Lênin assiste à Liga dos Campeões (2000-2008)
A final entre o Manchester United e o Chelsea na Liga dos Campeões foi apenas um dos muitos eventos esportivos que a Rússia passou a receber no Séc. 21. O projeto Copa do Mundo foi ativado e eles estavam de volta no jogo
Vladimir Lênin, lá do céu, ficou com os olhos arregalados com a cena: no mesmo estádio Lujniki, que já levou seu nome e tem uma estátua sua como guardiã, a atração em 2008 não era mais a força do homem soviético, e sim, um grande evento midiático do futebol e do capitalismo: a final da Liga dos Campões entre os ingleses do Manchester United e do Chelsea. Ao invés da foice e do martelo, o marketing e, no lugar da camisa vermelha da União Soviética, Cristiano Ronaldo.
Esta decisão, conquistada pelo United do melhor jogador do mundo, marcou definitivamente a entrada da Rússia na geopolítica dos megaeventos esportivos do Séc. 21. Vladimir Putin, que desde 2000 alterna entre os cargos de presidente e primeiro ministro, lidera um plano ambicioso de recolocar o país como referência mais uma vez, e tem no esporte uma das bases da retomada da Grande Rússia.
O olhar dele é para o futuro, mas, como bom russo, o pé no passado não desgruda nunca e Putin, um hábil negociador e que relativiza a importância da história e da tradição, mas não deixa de avançar, enxergou no campo uma das jogadas perfeitas manter o espantoso número de quase 80% de aprovação entre os russos, que consideram que ele trouxe a estabilidade mais uma vez, algo muito caro para os anfitriões desta Copa do Mundo.
Os emergentes no comando
A Rússia, junto com a comunidade dos países formada pela África do Sul, o Brasil, a China e a Índia, e conhecidas pela sigla BRICs, liderou uma caçada insana para sediar edições de Copas do Mundo e Olimpíadas de 2000 em diante. Para cada nação, havia algo em jogo, mas, em comum, elas apresentavam números impressionantes e constantes de crescimento anual, e com a euforia econômica aliada à cautela de nações mais desenvolvidas na Europa e nos EUA, que não estavam muito mais a fim de pagar as altas contas impostas pelo Comitê Olímpico Internacional e a FIFA, estava no papo.
No caso russo, cujos índices econômicos batiam fácil nos 8% no início do milênio, um dos projetos mais caros a imagem e aos interesses de Putin tem um valor estimado de U$67 bilhões, para sustentar um ciclo esportivo que, além da decisão inglesa da Champions, levou à nação em reconstrução campeonatos mundiais de atletismo (etapa da Diamond League em 2015), Judô (2013), Taekwondo e Esgrima (2015) e natação (Mundial de 2015) e Pentatlo Moderno (2016) além de etapa da Fórmula 1, com a inclusão da cidade de Sochi em 2014.
A nível global, a Universíade, realizada em 2013 na cidade de Kazan, abriu a porta para os Jogos Olímpicos de Inverno (2014) e a dobradinha Copa das Confederações (2017) e a Copa do Mundo (2018), a cereja do bolo ou a pedra preciosa de um ovo Fabergé, uma preciosidade dos czares. Na Era Putin, sem data para terminar, a Rússia, por meio do esporte, quer deixar para trás a imagem de país esfacelado pela queda da URSS e mostrar para o mundo que sua águia de duas cabeças, uma mistura complexa de Ocidente e Oriente, tradição e futuro, e apego às tradições, nunca esteve tão viva e pronta para encantar e espantar o mundo quando o apito soar no próximo dia 14 de junho. Esta história fica para uma próxima.
A década dos BRICS (2008-2018)
Com exceção dos Jogos de Londres, em 2012, o bloco dos países emergentes, formado por Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia praticamente dominou a realização de megaeventos esportivos
2008 – Jogos Olímpicos de Pequim
2010 – Copa do Mundo na África do Sul
2013 – Copa das Confederações no Brasil e início da realização de mundiais das mais diferentes modalidades na Rússia.
2014 – Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi (Rússia), etapa de Sochi da Fórmula 1 e Copa do Mundo no Brasil
2016 – Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro
2017 – Copa das Confederações na Rússia e Mundial Sub-20 de Futebol na Índia
2018 – Copa do Mundo da Rússia