Com ruas arborizadas e casas de alto padrão, o Alto de Pinheiros, na zona oeste, é hoje o distrito de São Paulo com maior proporção de idosos. Quase 23% dos moradores têm mais de 60 anos, segundo o IBGE. O porcentual é alto. E vai crescer ainda mais até 2050, chegando a 45,5% dos habitantes do distrito, pelas previsões da Fundação Seade. Ainda assim, perderá seu posto de mais idoso da cidade: a Consolação, na região central, terá 54,8% de moradores da terceira idade.
Não causa surpresa que as maiores concentrações de idosos ocorram em bairros de classe alta ou média-alta. Uma das razões que explicam esse fenômeno é o fato de que os mais jovens, com renda menor, não conseguem comprar imóveis nessas regiões. “São bairros tradicionais, onde a oferta é residual e o preço é alto”, afirma o especialista em demografia econômica Vinícius de Araújo Mendes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Depois de Alto de Pinheiros, o segundo bairro com o maior número de pessoas nessa faixa etária é o Jardim Paulista, seguido por Lapa, Pinheiros, Consolação, Campo Belo e Vila Mariana.
A concentração de renda, no entanto, não garante que esses bairros não tenham problemas para quem envelhece. Basta uma caminhada para identificar as falhas de infraestrutura e serviços. Além do comprometimento da mobilidade a pé em alguns trechos, não é fácil encontrar pontos de lazer e cultura para a população com mais de 60 anos mesmo nos bairros preferidos por eles. Entre as três localidades com mais idosos, a Lapa é a campeã de mortes no trânsito e de atropelamentos em São Paulo.
O subprefeito da Lapa, Carlos Fernandes, diz que já tem um projeto em conjunto com a SPTrans e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para tentar reduzir o número de acidentes, principalmente na região da Estação da Lapa, do Poupatempo e do terminal de de ônibus. Ele quer começar as obras neste ano, mas os recursos para isso não estão garantidos.
Calçadas esburacadas e em desnível representam risco adicional, assim como a falta de sinais de trânsito. O subprefeito informa que a melhoria dos pavimentos também está prevista. “Estamos conseguindo verba parlamentar para dar início à construção de calçadas novas, acessíveis e seguras.” A topografia do bairro também não facilita a vida de quem tem problemas de locomoção. Além de muitas ladeiras, há inúmeras escadarias com degraus estreitos e trechos sem corrimão.
A Lapa, no entanto, se destaca pelas culturais e de lazer para os idosos. No Centro de Desenvolvimento para Promoção do Envelhecimento Saudável (Cedpes), há aulas de arteterapia, dança, fisioterapia, ioga, tai chi chuan e arranjos florais. Tudo graças a uma parceria da subprefeitura com o Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas.
Mea culpa
No Alto de Pinheiros, poucos idosos se arriscam a enfrentar os pisos desnivelados, irregulares e quebrados. As regras da CET determinam que as calçadas do bairro devem ter 1,5 metro, piso antiderrapante e sem espaços entre uma pedra e outra, mas a realidade é outra.
Presidente da associação de moradores, Maria Helena Bueno diz que os próprios donos das casas algumas vezes contribuem para piorar a situação. À medida que as árvores antigas vão morrendo, eles plantam sibipirunas, que têm raízes muito grandes. “O morador corta a raiz e acaba quebrando a calçada.”
Por outro lado, em quase todas as praças do Alto de Pinheiros há equipamentos de ginástica, embora alguns estejam enferrujados. “Estamos juntando dinheiro entre os moradores para colocar aparelhos de aço inoxidável e garantir o lazer com segurança”, conta Maria Helena.
Na Biblioteca Municipal Álvaro Guerra, um grupo de senhoras se encontra quinzenalmente para assistir filmes e debater após as exibições. O espaço também promove uma vez ao mês um clube de leitura voltado para a terceira a idade.
Futuro
A Consolação abrigará o maior número de idosos entre os bairros paulistanos em 2050. Os problemas por lá são semelhantes aos das outras localidades do topo do ranking. A condição das calçadas desafia o deslocamento a pé, agravado pela grande circulação de veículos, por se tratar de um bairro mais central. Para completar, os mais velhos convivem com a circulação de skatistas que frequentam a Praça Roosevelt, muitas vezes em velocidade incompatível com a caminhada dos idosos.
Segundo a presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Consolação e Adjacências (Amacon), Marta Lilla Porta, há muitas instituições que incentivam o relacionamento com as pessoas idosas, como a Universidade Mackenzie, a Pontifícia Universidade Católica (PUC), o Hospital Sírio Libanês e o Museu Judaico, entre outras. “Todas têm alguma atividade, mas de forma esporádica ou avulsa”, diz Marta, que defende que sejam unificadas, com uma programação organizada e constante.