Os problemas você já conhece. O semáforo fecha rápido e não dá para atravessar a rua sem precisar apertar o passo. Além disso, há calçadas esburacadas e desniveladas, passarelas só com escadas e vias onde a iluminação é fraca demais. Situação que dificulta a vida de todos, embora tenha mais impacto na vida de quem sofre com algum tipo de restrição de mobilidade. Caso de parte significativa dos idosos, além de grávidas e portadores de necessidades especiais. Considerando que o problema não parece próximo de uma solução, o que você pode fazer para reduzir os riscos à sua saúde e à sua segurança, sem ter de renunciar ao direito de andar por São Paulo?

Problema: Sinais que fecham rápido demais

Não, não é impressão, nem uma dificuldade só sua. A maioria absoluta dos idosos paulistanos (97,8%) não consegue atravessar ruas enquanto o sinal está verde para pedestres. Acabam tendo de passar quando o farol já está piscando. Foi isso que mostrou uma pesquisa feita pela Faculdade de Saúde Pública da USP, a mais específica sobre o tema. Isso porque eles não caminham à velocidade de 4,3 km/h, padrão estabelecido pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP). Os voluntários com mais de 60 anos que participaram do estudo em 2010, atingiram uma velocidade média bem inferior, de 2,7 km/h. O problema ajuda a contribuir para os altos índices de atropelamento nesta faixa etária. Um estudo apresentado pela CET recentemente apontou que os idosos representam um terço de todos os pedestres atropelados em São Paulo.

Basta ficar alguns minutos no cruzamento perto da Praça Roosevelt, na Rua da Consolação, por exemplo, para perceber o risco que os pedestres enfrentam diariamente por lá. O semáforo fica aberto para a travessia por 25 segundos, considerados longe do ideal, principalmente para quem se arrisca na faixa diagonal ou quem tem dificuldade de locomoção. Para complicar, ele começa a piscar depois de passados apenas 5 segundos, provocando um desespero que poderia ser evitado.

Entre as determinações do recém-lançado Estatuto do Pedestre estão a mudança do tempo de travessia e a manutenção dos 7 mil semáforos da capital. As intervenções nessa área começaram em maio, mas não têm prazo para serem finalizadas porque, de acordo com o secretário municipal de transportes, Sérgio Avelleda, o trabalho será permanente.

O que pode ser feito: Para que ruas como a da Consolação sejam usadas com segurança por pedestres sem prejuízos ao trânsito, o engenheiro da FGV Gabriel Stumpf afirma que seria uma ótima alternativa instalar semáforos inteligentes sem tempo fixo. Esse recurso possibilita que o mesmo sinal tenha tempos diferentes ao longo do dia, considerando os horários com maior fluxo de pedestres ou de carros, evitando um agravamento do congestionamento e infrações. Atualmente, no entanto, apenas 20% dos semáforos em São Paulo são considerados modernos e podem ser regulados a distância.

Fique atento! Pedestre, não atravesse com o sinal fechado para você, mesmo que não tenha nenhum carro se aproximando, e não cruze a via fora da faixa. Motorista, respeite a travessia e o semáforo, mesmo que o fluxo de pessoas seja pequeno. Para os idosos, a principal dica é sempre prezar pela segurança: atravessar na faixa, não correr e respeitar a sinalização. Na dúvida, o conselho é não arriscar. Se você se sentir inseguro, peça ajuda de alguém para atravessar.

Problema: obstáculos no caminho

Desníveis, buracos. Mas também postes, pontos de ônibus, orelhões e lixeiras. Tudo isso pode transformar o que seria uma simples caminhada em modalidade olímpica. Por meio da Lei das Calçadas, a Prefeitura determinou um espaço livre mínimo de circulação de 1,2 metro. Mas basta conversar com qualquer pessoa que circule pela cidade para perceber que a regra é desrespeitada inúmeras vezes. Vias limpas, bem conservadas, com piso antiderrapante, dimensões adequadas à circulação e mobilidade são determinações do Estatuto do Pedestre.

A lei prevê multa a concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços públicos que tenham postes, equipamentos ou mobiliário urbano - instalados em calçadas, praças e passeios públicos - que estejam em desacordo com as normas. Quem não se adaptar em um prazo de 90 dias, a contar da publicação da lei, no dia 14 de junho deste ano, terá de pagar R$ 500 por dia.

Victor Labaki
“Eu ando rápido, não foi falha na minha ‘engrenagem’. A queda foi culpa do buraco mesmo”, diz Maria de Lourdes, de 60 anos

O que pode ser feito: Se você for refazer a calçada na frente de sua casa ou prédio, priorize o uso de placas de concreto armado, que são resistentes e mais simples de instalar. Pedras escorregadias, como ardósia, devem ser evitadas, assim como plantas e árvores de raiz alta, que acabam quebrando o calçamento. Também evite instalar lixeiras muito grandes na calçada, para não reduzir o espaço de circulação.

A aposentada Maria de Lourdes Pires, de 60, foi apenas uma das vítimas das calçadas desniveladas. “Estava saindo do supermercado, andando com pressa e carregando peso, quando pisei em um buraco”, lembra. “Caí entre a calçada e a rua, poderia até ter sido atropelada. Me ralei toda, rasguei minha calça e meu pé ficou muito inchado.”

Fique Atento! A fisioterapeuta Ana Paula Lopes Pereira recomenda que, ao sair na rua, o idoso opte por sapatos com sola antiderrapante e alças que deem sustentação para o calcanhar. Pantufas, tamancos e chinelos devem ser evitados, pois dão menos estabilidade. Praticar atividades físicas com acompanhamento de um profissional, de duas a três vezes por semana, ajuda a aumentar a segurança, pois trabalha alongamento, força e equilíbrio. Tentar sair de casa com antecedência e sem pressa também é uma boa dica. Assim, você evita a correria - e as quedas.

Problema: Cadê a luz?

Ruas iluminadas adequadamente são imprescindíveis para a segurança. Mas não só. A falta de luz prejudica a locomoção dos idosos e pode causar acidentes graves. “Como a rua estava sem luz, não vi que havia tinta fresca na calçada. Escorreguei e caí”, lembra Maria de Fátima dos Santos, de 66 anos. “Tive que operar e me aposentar.”

Também prevista no Estatuto do Pedestre, a iluminação pública não é realidade em muitos bairros. Como pessoas mais velhas têm maior sensibilidade às fontes de luz e às alterações dos índices de refração e coloração, é importante que o tipo de iluminação seja bem escolhido. “O pedestre, e principalmente o idoso, precisa ser respeitado, tratado com dignidade e considerado no planejamento da cidade”, diz Meli Malatesta, de 63 anos, representante dos idosos no Conselho Municipal de Trânsito e Transporte.

Victor Labaki
“Hoje só saio na rua de dia e com minha bengala”, diz Maria de Fátima dos Santos de 66 anos

O que pode ser feito: Idosos precisam de ruas com iluminação clara, mas que não seja ofuscante. Para a arquiteta e urbanista da USP Maria Luisa Bestetti, os materiais usados nas calçadas também são importantes quando se trata de iluminação. Usar pedras pretas não é recomendado, porque elas absorvem a luz e dão sensação de profundidade, podendo ser confundidas com buracos. Ao mesmo tempo, o material não deve ser muito claro, para não refletir a claridade.

Fique Atento! O idoso deve evitar sair à noite ou caminhar em ruas escuras, pois fica mais difícil a identificação de obstáculos, como buracos, fios desencapados, pedras soltas ou até líquidos escorregadios, como ocorreu com Maria de Fátima. Quando não houver alternativa, a dica é andar com um acompanhante. Especialistas recomendam que o idoso use bengala, se isso for indicado pelo médico. Apesar de ser um item do qual poucos gostam, esse apoio extra garante segurança. Antes de adotar a bengala no dia a dia, no entanto, a fisioterapeuta Ana Paula indica que o idoso treine em casa.

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