Comida na hora e quantidade certa e balanceado. A aproximação de uma fonte não representa nenhum risco – ninguém vai ser devorado porque não olhou direito para os lados ou pressentiu o predador de tocaia. Se ficar doente, tem remédio e médico. A competição pelo espaço é resolvida pela cerca ou pelos limites de um recinto – todos eles calculados. O do hipopótamo, por exemplo, deve ter uma área de 300 m² para abrigar dois indivíduos e um tanque de água deve ocupar 60% dessa área e ter 2 metros de profundidade.
Os bichos devem se sentir como Truman, no filme do diretor australiano Peter Weir. Tudo parece funcionar e estar ali desde sempre. O impacto dessa estrutura na vida dos animais foi medido em estudo publicado na revista Nature em 2016 por pesquisadores franceses, alemães e suíços, que constataram que o leão (Panthera leo) pode viver em média até 20 anos em um zoológico, seis anos a mais do que na natureza. “Os animais vivem mais no zoo não só porque não são predados, mas também porque recebem alimentação balanceada e estão menos sujeitos à acidentes e doenças, em razão dos cuidados veterinários que recebem”, afirma Luis Fábio Silveira, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).

Todo dia, 700 bandejas e 4 toneladas de alimentos são preparados pelos funcionários do Zoo de São Paulo para seus 2.950 animais – só os hipopótamos consomem 47 quilos de comida por dia. Carrinhos circulam pelas alamedas do parque logo de manhã. Os rinocerontes branco Adão e Eva identificam o som e se posicionam perto de onde os tratadores lhes entregam a comida todos os dias.
Longe do público, funcionários do zoo selecionam vegetais e animais que serão devorados todos os dias. O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), por exemplo, recebe uma papa, a papa do tamanduá que inclui leite de baixa lactose, beterraba, cenoura, ovo cozido, linhaça, fibras, calcário e ração. Outros animais recebem insetos, como baratas. As chamadas presas vivas servem de alimentação e recompensa. Há ainda os bichos que se alimentam de pequenos roedores, como porquinhos-da-índia, que são sacrificados em uma câmara de gás antes de serem entregues como repasto.







Velhinhos. O carro segue pela alameda em direção aos grandes macacos. É ali que se abre o grande lago do zoo, onde a longevidade dos bichos fica ainda mais acentuada. Ali estão os pelicanos e os flamingos chilenos, os bichos mais antigos do zoo. Os primeiro chegaram em 1969, apenas 11 anos depois que o parque foi aberto. “Os pelicanos estão quase sempre juntos”, afirmou a bióloga Kátia Rancura, chefe da Divisão de Educação e Difusão do Zoo.


Há três pelicanos nos zoo de São Paulo. Milhões de visitantes já passaram por ali quase sem prestar atenção nas aves. “Existem aves muito longevas, como os papagaios”, afirmou o professor Mário de Vivo, do Museu de Zoologia da USP. Entre os dez bichos mais antigos do zoo, oito são aves (entre eles um papagaio-moleiro de 1976) e dois são mamíferos – Julia, a macaca-aranha-de-testa-branca e um Jupará, da mesma família dos quatis.









A maioria das aves está nos lagos do zoo – o maior deles tem 3,36 hectares e um volume estimado de 27.380 m³ de água. De tempos em tempos, ela são examinadas por biólogos e veterinários, que fazem o controle da população. Os cisnes-brancos e pretos podem viver até 25 anos. Outra espécie comum ali é a caporococa ou cisne-coscoroba (Coscoroba coscoroba). Todos convivem com as aves migratórias.


“Não temos a contagem exata de quantos anatídeos (gansos, marrecos e patos) migratórios recebemos neste período, mas estimamos que a população do lago pode ao menos triplicar. Sabemos disso pela quantidade de ração oferecida. No verão são aproximadamente 7 sacos de 30kg e no inverno, no auge da presença dos marrecos migratórios, oferecemos aproximadamente 18 sacos de 30kg para atender a demanda de todas as aves”, afirmou Flávia Tacomi, da Divisão de Educação e Difusão do Zoo.
Circundando o lago estão algumas das atrações mais populares do zoo. Pesquisa feita em 2016 pela Fundação Zoológico com visitantes maiores de 14 anos mostrou que o tigre-siberiano é o “bicho preferido” dos visitantes. A lista inclui ainda outros 19 animais, como os elefantes e os leões.
















Crise. Por dia, em média, o zoo recebeu em 2016 3.722 visitantes – foram 1.358.498 no ano, uma queda de 15% em relação a 2015, pois a crise econômica também afetou o movimento do parque, conforme admitiu Paulo Magalhães Bressan, presidente da fundação. O número de animais no zoo também caiu. Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que eles eram 3.197 em 2012. Em 31 de dezembro de 2016, esse número havia caído 7,7%, baixando para 2.950.



Entre uma parcela pequena dos visitantes há sempre aqueles que se encantam com os bichos e tentam se aproximar demais, ultrapassando as barreiras de segurança, arriscando-se ou expondo crianças ao perigo. Há ainda quem se transforma em um perigo para os bichos, que resolve dar chocolates ou jogam pedras nos animais para vê-los se mexer. “Uma mãe jogou uma vez uma chupeta para o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)”, contou a bióloga Mara Cristina Marques.


Há ainda quem abandona animais no zoo. São papagaios, jabutis, saguis, tucanos, corujas, tatus e até uma preguiça – que estava com as garras cortadas – foram encontrados pelos funcionários da fundação. “As pessoas trazem os bichos escondidos em mochilas”, afirmou Mara Cristina. Nem todos ficam no zoo. Mas é qualquer bicho que pode ficar nos 824,5 mil m² do parque. Além de alimentar e cuidar de seus bichos, os 340 funcionários também participam de outra função: eles decidem quem nasce e quem vive no zoológico.