O mercado de planos de saúde aguarda a retomada dos empregos para voltar a crescer. Isso acontece porque os planos coletivos empresariais representam 56% de todos os contratos em vigor no País atualmente. Nos últimos dois anos, quase 3 milhões de beneficiários deixaram o serviço. “Muitas pessoas só conseguem ter planos de saúde por carteira assinada. Quando o emprego aumentar, vamos perceber uma melhora nos índices”, afirma a diretora-executiva da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab), Luciana Silveira.
Enquanto isso, cresce a adesão de idosos aos planos de saúde. Nos últimos 12 meses encerrados em março, houve queda de 2,6% nos beneficiários de 0 a 18 anos e de 2,5% entre 18 e 58 anos. Já a faixa acima dos 59 anos aumentou 1,6% no mesmo período, segundo a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).
Ter um plano de saúde é o terceiro maior desejo dos brasileiros, atrás da casa própria e de investir em educação, segundo pesquisa do Ibope, de junho deste ano. Quem não possui convênio quer entrar, mas o preço continua sendo o principal impeditivo, segundo 78% dos entrevistados.
Entre os motivos para o alto valor do serviço estão o aumento do envelhecimento populacional, desperdícios, fraudes médicas e outros problemas que pressionaram a inflação médica para cerca de 19,4% ao ano em 2016. “O plano de saúde do Brasil não é o mais caro do mundo, mas é o que sofre o maior reajuste”, afirma o superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro.
Com o rápido envelhecimento da população, a perspectiva é de que os custos vão continuar a aumentar. Estudo do IESS aponta que a demanda de pacientes com mais de 59 anos por serviços como internação, exames, terapias e consultas vai dobrar até 2030. Só as internações vão subir 105%. Os gastos assistenciais devem chegar a R$ 396,4 bilhões em 2030, um avanço de 272,9% em relação a 2014.
A conta fica mais pesada também para as empresas que pagam planos de saúde a seus empregados. Os custos com o benefício nos últimos doze meses aumentaram mais do que a inflação em 2017 para 81% das empresas consultadas pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), em pesquisa divulgada no início de julho.
No mundo corporativo, os planos de saúde são a segunda maior despesa da empresa com o funcionário - perdem apenas para o salário, de acordo com a consultoria de benefícios e capital humano Aon. O gasto médio por pessoa no Brasil chegou a aproximadamente R$ 3.600, em 2016. Para efeito de comparação, na última pesquisa feita pela empresa, em 2014, a média era R$ 2.890, diz a diretora técnica de Saúde e Benefícios da Aon Brasil, Rafaella Matioli.
Para tentar atrair um público que saiu dos planos de saúde nos últimos anos, o Ministério da Saúde entregou para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em março deste ano, uma proposta de criação de “planos de saúde acessíveis”. A ideia foi defendida pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, quando assumiu o cargo, em 2016. A ANS já realizou, no fim de junho, no Rio, encontros com especialistas e integrantes do setor de planos de saúde para debater a proposta. A avaliação está sendo realizada em duas etapas: uma interna, por parte dos técnicos da Agência, e outra externa, com a sociedade.
A premissa de que seja “significativamente mais barato” que os planos tradicionais, entretanto, sacrificaria algumas abrangências. A proposta encaminhada pelo Ministério da Saúde prevê três tipos de planos acessíveis. Todos, a princípio, na modalidade individual. O simplificado cobre apenas consultas e serviços de baixa e média complexidade, excluindo internação, terapias e exames de alta complexidade. O ambulatorial mais hospitalar determina que um médico da família indique o tratamento ideal. Já no serviço misto, o paciente tem acesso a tratamentos mediante pagamento previsto em contrato. A previsão é que a agência tome uma decisão até o mês de agosto.
Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a mensalidade terminaria não sendo tão vantajosa para o cliente. Em alguns casos, as participações, ou seja, quando o beneficiário vai ter de pagar por uma consulta ou procedimento, podem alcançar até 50%. “Esse alto custo fará com que a pessoa recorra ao SUS ou pague por um procedimento particular”, explica a advogada e pesquisadora da entidade, Ana Carolina Navarrete.
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