

O senhor apoia essa proposta de aumento de recursos para o Fundo Partidário?

Não.

E voto em lista fechada?

Isso aí é para continuar o foro privilegiado para quem está enrolado na Lava Jato e outras.

O senhor é um candidato em busca de um partido. Seria o Muda Brasil?

Pode ser o Muda Brasil e aí seria mais grave ainda, pois seria sem dinheiro. O Muda Brasil sozinho é sem televisão.

O senhor acha que conseguiria atrair algum grande partido junto numa coligação?

A política, sem falar nomes, por aqui diz que não tem mulher feia, tem mulher sem Lava Jato.

Antes de chegar a condição de pré-candidato à presidência da República, o senhor permaneceu mais de uma década em um partido que é um dos grandes alvos da Lava Jato, que é o PP. Como o senhor conviveu com tanta gente que hoje está sob investigação?

Bem olha só. Eu nunca votei com o partido, tanto é que quem diz isso não sou eu. É o Joaquim Barbosa. Eu vou te falar um palavrão agora: perdeu-se a noção do direito de roubar. Doi o coração.

O senhor quer dizer que não tem ética nenhuma mais?

Praticamente não tem ética e o governo do PT isso aí escancarou.

Mas o PT não roubava sozinho...

O ex-partido meu, o atual partido meu – o pastor Everaldo foi citado agora com 6 milhões de reais. Agora como é que eu vou denunciar esses caras se eu não tenho prova alguma? Ainda mais eu que já respondi 30 processos de cassação aqui dentro.

Eu começo votando os projetos aqui vendo quem é o autor, o partido do autor
Jair Bolsonaro

O senhor deve se lembrar do almirante Pena Boto. O senhor não acha que às vezes esse anticomunismo exacerbado do senhor não pode, para os mais antigos, parecer penabotismo?

Olha só. A intenção deles é um dia roubar a nossa liberdade. Você pode achar que eu estou sendo aqui exagerado, mas a liberdade você não perde de uma hora para outra. Você perde com o passar do tempo. Há pouco tempo em 2014, em dezembro, Dilma Rousseff esteve em Quito. Ali reunia-se a Unasul e também o pessoal do Foro de São Paulo. Não confio nesses caras, nunca. Quando um petista vem falar uma coisa boa para mim eu desconfio, não aceito. Vou te confessar uma coisa. Eu começo votando os projetos aqui vendo quem é o autor. O partido do autor. Pelo partido do autor já começa a definir o meu voto por ali. Eu não acredito em boas propostas quando vem do PT, PCdoB e PSOL. Não acredito.

O senhor poria na ilegalidade os partidos comunistas?

Eu olharia daqui para frente. Se começar a agitar, vamos rever a anistia, a bolsa ditadura. Se o pessoal se comportar, vou ver daqui para frente.

O general Villas Boas, comandante do Exército, classificou como tresloucados e malucos quem o procura pedindo intervenção militar. O que o senhor diz às pessoas que pedem a volta dos militares ao poder?

Primeiro é um direito deles, nós temos liberdade de expressão aqui. Eles estão se manifestando em função de uma indignação popular. E quando eles vem manobras outras que são tramadas nessa casamata continuar como está, eles têm esse rompante. Eu não os classificaria como tresloucados e malucos. Eu os classifico como brasileiros e patriotas que pode até nesse movimento estar dando o recado para o Parlamento que nós devemos mudar.

Em 1974, o general Cordeiro de Farias disse que se preocupava com uma distorção da instituição militar. Para ele o Exército estava se tornando polícia, invadindo casas e prendendo pessoas. Ele se referia aos DOIs. Segundo ele, isso degradava a instituição profundamente. O senhor concorda com essa análise do Cordeiro de Farias?

Se formos para as ruas aqui e formos conversar com quem tem mais de 60 anos de idade, eles vão dizer que viviam na mais absoluta tranquilidade naquela época. Não é isso que se prega, pois afirmam que nós tínhamos um Exército basicamente opressor.

Nós poderemos ter uma entrada muito grande da escória do mundo no Brasil
Jair Bolsonaro

Hoje esse é um debate que se renova por causa das operações de garantia de lei e ordem. Essas operações podem causar uma degradação da instituição?

Há uma tendência dos governos em tornar rotineiro isso aí. O nosso homem, a base nossa, soldados, cabos, e terceiros-sargentos, a grande maioria é temporária, em especial o garoto que presta o serviço militar obrigatório. Não tem a preparação para tal.

Em 1974, estudava-se muito na Academia a doutrina da guerra insurrecional, o senhor acha que a doutrina da guerra insurrecional é válida ainda hoje?

Ela é aplicada de outra forma, pelo gramscismo.

Mas a guerra revolucionária não é feita por quem está no poder, mas por quem quer subvertê-lo. Essa doutrina continua válida?

Alguém acha que a esquerda no Brasil, materializada no PT e no PCdoB, está vendo o bonde passar e não está fazendo nada? Você pode ver: foi aprovada uma proposta no Senado e passou na Câmara com algumas emendas e voltou para o Senado. É uma nova lei de imigração. Nós podemos ter uma entrada muito grande da escória do mundo no Brasil, que seria uma minoria. Como se não bastasse nós temos quase 20 mil haitianos nas mãos do MTST em São Pailo, massa de manobras, inclusive o Haddad já cadastrados no bolsa-família…

O senhor acha que essas pessoas, 20 mil haitianos, seriam uma massa de manobra?

Você quer trazer o terror para o Brasil. Qualquer um traz com meia dúzia de pessoas, com armas, preparadas e dispostas, com armas de precisão para pegar você a seiscentos metros. É só começar a matar um cara importante, atirar outro acolá, e você cria um terror no Brasil.

O senhor acha que os haitianos em São Paulo são isso?

Opa, olha só, não fale os haitianos, dentro deles têm uma minoria, pois tem senegalês, tem angolano. Você não sabe, eu sei por falar, o que enfrentar um angolano mascando folha de coca na favela da Maré, no Rio. A polícia não entra apesar de ser plana, não tem nem cota para atirar de cima.

Os generais Adyr Fiúza de Castro, Moraes Rego, Meira Matos de alguma forma admitiram em algum momento que foram usados métodos ilegais no combate à subversão nos anos 70, a tortura. Para Moraes Rego, se o comandante é surpreendido pelo que acontece em sua unidade, ele manda apurar e pune o responsável, pois ele é responsável por tudo o que acontece – pelo que ele sabe e não sabe – dentro da unidade dele...

Assim nós somos ensinados.

Carlos Alberto Brilhante Ustra, se eu chegar à Presidência, vai ser declarado herói da Pátria
Jair Bolsonaro

Entrevistei diversos ex-subordinados do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Eles relataram sequestros, tortura e assassinatos durante o comando de coronel. Diante disso, Ustra foi responsável por tudo o que aconteceu sob seu comando no DOI do 2.º Exército?

Uma coisa é ensinada. Quando o Lamarca desertou em Quitaúna o comandante não sabia que ele estava preparando isso para ele. Essas coisas acontecem. O que tem de deixar bem claro é que não foi uma política de Estado tirar confissões a qualquer preço, mas o homem que está na ponta da linha, que vê seus colegas serem assassinados por esses que queriam roubar nossa liberdade, ele é um ser humano. Então, logicamente, tem notícias de que alguns extrapolaram. Agora raramente vem a imprensa mostrar a maneira como os terroristas agiam no Brasil. O próprio grupo da Dilma Rousseff, a VAR-Palmares, que abrigou o Lamarca, teve a execução do tenente Alberto Mendes Júnior em cárcere privado, sem chance de defesa.

O senhor conhece o regulamento disciplinar que diz que não se deve maltratar um prisioneiro sob a sua guarda. O senhor deve se lembrar dos exemplos de Osório e Mallet na guerra do Paraguai. O Ustra, como o senhor, era artilheiro. Como fica para alguém que tem Mallet como patrono essa questão?

Eu sou capitão do Exército. Eu não levo essa questão de Arma. Não tem nada a ver. Estamos em combate e atiramos na mesma direção. A prova maior de que tratamos bem os inimigos é a Segunda Guerra Mundial. A divisão alemã decidiu se entregar para nós, após fazer três condições. A guerra de guerrilha é um negócio diferente. A covardia impera do lado de lá. Quando Bin Laden articulou para pôr abaixo as torres gêmeas teve quase três mil mortos. Ele não estava preocupado se tinha velho, criança ou mulher. É com esse tipo de gente que a gente lutou no passado. Esse pessoal faz toda e qualquer barbaridade possível e imaginária. Quando são detidos viram tudo menininha…

Mas a observância das leis é o que deveria diferenciar os bandidos de policiais...

Carlos Alberto Brilhante Ustra, se eu chegar à Presidência, vai ser declarado herói da Pátria. Herói da Pátria! Salvou o Brasil de uma ditadura.

Jarbas Passarinho disse em artigo que em função da tortura a vitória militar contra a esquerda se transformou em uma derrota política...

Eu já briguei com o Jarbas Passarinho aqui dentro. Briguei em um crime de lesa-Pátria que ele cometeu ao demarcar a reserva Ianomâmi. Criminoso. Falei na cara dele aqui. Ele virou inimigo mortal meu. Esquece esse negócio de regra para a guerra. Em combate, em guerra, não tem regra. É regra não ter regra. Isso aí é combate. Esse pessoal cometia, não é apenas o Alberto Mendes Júnior, o tenente, é o recruta Mário Kozel Filho, no carro-bomba em São Paulo, pela causa valia tudo.

Morreu tarde no meu entender
Jair Bolsonaro

Mas a política é guerra?

A política não é guerra. A política que a esquerda quer tanto é que nasceu o PCdoB – xifópagos do PCB – e foram para a luta armada, coisa que o PCB não queria – você vai combater como esses caras? Você vai combater como, se eles treinavam em Cuba, o dinheiro vinha basicamente da URSS, via Cuba, para cá, como é que você vai combater esse pessoal? Eu não estou defendendo a tortura.

O senhor fez uma diferença entre o PCB e o PCdoB. Mas o coronel Ustra era o comandante da Seção de Operações do Centro de Informações do Exército (CIE) em 1975. Nessa época, três integrantes do Comitê Central do PCB foram presos, interrogados e mortos com a participação de agentes do CIE. Qual a razão de um ato como esse, contra um partido que não havia ido para a luta armada?

Primeiro tem a política de vitimização desse pessoal.

Mas isso é vitimização?

Sim.

Mas o sujeito morreu...

Morreu tarde no meu entender. É a política da vitimização. Através dela, você ganha compaixão, voto e poder. Existe algo que é a mais importante que a nossa vida, a minha vida e a tua, que é a liberdade. Onde a ideologia defendida por esses da luta armada, você perde a liberdade lá.

Mas o PCB não foi para a luta armada?

Olha não interessa. É política de vitimização. Tem um dos artigos aqui (refere-se ao Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella), que diz claramente que uma das armas para atingir os objetivos é o terrorismo. É com esse tipo de gente que a gente estava lidando. Vamos fazer um paralelo: guerrilha do Araguaia. Dizem que nós matamos 69. Do lado de cá foram 11. Agora a Colômbia foi complacente com a sua guerrilha e tem as Farc no coração do País. Nós não temos uma Farc no Brasil. Os militares foram muito competentes em neutralizar a guerrilha aqui dentro. O tratamento tem de ser enérgico. Esse pessoal é pior do que bandido. Esse pessoal quer roubar algo maior que a tua vida, a tua liberdade. E nós tínhamos de agir com energia.

O deputado Jair Bolsonaro em seu gabinete na Câmara dos Deputados. (Igo Estrela/Estadão)

Se o senhor for presidente da República como o senhor se comportaria diante de motins nas polícias militares?

Primeiramente quem cabe tomar providências nesse sentido são os governadores dos Estados.

Mas o presidente da República pode também atuar nesse sentido

Ele atua com Força Nacional de Segurança, Forças Armadas. Veja bem, o caso do Espírito Santo, eu não tenho nada a ver com aquilo. Eu não sei de onde veio isso, inclusive botaram em manchete: aliado de Bolsonaro é preso, o capitão Assunção. O capitão Assunção foi meu colega aqui. Não há a menor dúvida de que em 90% das questões nós nos acertávamos.

O senhor acha que quem se amotina tem de ir para cadeia?

O motim está previsto o Código Penal Militar. Agora, se aquilo é motim, é interpretação, a Justiça vai ter de interpretar aquilo lá. Eu não vejo como motim, eu vejo como...

Aquilo não foi uma grande baderna?

O que acontece é que o governador do Estado, Paulo Hartung, tem uma posição de prepotência, de não conversar com ninguém. Decide as coisas da cabeça dele e faz. A PM estava ali há algum tempo tendo seu valor salarial desgastado. Esse caldeirão não explodiu de uma hora para outra. Minha única participação no episódio foi que eu gravei um vídeo logo quando estava acontecendo. Eu apelei para o governador. Na visão do Hartung, no que eu senti, o militar tem de receber o seu salário e calar a boca. Se não está contente, vai embora. O que não pode é os governadores se prevalecerem da disciplina militar para subjugar os militares. Isso não pode acontecer.

Uma criança que cresce vendo dois homens algo de anormal vai passar na cabeça dela
Jair Bolsonaro

O senhor é conhecido pelas polêmicos em que o senhor se envolve, como o que o senhor chama de kit gay. O STF reconheceu a legitimidade do casamento homoafetivo. O senhor pretende mudar isso?

Eu vi a Carmen Lúcia do Supremo dizendo que o STF não legisla. Você vai no inciso 3 do artigo 226 da Constituição. Para efeito de segurança do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher. O Supremo passou por cima do dispositivo constitucional.

No Executivo, o senhor tentaria reverter essa situação?

Da minha parte, nós vamos buscar uma maneira de ou vai para legalidade ou continua sendo ilegal. Mas não seria uma prioridade do governo meu essa causa LGBT. A causa LGBT prioritária minha continua sendo o material escolas. Que continua chegando em conta gotas nas escolas por aí.

Para deixar claro: o senhor é contrário ao casamento gay?

Sou contrário ao casamento gay. Não vou perseguir ninguém que esteja vivendo com seu outro par.

O senhor é contrário à adoção por casais homossexuais?

Sou contra. Completamente contra. Se passar por lei tudo bem, caso contrário tomo as providência cabíveis. Há uma explicação para tudo isso, mas uma criança que cresce olhando para dois homens, algo de anormal vai passar na cabeça dela. É a minha opinião. Ok. E não vem com histórica de que é melhor adotado por um casal gay do que permanecer em um orfanato, que isso aí não cola. Você tem que flexibilizar, facilitar a adoção por parte de quem quer que seja que tenha condições de adotar.

O senhor fala em kit gay e o senhor insiste em dizer que ele seria distribuído para crianças de 6 anos. Mas ele seria distribuído a alunos do ensino médio. De onde o senhor tirou essa informação sobre crianças, deputado?

A minha fonte é uma imagem. O André Lázaro, secretário de alfabetização do Ministério da Educação. Eu acho que quem é alfabetizado prioritariamente são criancinhas. E ele foi bem claro ao dizer que discutia até quanto a língua de uma menina entraria na boca de outra menina às gargalhadas. Então, o material era sim para o ensino fundamental sim, era para crianças.

O elemento faz um grupo de pagode e começa a ganhar dinheiro e ele diz que bota uma loirinha embaixo do braço
Jair Bolsonaro

Recentemente o senhor falou sobre o papel dos negros na escravidão dos negros. Qual o papel dos brancos na escravidão dos negros?

Uma outra época. Quem daria uma boa resposta para você é o Mister Catra. Ele acabou de falar sobre isso aí. Ele falou que quem aprisionava o negro na África não era branco, era o próprio negro. Quem caçava negro aqui era na maioria das vezes o próprio negro. Quem escravizou o negro aqui, segundo o Mister Catra, e agora é o grande estudioso no assunto, que se eu falo é escândalo, o próprio Agnaldo Timóteo fala que o maior racista é, segundo ele, o próprio negro. E ele diz quando o elemento faz um grupo de pagode e começa a ganhar dinheiro, ele diz que bota uma loirinha embaixo do braço. Essa questão do racismo no Brasil eu vou na linha do Morgan Freeman quando ele falou (no programa 60 Minutes, da CBS, em 2005) sobre como você combate o racismo? É não tocando no assunto, é não discutir esse assunto.

O senhor prefere não discutir?

Não tem de discutir. Isso é passado. Eu sou contra cotas raciais no Brasil.

As pessoas acham que a gente precisa se colocar no sapato dos outros para saber como o calo de cada um aperta. Escuto muitos relatos de negros que são submetidos a revistas vexatórias, que são parados indevidamente por policiais ou que são vistos de forma preconceituosa. Ao não discutir, não se perpetua esse tipo de comportamento?

Esses seguranças e esses policiais são todos brancos? Eu olho com desconfiança em determinados momentos, mas não me interessa a cor da pele, é a atitude dele, é a atitude do elemento.

É a atitude?

É a atitude. Você pega um policial militar, por exemplo, vivido, sem querer ser preconceituoso, mas a princípio ele sabe se aquela pessoa quer fazer algo de errado ou não.

Tirocínio?

Tirocínio. O meu sogro é o Paulo Negão...

É só uma coincidência?

Não é uma coincidência. Existe preconceito, mas como é que é que você vai combater isso aí?

Eu estou perguntando ao senhor...

Na minha opinião você só combate como o Morgan Freeman falou. Você tem de não tocar nesse assunto.

O deputado Jair Bolsonaro em seu gabinete na Câmara dos Deputados. (Igo Estrela/Estadão)

Vou fazer um paralelo. Se o senhor tem um problema dentro da tropa, o comandante deve fechar os olhos para aquele problema ou ele deve conversar com a tropa, fazer uma ordem do dia por exemplo?

O comandante tem buscar uma maneira de a tropa cumprir sua missão. Não é ficar inventando problema. Você não vai falar de política dentro do quartel. Tá errado.

Mas eu já vi ordem do dia de...

Do 31 de março? Tem de fazer. Comigo vai ter. Vai ter o 31 de março e o 2 de abril. Lógico que vai ter. É a história. Ou vamos ter de deixar os derrotados contar a história?

E 35 vai ter também?

Morreu mais gente em 35... (data do levante comunista no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte)

Vai ser lembrado?

Pode ser lembrado.

O senhor estará na comemoração na Praia Vermelha?

Estarei. Já estive várias vezes na Praia Vermelha, porque colegas nossos foram assassinados dormindo. O que é que ísso aí? É uma insanidade por parte dos assassinos? Você tem de lembrar a história.

O senhor lembra do 31 de março, lembra o 2 de abril, o senhor lembra de 35, mas o senhor quer o silêncio em relação ao racismo?

O racismo onde? Eu não sou racista. Eu respondo por mim. Você não pode falar em preconceito no Brasil. O problema do povo brasileiro é emprego, é salário, é fome, é água não é isso daí. Querem colocar essas questões na frente como se fosse muito mais importante para um afrodescendente ou um gay discutir isso do que a falta d'água do que as nossas riquezas sendo roubadas, do que a questão do nosso Parlamento em grande parte pessoas preocupadas consigo próprias.

Não vou liberar dinheiro para ONG que sustenta esse tipo de gente. Eles vão ter de trabalhar para sobreviver
Jair Bolsonaro

O general Villas Boas disse que se identifica com algo do senhor que, a exemplo do Trump, seria o combate ao exagero do politicamente correto. O que seria esse exagero?

Eu explodo o politicamente correto no Brasil, no que depender de mim. Se chegar qualquer coisa aprovada aqui que leve para isso terá o meu veto lá. Acabaram com a nossa alegria. Imagina o Costinha vivo. Ele contando piada de bichinha... Estaria preso, condenado, prisão perpétua pra ele. Acabaram com nossa alegria de viver, não pode fazer uma brincadeira,uma piada, tudo não pode, é preconceito. Tá aí as feministas, tá aí o LGBT, as minorias. Uma desgraça no Brasil. Eu acabo com isso no Brasil sabe como? Não liberando dinheiro para ONGs que sustentam esse tipo de gente. eles vão ter de trabalhar para sobreviver e não ficar vivendo do politicamente correto.

O senhor também vai tentar revogar a lei da palmada?

Eu fui contra a lei da Palmada. Se for presidente você tem de buscar uma maneira. Só na base da conversa. não dá certo na conversa. O ser humano desde quando começa a ter razão, ele tem de ter algo a temer. Você tem de educar o ser humano lá na raiz, lá embaixo, ele tem que entender que na sala de aula ele tem muito mais deveres do que direitos. Esse ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) também tem uma centena de direitos e quase nada de deveres.

O senhor também mudaria o ECA?

Vamos tentar mudar né. Eu sou aqui ferrenho defensor da educação da maioridade penal.

E o senhor mudaria também o Estatuto do Desarmamento?

Eu sou amante da legislação americana. Cada Estado tem seu Código Penal. No que depender de mim, você cidadão de bem vai ter a posse de arma de fogo. Eu não durmo em casa sem uma arma do meu lado.

Ah não?

Não.

Qual arma o senhor tem?

Eu tenho uma 380 e um .40. Você acha que eu posso ter paz na situação que eu vivo no momento?

Ficam onde?

Fica próxima de mim. À noite, ali no instinto, eu pego a arma.

No criado mudo?

Fica ali do lado da cama. Dificilmente um policial militar não tem esse comportamento.

Sem tiro de advertência. Primeiro na testa.
Jair Bolsonaro

É, conheci um coronel que deixava a metralhadora de lado...

Se depender de mim o fazendeiro vai ter fuzil.

Pra quê?

Pra se defender do MST. O cara chega na fazenda, dá uma foiçada na perna do boi, o boi cai no chão, ele dá uma foiçada, pega o cupim e vai comer o churrasco em casa e deixa o boi agonizando. Qual o tratamento para esse cara que tem de ser dado?

Qual?

7,62 (calibre de fuzil). Agora não vejo. Os defensores de direitos dos animais levantar uma palavra contra isso aí. Nada.

O senhor acha que sem-terra que invade terra tem de ser fuzilado então?

Isso chama-se invasão de propriedade. A propriedade é privada. Se alguém entrar em minha casa merece se fuzilado? Ou vou esperar estuprar minha mulher, né? E quem sabe me matar – matar ia resolver o problema – ou me sacanear também.

Não vou agir como canalha, covarde e depois me juntar aos bundões por aí e soltar pombinha em Copacabana e abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas
Jair Bolsonaro

Com tiro de advertência ou sem tiro de advertência?

Sem tiro de advertência. Primeiro na testa, invasão de domicílio, de propriedade privada, não vou agir como um canalha, como um covarde e depois se juntar aos bundões por aí e soltar pombinha em Copacabana e abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas para combater a violência. Deixemos de ser hipócritas. Pode ter certeza: se começar a fazer isso, acaba a invasão de domicílio, acaba a invasão de MST. MST são marginais, bandidos. O pobre do produtor rural, não basta os problemas que têm com o governo, ele tem de aturar marginais que invadem sua propriedade, que depredam sua casa, destroem sua plantação e comem seu gado. Não pode ter isso aí. Isso pra mim é terrorismo. E não foi botado na Lei de Terrorismo só porque PT, PCdoB e o PSDB em parte não deixaram.

Muita gente diz que violência não se combate com violência. O senhor acha que é o contrário?

Então você vai combater estuprador com ânus. Você tem de combater com porrada, é a lei que ele entende. Vai combater como? Se o cara for preso, no que depender de mim não tem progressão de pena para esse tipo de crime. Eu pretendo, mas não quer dizer que eu vou ter como presidente mudar tudo isso aí. Vai depender do Parlamento. Vai depender. De quem optar em mim votar para deputado e senador com perfil semelhante.

O eleitor do senhor nunca vai ver o senhor abraçando a Lagoa Rodrigo de Freitas?

Negativo, eu não sou palhaço.

O senhor insiste que não vai se retratar em hipótese alguma sobre o caso o caso Maria do Rosário. Alguém merece ser estuprado ou isso foi só um desabafo? O senhor não tem medo do Supremo?

Eu não tenho medo. Eu respeito. O Executivo com o Temer, com os ministros envolvidos, é o que nós temos. Nós não podemos aqui querer buscar um salvador da Pátria. Ministro Fux... Isso pesa, ministro Fux (Bolsonaro está respondendo a ação por apologia ao estupro por ter dito em uma discussão que a deputada Maria do Rosário, do PT-RS, não merecia ser estuprada por ele). Não pode fazer isso com um homem como eu. Eu não sei o que levou ele a fazer isso, por qual motivo. Não vou falar besteira, não vou cometer o erro que, no meu entender, aquela turma do Supremo cometeu. O próprio ministro Barroso, quando leu seu voto, disse que, após o caso Bolsonaro, teremos um novo paradigma para o instituto da imunidade parlamentar. A imunidade é para eu falar qualquer coisa. Não é para roubar não. O que eu espero que o Supremo faça agora? É que me dê um tratamento como dá para todo mundo. A previsão, quando chega a esse ponto meu processo, é de quatro a cinco anos para ser votado. Eu espero que não queiram, à toque de caixa, colocar em votação nos próximos meses ou semanas para me prejudicar eleitoralmente em 2018.

Se o senhor for presidente, não se mexe na legislação de aborto do País?

Se depender de mim eu jamais sancionarei um projeto de lei favorável ao aborto.

O senhor vetaria?

Vetaria.

Vetaria também a legalização a maconha?

Vetaria. Se alguém me provar os benefícios da maconha...

Eu torci pelo Trump
Jair Bolsonaro

O senhor também mudaria a demarcação das terras indígenas?

Estive em Roraima em poucos meses. Roraima é um Estado que poderia ser o Estado mais rico e próspero do Brasil. Eles têm tudo lá, mas Roraima não tem como ter energia. Mas você tem o Rio Cotingo que, pela topografia, você pode construir três hidrelétricas lá. Uma só já seria suficiente para abastecer Roraima e ainda sobraria metade.

Mas o Cotingo passa pela reserva Raposa Terra do Sol. O senhor pretende mudar a forma de demarcação de terras indígenas?

Agora eu te pergunto: se eu quiser reduzir em poucos quilômetros uma reserva indígena, como o mundo interpretaria uma ação dessa? Nós sofreríamos embargos econômicos. Hoje em dia, eu como patriota, com muita dor no coração, eu ouso dizer, que a Amazônia não é nossa. Eu procuraria os EUA, o Trump para negociarmos e explorar em parceria as riquezas daquela área. Se eu falar que a Amazônia é nossa, nós vamos perdê-la. Por isso, eu torci para o Trump. Se fosse a Hillary, ela não aceitaria conversar.

O senhor não tem medo de ser chamado...

Capitão Custer? Não tem problema. O dia que eu me acovardar vou ser político como outro qualquer. O cara sempre vai para a contemporização. Conversei com índio, e o meu sentimento é que a maior parte dos índios não quer viver como animal isolado em jardim zoológico. Ele quer internet, televisão, futebol, quer dentista e quer que a máquina de farinha seja movida por motor elétrico e nao pelo braço.

Esses ambientalistas torçam para eu não virar presidente
Jair Bolsonaro

O senhor não teme a reação dos ambientalistas?

Esse ambientalistas torçam para eu não ser presidente da República e me caluniem muito. E posso te falar do Vale do Ribeira, da foz do vale do Ribeira ou da Baía de Angra...

No Vale do Ribeira tem um grande problema que é a extração de palmito. Isso levou a um extremo desequilíbrio na Mata Atlântica. O senhor acha que o morador dali deveria poder continuar a extrair o palmito?

Minha mãe teve sete filhos. Como eu morei na fazenda Quirongoze (no Vale do Ribeira), o dono era Jorge Alves de Lima, algumas vezes por mês eu ia sozinho com uma foice, um facão e trazia o palmito lá para mim e para minha família. Hoje em dia, o palmito você pode extrair. Ele é conhecido como palmito cabrito, com todo respeito, tem uma imaturidade que isso aqui é um crime, mas um palmito grande não tem nada de mais explorar isso aí. Até porque esse palmito silvestre, se você orientar o cara que tira, ele vai ajudar no cultivo do palmito. Nós não podemos ser plenamente dizer não pra tudo.

O senhor fala muito Trump e uma de suas polêmica é o aquecimento global, ele quer tirar os EUA do Acordo de Paris. No caso do Brasil, o País se comprometeu em controlar o desmatamento na Amazônia. Além disso, quem não desmatou tem de preservar 80% da propriedade sem desmatar. O senhor pretende manter essa legislação? O senhor acha que, do ponto de vista científico, a questão do aquecimento global está suficientemente provada?

Olha só, em 2011, o mundo tinha sete bilhões de habitantes. Em 2025 nós teremos oito bilhões de habitantes. Em média se come no mundo um quilo de comida por dia. Cada ano que passa, além da produção de comida você tem de botar mais 80 mil toneladas de comida para o povo comer. Pelo que nós sabemos nós não estamos produzindo nada em Marte, Vênus, Júpiter, Saturno, Plutão, fora a Via Láctea. Então você tem de produzir. Eu não vejo no mundo você falar em planejamento familiar.

Mas, deputado, o senhor pretende modificar as restrições para que o agronegócio possa desmatar mais do que hoje?

Tem gente que usa paletó e gravata como nós estamos aqui que você cria boi no interior de casa e planta soja na cobertura. Acabei de falar que há uma pressão no mundo por alimentos. Eu posso ser simpático à política ambiental se nós tivéssemos no mundo uma política de planejamento familiar. Porque o Brasil, a gente cresce dois milhões de habitantes por ano.

Por necessidade nós seremos canibais e desmataremos
Jair Bolsonaro

O argumento do senhor é isso é uma necessidade?

Não é que eu seja favorável…

O senhor acha que a necessidade vai se impor?

Sim a necessidade vai se impor. Em função do crescimento populacional. Eu te pergunto: você é favorável ao canibalismo? Você vai dizer que não. Mas se você estivesse no avião dos Andes talvez você seria obrigado a fazê-lo. Eu sou favorável ao desmatamento? Não. Mas por uma necessidade nós seremos canibais e desmataremos.

Como candidato, o senhor acha que mais ajuda ou mais atrapalha as pessoas lembrarem aquela declaração do senhor de que o Brasil seria melhor se a ditadura tivesse matado mais gente?

Mais ajuda, porque eles sabem a minha sinceridade. Eu nao vou dar um tiro em você. Quando cheguei na amara aqui havia um batalhão de anistiados. Todo mundo queria democracia, comendo na mão de Fidel Castro. É o diabo falando em salvar almas. Aqui eu não deixo sem resposta. O Jean Wyllys disse que a Dilma foi torturada, que quebraram a mandíbula dela. É só pegar o Raio-X e ver.

Mas ela apanhou...

Mas na foto dela no tribunal ela estava sorrindo.

Como força de expressão, se a Dilma apanhou foi pouco
Jair Bolsonaro

Mas isso foi tempos depois.

Ela diz que não entregou ninguém, que não respeita delator. Você acha que uma torturada não conta nada? Não prego você dar porrada, torturar, mas como força de expressão, se a Dilma apanhou, foi pouco, que é mentira. Ela colaborou com tudo, pelo que eu sei sem problema nenhum, porque ninguém resiste à tortura. Ela diz que foi torturada por mais de 30 dias. Ela está mentindo, não foi torturada.

O senhor teve uma discussão com uma jornalista e o senhor disse: “Eu estou cagando para você”. Esse tipo de reação em uma campanha para a presidência mais ajuda do que atrapalha?

Não é uma obsessão a presidência da República. Para mim entendo como uma missão. Acho que Deus está me dando essa missão. E vou cumprir essa missão. Eu não vou vender minha alma para agradar quem quer que seja. Esses anistiados que estão aí, são mais de 20 mil, se eu chegar lá, a gente vai rever isso aí e vão pagar imposto de renda. Essa jornalista me chamou de mentiroso. Para mim me chamar de mentiroso e transgressão disciplinar nas Forças Armadas e a transgressão mais grave que tem e a mentira. Se você é cabo não sai terceiro-sargento, se é subtenente não sai segundo-tenente, se é coronel não sai general se um dia você mentiu, essa transgressão disciplinar não é apagada da sua folha depois de um tempo. Eu detesto a mentira e quando ele me chamou de mentiroso, quando eu falei do 2 de abril, eu a chamei de idiota e depois eu disse o cagando para você quando ela falou que ia me processar. Aquilo é guerra, e momento, que aconteceu.

Flagor da batalha?

Flagor da batalha.

Daria uma de Trump: Fake news, passa para outro
Jair Bolsonaro

Mas as pessoas podem entender que o candidato não tem estabilidade emocional para ser Presidente da República?

Obviamente um presidente não seria questionado dessa forma, até porque eu como presidente da República eleito, se você fizer uma pergunta sobre a Lei de Anistia eu vou dizer: Respeito a lei de anistia, é daqui para frente, o que o povo tem é fome, e vontade de ter um dinheiro de comprar um carro, ir ao cinema, ar escala ao ilhó, se divertir, para comprar televisão e que o filho seja alguém na vida. Daria uma de Trump ali: Fake news, passa para outro. Não tem papo. A gente tem de discutir o Brasil daqui para frente, porque nós os militares respeitamos as leis, a esquerda não respeita.

O senhor também tem uma presença forte em mídia social. Eu estive analisando várias intervenções que o senhor fez e tem algumas em que o senhor deixa descontente até eleitores do senhor?

Qual o sentimento meu. A pessoa não gosta de você, mas diz que gosta do Bolsonaro e faz uma pergunta: ‘Bolsonaro, eu sei que você persegue negros, que você é contra judeu eu até posso concordar contigo, mas... Isso é uma armação, uma sacanagem do cara.

O cara falou: ‘Deputado essa sua proposta é uma bosta’. Eu falei: muito obrigado, tem a sua cara
Jair Bolsonaro

O senhor acha que é armação?

Claro, pois o cara que tem o mínimo de juízo, de entendimento não faz um pergunta dessa para mim. Outro dia um cara falou um palavrão aqui: ‘Deputado essa sua proposta é uma bosta’. Eu falei: ‘Muito obrigado, tem a sua cara’. A ordem aqui (no gabinete) é o Facebook é meu. Sou eu quem responde. O comentário é meu. De vez em quando falo pra banir o cara da página, que é fake ou é um mortadela contratado que tem cérebro de ovo cozido.

O senhor acha que ajuda ou atrapalha – eu sei que é uma paródia – o senhor compartilhou no carnaval esse humorista que cantava: 'mamãe eu quero/ mamãe eu quero/ mamãe eu quero executar/ os comunistas/ os comunistas/ pro Brasil melhorar? Quando a gente compartilha a gente pode ter empatia ou crítica. Neste caso é empatia?

Como eu não quero executar ninguém, eu levo no humor. Tem vários humoristas me imitando por aí. Esse aí por acaso é o Rudy Landucci.

O senhor acha que ajuda ou que atrapalha as fotos dos cinco generais presidente do regime militar em seu gabinete?

Mostra quem eu sou para você. Eu não vou ficar botando a foto na gaveta daqueles cinco generais que eu admiro, que foram homens que nos garantiam a liberdade e a democracia a economia e o pleno emprego.

Esse papa é muito progressista
Jair Bolsonaro

O que o senhor acha do papa Francisco?

Esse papa está muito progressista. Eu preferia o João Paulo II.

Lula, em 2002, fez a Carta ao Povo Brasileiro para acalmar o mercado financeiro. O senhor pensou em fazer uma carta para afirmar o compromisso com a democracia?

Não, não pensei nisso não.

Por fim, por que o senhor acha que o eleitor deve votar no senhor?

Porque sou disparado o melhor de todos os outros juntos, se eu achasse que não tinha condições, competência e proposta para começar a tirar o elefante a areia movediça, eu não seria candidato.