Não beba, mexa-se! (1918-1928)
Assim que tomaram o poder na Rússia dos czares, em 1917, os bolcheviques passaram a ver e estimular o esporte como ferramenta política e de disciplina
Assim que o grupo dos bolcheviques, comandados por Vladimir Lênin, terminou por derrubar 300 anos de czarismo da dinastia Romanov (1613-1917), a Rússia nunca mais foi a mesma desde a madrugada de 25 de outubro de 1917. O esporte, assim como todos os lados da nova sociedade, sofreria enormes mudanças. No tempo dos czares russos, entre os séculos 17 e 20, a prática esportiva era considerada como um deleite da nobreza e uma maneira de buscar prestígio internacional. Modalidades como a corrida de cavalos, o halterofilismo e o ciclismo estavam entre as favoritas. A nobreza local também participou da retomada do movimento olímpico pelo Barão Pierre de Coubertin, a partir de 1894, e chegou a mandar atletas para os Jogos de Londres, em 1908.
Com os vermelhos no comando, isso mudou e o esporte passou a fazer parte do programa de internacionalismo proletário, que condenava o modelo burguês praticado na Europa industrial. A cultura física soviética deveria atender aos interesses de desenvolvimento das capacidades espirituais e físicas na defesa da União Soviética. Também passou a ser mal visto e proibido pelo Partido Comunista Soviético a busca pelo prazer, de recorde ou glorias individuais em competições esportivas. Substituição: sai o camisa 10 do futebol, que dribla e que pode desequilibrar a partida, e entra o time operário, coletivo.
Na primeira década da União Soviética, os dirigentes do partido encorajaram a popularização de modalidades como futebol, hóquei, vôlei e atletismo. As únicas modalidades esportivas menos voltadas ao coletivo que escaparam foram halterofilismo e lutas, como a greco-romana, já que eram extremante populares e símbolo de status tanto na Rússia quanto em países vizinhos, como a Bielo-Rússia, a Mongólia e outros países da Ásia Central, que foram ano a ano sendo incorporados à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Afasta de mim essa vodca!
Parece até piada dizer que houve uma política extrema antialcoolismo na extinta União Soviética, já que os russos sempre foram um dos líderes nos rankings de povos que mais bebem no planeta. Segundo uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país-sede da próxima Copa é o terceiro que mais bebe álcool no mundo, com uma medida de 18 litros por pessoa. O excesso de bebidas alcóolicas também é responsável, de acordo com a OMS, por uma de cada cinco mortes na Rússia.
Mas no tempo dos tavaritchs, os companheiros soviéticos, o estímulo à bebedeira deveria ser combatido e virou uma política de Estado para ficar de olho nos que gostavam de secar vários copos de vodca ou de Kvass, bebida tradicional local. Em especial nos campos, onde vivia grande parte da população no início do século 20, e onde o alcoolismo não era visto como problema. Na visão de Lênin e camaradas, os camponeses, uma das grandes forças da União Soviética, deveriam largar o vício, e com a implementação de uma política de cidadania por meio da educação física, deveriam fortalecer a ideia de disciplina e força para integrar as colunas do Exército Vermelho, que estaria de prontidão caso o novo país em formação fosse atacado.
Só que esta barreira intransponível, ao menos no campo esportivo, começou a ruir em 1928, quando o mundo se preparava para vibrar na nona edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Amsterdã. Como os soviéticos não participavam de associações esportivas internacionais, resolveram eles mesmos criar sua própria Olimpíada.
O mundo de 1918 a 1928
1918
A Primeira Guerra Mundial tinha chegado ao fim, com a vitória da Tríplice Entente, formada por Inglaterra, França e Rússia. A Tríplice Aliança, formada por Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália, sai derrotado.
1920
As mulheres ganham o direito ao voto nos EUA, que iniciam os chamados “anos loucos” com transformações na sociedade e na cultura norte-americana.
1922
No Brasil, é realizada a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. O movimento, que contava com artistas e intelectuais como Oswald e Mario de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, revoluciona o modelo de pensamento cultural no País por meio de ideias como a antropofagia e a valorização das raízes culturais brasileiras.
1924 e 1928
O Uruguai se torna bicampeão olímpico de futebol e ganha o direito de sediar a primeira Copa do Mundo, que seria realizada em 1930, com a presença de 11 seleções da América e da Europa.