Platini alerta para um
"novo Heysel"

Presidente da Uefa teme
grupos extremistas na Europa

Michel Platini foi o autor do gol que deu a vitória à Juventus na final da Copa dos Campeões de 1985, contra o Liverpool. Hoje, como presidente da Uefa, ele faz seu alerta: um novo desastre pode voltar a ocorrer se governos e dirigentes não unirem forças contra grupos extremistas que começavam a invadir as arquibancadas da Europa. Platini, porém, é acusado por muitas testemunhas de Heysel de ter ignorado os mortos em 1985 na conquista do que foi seu maior título com clubes. Neste ano, ele se recusou até mesmo a comparecer aos eventos que marcam a data.

“A Europa está vendo uma expansão do nacionalismo e extremismo como não víamos havia muito tempo”, disse o francês. “Essa tendência também pode ser vista em nossos estádios, já que o futebol é reflexo de nossa sociedade”, afirmou. “Diante de sua popularidade, nosso esporte é o barômetro dos males de nosso continente. E esse barômetro aponta para fatores preocupantes”, insistiu.

“Portanto, eu faço um apelo para maior atenção a esse problema por parte de nossas autoridades públicas para evitar que os dias negros de um passado voltem », disse. “Nos últimos meses, temos visto imagens que se parecem ao passado. Alguns de nós a experimentamos em primeira mão. No meu caso, faz exatamente 30 anos. Ninguém quer a volta de tais eventos”, disse o presidente da Uefa.

Michel Platini, presidente da Uefa, é criticado por ter dado a volta olímpica em 1985.
(AP/MICHEL PLATINI)
Sua proposta é que a Europa estabeleça regras mais duras para limitar e expulsar certos torcedores dos estádios. Ele também pede a criação de uma “força policial europeia dedicada aos esportes”. “Sentimos que estamos sozinhos no combate que precisamos realizar”, disse. “Mas é uma disputa que podemos ganhar se tivermos a ajuda das autoridades públicas”, completou.

Apesar do alerta de hoje, Platini é alvo de duras críticas na Bélgica por ter comemorado o gol que marcou, enquanto as pessoas ainda tentavam encontrar os mortos. Além disso, o craque deu uma volta olímpica com a taça, mesmo depois que a Uefa ter sido discreta na entrega da taça. Ele vivia o auge de sua carreira, e seu sonho era aquele troféu. Mas sua carreira será sempre marcada por essa mancha.

Oficialmente, Platini sustenta a tese de que os jogadores não sabiam que haviam mortos e que, depois do jogo, saiu de carro com seu pai. O jornalista Nicolas Ribaudo, que estava no local, tem outra versão. “Os torcedores, ensanguentados, foram se refugiar nos vestiários dos jogadores. Os jogadores ficaram trancados no vestiário por horas e até Trapattoni (técnico da Juventus) confirmou que o presidente de sua equipe declarou que não entrariam em campo. Como é que Platini pode dizer que não sabia?”, pergunta.

Platini, meia da Juventus, ao lado de Maradona, em 1987 (REUTERS)
François Collins, outro jornalista e porta-voz da candidatura da Bélgica e Holanda para receber a Copa de 2018, também sustenta a tese contra Platini. “Os jogadores entraram em campo sabendo das mortes. Depois, deram uma volta olímpica”, disse. Ele se lembra da dificuldade em escrever a crônica daquela partida. “Ninguém queria saber mais do jogo. O futebol era fútil e eu pensava que estava em um pesadelo”, insistiu. “Agora, a prefeitura de Bruxelas vai organizar uma cerimônia para o dia 29 para marcar os 30 anos. Mas Platini se recusou a participar”, alertou.

Oficialmente, a Uefa explica a ausência de Platini alegando que o dia cai no mesmo momento da eleição na Fifa. Mas a realidade é que existe uma tentativa da entidade e mesmo dos dirigentes belgas e ingleses de esquecer o drama. Depois das obras de reforma de Heysel, o estádio ganhou um novo nome: rei Baudoin. Placas para marcar os nomes das vítimas chegaram a ser retiradas e apenas voltaram ao seu local depois do protesto das famílias das vítimas.

Muitas dessas vítimas jamais receberam indenizações, sob a alegação de que não haveria como calcular o valor de suas vidas. Para marcar os 30 anos do desastre, os times sub-20 do Liverpool e Juve foram convidados a um “jogo da amizade”. Mas os ingleses se recusaram a fazer parte da homenagem.