Eva e Juan Peron em Buenos Aires (Crédito: Arquivo / AP)

Início do peronismo

O coronel Juan Domingo Perón foi um dos membros mais importantes do governo militar que assumiu o poder na Argentina em junho de 1943, mas conseguiu mobilizar um grande movimento político em seu favor, recebeu apoio popular em uma manifestação em outubro de 1945 e foi eleito presidente em fevereiro de 1946.

Pano de Fundo:Criação do Mercosul Governou por seis anos e foi reeleito em 1951, mandato que não completou porque foi deposto por um novo golpe militar no país em setembro de 1955.

Nos 12 anos em que esteve no poder, Perón foi a figura central da política e seu nome foi dado ao movimento que o apoiava. Mais tarde, o peronismo surgiria em diversas bandeiras políticas no país.

No Estado peronista, a relação entre Perón e o sindicalismo era crucial, mas a ampliação do apoio aos setores populares não sindicalizados era importante e a comunicação foi feita por meio de Eva Perón, mulher do presidente, e uma fundação que levava seu nome. Essa fundação realizou obras sociais importantes. Eva recebia as pessoas e escutava seus pedidos, se tornou então a “encarnação do Estado benfeitor” e ganhou a marca de “Dama da Esperança”.

VÍDEO Eva Perón conquistou os argentinos

A volta de Perón

Em 1973, Héctor José Cámpora assumiu a presidência da Argentina. Em julho do mesmo ano, ele renuncia e, após novas eleições, Perón volta ao poder. Após sua morte em 1974, a mulher dele, María Estela Martínez, conhecida como Isabel Perón, o substitui, até ser deposta pelo golpe militar de 24 de março de 1976.

Isabel não tinha a mesma força de Perón e não recebeu o apoio nem das Forças Armadas nem dos empresários para enfrentar a crise econômica que surgiu, com o aumento do preço do petróleo encarecendo as importações e aumentando o custo das empresas e a inflação. Nessa conjuntura, o novo comandante-chefe das Forças Armadas, o general Jorge Rafael Videla, se negou a apoiar o governo, esperou que a crise econômica e a crise política desgastassem Isabel e preparou sua substituição.

Em dezembro de 1978, o governo fixou uma tabela de desvalorização mensal do peso, em mais uma tentativa de frear a inflação, mas a medida falhou porque a entrada de dólares no país aumentou e, consequentemente, as taxas de juros e a inflação não retrocederam. Além disso, a dívida externa começou a aumentar.

Em 1980, bancos importantes do país quebraram e o governo se endividou ainda mais para absorver as dívidas privadas. Com isso, a paridade cambial foi abandonada e o peso chegou a ter uma desvalorização de 400% no ano seguinte, desvalorização catastrófica para as empresas endividadas em dólares e para o próprio Estado.

O que era comemorado no início do regime militar – o combate à crise econômica sem a presença do desemprego – desmoronou. A crise, a inflação e agora a recessão reduziram o emprego e o salário real.

Argentinos protestam contra o ‘corralito’ (Crédito: Andrea Comas / Reuters)

Redemocratização e a Era Menem:

Quando o governo Jorge Rafael Videla chegava ao fim (1981), a sociedade começou a protestar de forma ostensiva contra o regime e organizações corporativistas, como a Sociedade Rural e a União Industrial, criticavam abertamente os aspectos da política econômica.

A 1981, a CGT (Confederação Geral do Trabalho) realizou uma greve geral e uma passeata até a igreja de San Cayetano (padroeiro dos desempregados), pedindo “pão, paz e trabalho”. Estudantes e alguns empresários engrossaram as vozes de protesto. No dia 30 de março de 1982, a CGT convocou – pela primeira vez desde 1975 – uma manifestação na Praça de Maio. Duas mil pessoas foram detidas e uma morta pela repressão governamental.

Os militares procuraram uma conciliação com os partidos políticos, exigindo a garantia de que os atos de corrupção e responsabilidades pelo desaparecimento de pessoas durante a ditadura não seriam investigados. A opinião pública e os partidos rechaçaram a proposta e, em novembro de 1982, fizeram uma histórica marcha pela democracia. Com isso, o governo marcou para o fim de 1983 as eleições.

No entanto, entre 1982 e 1987, o país estava prestes a declarar calote. O então presidente Raúl Alfonsín, que chegou ao poder em 1983 após uma ascensão vertiginosa, tentou contornar a situação fazendo pagamentos simbólicos da dívida.

Alfonsín entregou o cargo seis anos depois, em 1989, a Carlos Saúl Menem, no que foi a primeira sucessão constitucional no país desde 1928. Um ano antes de deixar o cargo, Alfonsin havia declarado o calote formal.

Na década seguinte, Menem conseguiu estabilizar a economia e atraiu investimentos externos ao custo de muitas privatizações. Mas a era Menem na Casa Rosada iniciou-se em um contexto de uma crise de grande proporção.

Notícia sobre a marcha reprimida, divulgada dia 31 de março de 1982 (Crédito: Acervo / Estadão)

Para remediá-la, o governo Menem também estabeleceu a paridade do peso com o dólar e promoveu privatizações e fortalecimento dos laços comerciais com o Mercosul.

Ao abraçar políticas de livre comércio, Menem fez da Argentina um país-chave no chamado Consenso de Washington. Ele conseguiu controlar a inflação e o país comemorou o crescimento econômico. Durante seu governo, a taxa alcançou a marca dos 50%.

Mas o período teve um custo para a segunda economia sul-americana. Com a expansão da economia, o desemprego também aumentou e a desigualdade social bateu recordes. A dívida externa cresceu de US$ 60 bilhões em 1992 para US$ 100 bilhões em 1996.

Esse período histórico foi marcado também pelos saques, que começaram na Argentina em 1989, quando centenas de estabelecimentos comerciais foram depredados nos arruinados municípios da Grande Buenos Aires durante o período da hiperinflação. Nos anos seguintes, foram registrados também saques em pequenas cidades do interior, que empobreceram rapidamente a partir do processo de privatizações do governo de Menem.


Acusação e condenação de Menem

Carlos Menem e o ex-presidente Itamar Franco (Crédito: José Varella / Arquivo / Estadão)

Mas não foi só na economia que Menem chamou a atenção. Nas páginas policiais, seu nome era citado em um caso de contrabando de armas para Croácia e Equador. Os casos teriam acontecido entre 1991 e 1995, quando existia uma proibição internacional para fornecer material bélico aos Balcãs, região acometida por guerras étnicas. A venda de armas para o Equador estava proibida porque o país acabara de negociar a paz no contencioso com seu vizinho, Peru. Para a acusação, porém, Menem teria contrabandeado mais de 6 mil toneladas de pequenas armas às zonas de conflito.

Em 2013, aos 82 anos, em uma sentença histórica, Menem foi condenado a 7 anos de detenção pelo crime. Ele sempre negou qualquer envolvimento, mas para a Justiça ele teria comandado a venda das armas de fabricação argentina que se destinava originalmente para o Panamá e a Venezuela, mas foram desviadas e sua documentação, adulterada. Com Menem, também foi condenado seu ministro da Defesa, Oscar Camilión, apontado com o “coautor” do contrabando.


Os anos De la Rúa

O ex-presidente argentino Fernando de La Rúa (Crédito: Reuters)

Como em 1983, o peronismo chegou à eleição de 1999 - para suceder Menem - sem um líder e perdeu. Desde 1995, cresceu o espaço potencial para uma força política opositora, cujas características ainda iriam se definir.

Dois anos mais tarde, nasce o Aliança pela Justiça, o Trabalho e a Educação e, após uma disputa interna, lança Fernando de la Rúa - então chefe de governo da cidade de Buenos Aires - à presidência. O resultado foi uma vitória com quase dez pontos à frente do segundo lugar, Eduardo Duhalde. De la Rúa recebeu, porém, um poder político limitado e condicionado pela crise econômica.

Em dezembro de 2001, dois anos depois da saída de Menem do poder, a Argentina estava à beira do colapso total, já que a crise econômica levou à pobreza milhões de argentinos de um dia para outro. As principais cidades do país transformaram-se em um violento cenário de batalhas campais entre desempregados que saqueavam supermercados e a Polícia.

A crise foi agravado pelo “corralito” (o maior confisco bancário da história argentina), no qual De la Rúa anunciou o bloqueio de parte dos depósitos de todos os clientes do sistema bancário do país. A medida afetou duramente a sociedade e a economia argentina e afundou a credibilidade do sistema bancário local.

Com resultado, não restou outra alternativa para De la Rúa a não ser deixar a Casa Rosada em um helicóptero. O palácio presidencial estava cercado por manifestantes que promoviam um panelaço contra seu governo. De la Rúa renunciou e a Assembleia Legislativa aponta Duhalde como presidente em janeiro de 2002. Ele ocupa o cargo por pouco mais de um ano.

Para as eleições de 2003, após saber da intenção de Menem de sair candidato novamente, sai em busca de um candidato para contê-lo. Depois de várias seleções, chega ao nome de Néstor Kirchner, governador da Província de Santa Cruz, até então desconhecido do público.

VÍDEO A amizade entre os Kirchners e Carlos Menem

Fonte: “História contemporânea da Argentina”, Luis Alberto Romero

Pano de fundo

Criação do Mercosul

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) nasceu em 26 de março de 1991 com a assinatura do Tratado de Assunção entre os governo de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A intenção era a integrar os Estados a partir da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos; do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC); da adoção de uma política comercial comum e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes.

MERCOSUL


O bloco seria uma resposta à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), formada pelos EUA. O Brasil via o Mercosul como uma forma de não se submeter aos EUA e a Argentina via o bloco como uma forma de se aproximar do país americano.

Na época da formação, os governos de José Sarney (Brasil) e Raúl Alfonsín (Argentina) iam mal, então eles se encontram e fizeram a ata do Iguaçu. O Uruguai tinha o PIB baixo e o Paraguai era um país muito pobre então vêm a entrada no bloco como uma forma de recuperação.

Em 1994, ocorre uma reformulação do Mercosul. A assinatura do Protocolo de Outro Preto estabelece a estrutura institucional do bloco, que ganha personalidade jurídica internacional.

Em 2010, o Conselho do Mercado Comum aprovou o Sistema de Pagamento em Moedas Locais entre os países-membro do Mercosul.

O Mercosul servia como mecanismo de aproximação regional e inserção competitiva no cenário internacional. Em consonância com esses objetivos, foi aprovado, em 2002, o Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias entre os Estados Partes. A partir da aprovação desse Protocolo, foi criado o Tribunal Permanente de Revisão com o objetivo de garantir a correta interpretação, aplicação e cumprimento do conjunto normativo do Bloco.

Ainda no âmbito institucional, o Parlamento do MERCOSUL, constituído em dezembro de 2006, representa importante avanço, conferindo maior representatividade e transparência ao processo de integração.

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