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O rumo do estaleiro

Com 82% das obras concluídas, empreendimento está
empacotando e guardando equipamentos para
evitar danos

A construção do estaleiro Enseada havia atingido 82% quando as obras foram paralisadas em abril. Se tivessem continuado no mesmo ritmo, nessa altura, o cronograma já teria alcançado 89% e até dezembro tudo estaria pronto. Hoje, no entanto, o caminho tem sido inverso: a empresa está guardando e empacotando tudo para evitar que a ação do tempo danifique os equipamentos ultramodernos, que resultaram de investimentos de R$ 2,7 bilhões aplicados até agora no empreendimento. No total, se o projeto for retomado, serão investidos R$ 3,2 bilhões.

No atual estágio, o estaleiro estaria empregando 5,8 mil trabalhadores, sendo 3 mil na construção da obra e 2,8 mil na parte industrial. Conforme a obra fosse acabando, o número de trabalhadores seria realocado na operação e manutenção do estaleiro. “Isso aqui era para estar pegando fogo, com operação a plena carga. Mas infelizmente não foi possível”, afirma o gerente industrial, Mario Moura. Ele conta que a empresa tem sido obrigada a iniciar um processo de hibernação dos equipamentos para evitar danos e estender o tempo de garantia das peças. Algumas máquinas são embaladas com plásticos ou caixas de madeira. As estruturas fixas, como trilhos, são cobertas com brita. Mas há aqueles equipamentos que não tem muito o que fazer, como é o caso do goliath – o símbolo da grandiosidade do empreendimento que ocupa uma área de 1,6 milhão de metros quadrados.

Trata-se de um superguindaste de 150 metros de altura (equivalente a 50 andares), com capacidade para içar 1.800 toneladas. Considerado o maior da América Latina, o equipamento demorou um ano para ser montado e exigiu o trabalho de 300 pessoas de cinco nacionalidades diferentes. Estava na fase de soldagem e testes quando foi totalmente parado.

Sérgio Castro

Os prejuízos do estaleiro não atingiram apenas os equipamentos, mas também a parte intelectual. O Enseada Indústria Naval mandou cerca de 80 trabalhadores para serem treinados no Japão, onde o casco do navio Ondina (o primeiro que seria entregue) está sendo feito. Praticamente todos esses funcionários foram demitidos, o que representa uma grande perda para a empresa. “Mesmo que voltem ao trabalho, parte do aprendizado se perdeu com o tempo parado”, afirma Moura.

A chegada do estaleiro Enseada ocorreu em 2012, mas as discussões para a construção do empreendimento começaram bem antes. A partir de 2007, com a descoberta de grandes reservas no pré-sal, os Estados brasileiros travaram uma briga para receber um estaleiro. São Roque do Paraguaçu, que já tinha um canteiro para construção e reformas de plataformas da Petrobrás saiu vencedora. Ali já tinham sido construídas a P-59 e P-60, o que garantiu uma certa especialização da mão de obra local. “Mas hoje não temos nem plataforma nem estaleiro”, lamenta a moradora Viviane Rocha de Jesus, de 30 anos, ex-funcionária do estaleiro.

“Os trabalhadores se aperfeiçoaram e hoje não tem para onde ir. Não há perspectiva de obras nesse setor”, afirma o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada da Bahia (Sintepav/PA), Irailson Warneaux.

Como o Enseada, outros estaleiros estão com problema no Brasil inteiro desde que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, foi deflagrada no ano passado. As denúncias envolvendo as empreiteiras (sócias de boa parte dos estaleiros) e a Petrobrás respingaram na Sete Brasil, empresa que detinha os contratos de construção de navios. Sem crédito e com dificuldades financeiras, a companhia parou de pagar os estaleiros, que também tiverem cortes nos financiamentos bancários. Sem dinheiro nas duas pontas, esses empreendimentos – que inauguraram uma nova fase da indústria naval brasileira – pararam ou reduziram drasticamente a operação. Com a revisão dos planos de investimento da Petrobrás, o setor corre o risco de retomar o período de estagnação da década de 80.

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