Para a diretora do grupo para América Latina, Mónica Flores, as universidades não acompanham o desenvolvimento do mercado. Os cursos de formação ainda são elaborados com base no tipo de trabalho que era realizado no passado.
Os empregadores argumentam que os candidatos não têm habilidades extracurriculares, como flexibilidade e facilidade para se relacionar com outras pessoas. Segundo Roberto Costa, diretor comercial da consultoria Clave, as companhias exigem capacidade para examinar dados de forma profunda e de chegar a conclusões. Ele identifica essas características em apenas 20% dos participantes dos processos seletivos.
Algumas companhias têm feito uma revisão nas estratégias de contratação e optado por capacitar pessoas internamente. O nível de inglês e uma faculdade renomada já não são mais critérios de exclusão nos processos seletivos, inclusive nos programas de trainee.
Mas o apoio ao empreendedorismo ainda é pequeno. O professor de Negócios e Inovação do Instituto Nacional de Telecomunicações, Eduardo Grizendi, defende que o tema deveria estar nas grades curriculares das escolas. "Os jovens querem empreender, mas não sabem como", afirma.
A falta de preparo assusta quem quer apostar em uma ideia e cria obstáculos à entrada no mercado. "Eles descobrem que têm de abrir vários registros e pagar tributos, o que demora de três a quatro meses", explica Grizendi.
Para melhorar a estrutura do mercado de trabalho brasileiro, é necessário mudar a forma de enxergar o setor de comércio e serviços, cujas transformações afetam os demais setores da economia, diz o economista Jorge Arbache, do BNDES. "Para propor políticas públicas efetivas, é importante conhecer as particularidades do setor, que é muito diversificado", afirma.
Ele sugere pensar em políticas públicas que promovam a produtividade em todos os segmentos, principalmente nos insumos, que englobam desde a manutenção de máquinas, tecnologia da informação e logística até pesquisa e desenvolvimento. "Não é fundamental aumentar a produtividade da manicure, mas é essencial melhorar em pesquisa e desenvolvimento, pois isso agrega valor aos produtos finais e aumenta ganhos na indústria, por exemplo."
Mudanças que aumentem a produtividade nesse setor poderão ter impacto na indústria, nas exportações e no preço dos produtos. Assim, o País pode ganhar competitividade.