A gloriosa história residencial de ostentação do Castelinho da Rua Apa foi interrompida a tiros. O excêntrico imóvel foi erguido em 1912 pela família César Reis, dona do cinema Broadway, estabelecimento que fazia sucesso na Avenida São João, então endereço da elite paulistana.
No dia 12 de maio de 1937, uma discussão familiar acabou com a própria família. Desde que o pai havia morrido, era Armando, um dos filhos, quem cuidava das finanças. De acordo com jornais da época, Álvaro, o outro filho, queria investir em um novo negócio: transformar o tradicional cinema em um rinque de patinação. Até nome já havia inventado para o empreendimento – propalava aos quatro cantos que seria o Palácio do Gelo.
Foram acaloradas discussões entre os irmãos, por meses. A mãe, Maria Cândida, ficava no incômodo papel de mediadora, sem muito sucesso. Até que, pela versão oficial, Álvaro teria atirado contra ela, depois matado o irmão e, por fim, se suicidado. Tudo dentro do castelinho.
Maria Cândida tinha 73 anos. Álvaro, 45. Armando, 43. Como mostram fotos policiais da época, os três foram encontrados mortos naquela noite ao lado de uma pistola automática Parabellum calibre 9.
A versão divulgada pela polícia, entretanto, nunca convenceu a todos. Não havia consenso nem à época, já que há registros de médicos-legistas apontando que teria sido Armando o autor dos disparos.
A posição na qual os corpos foram encontrados, lado a lado, também desperta desconfiança. E, para aumentar o mistério, as balas encontradas no corpo da mãe não teriam sido da mesma pistola – e sim com um revólver de outro calibre. Todas essas dúvidas são levantadas e esmiuçadas no livro O Crime do Castelinho: Mitos e Verdades, que Leda de Castro Kiehl, sobrinha-neta de Maria Cândida, lançou em 2015.
Quando lançou o livro ela deixou claro que sua intenção era “limpar o nome da família”. Leda acredita que nenhum deles foi o autor dos tiros.
Fratricídio seguido de suicídio ou chacina, fato é que o castelinho acabou fechado logo após o crime pela falta de herdeiros diretos. Ficou para a União e, desde 1996, acabou concedido à ONG Clube de Mães do Brasil.
Um imóvel estranho, abandonado e palco de crime envolto por tanto mistério: terreno fértil para diversos relatos de fantasmas. Maria Eulina jura que nunca viu unzinho sequer.
Mesmo tendo passado muitas noites lá dentro.
Em 2015, a paranormal Rosa Maria Jaques e seu marido, João Tocchetto, conhecidos como os “caça-fantasmas brasileiros” foram até o local – chamado por eles de “o lugar mais mal-assombrado do Brasil”.
Coincidência ou não, meses após Rosa fazer seus trabalhos no local, a tão aguardada reforma finalmente começou. O relato saiu em livro: é um dos capítulos de Caça-Fantasmas Brasileiros, lançado no ano passado.