A revolta de Espártaco (1928-1936)
Em 1928, o mundo celebrava a Olimpíada de Amsterdã, menos os soviéticos, que naquele verão fariam seus próprios jogos, inspirados em um escravo romano rebelde.
O primeiro megaevento esportivo da história da Rússia completa na temporada 90 anos, e ajuda a explicar por que, nove décadas depois, o país volta a ser protagonista de um evento em escala global no esporte. Em 1928, uma grande parte da Europa dava sinais de que havia se recuperado das baixas causadas pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) celebrava a realização da nona edição das Olimpíadas modernas, com a participação de 46 países e 3.014 atletas.
Mas enquanto nos Países Baixos a euforia era grande com os Jogos e a Exposição Mundial, sediada no mesmo ano em Bruxelas, havia um convidado penetra e indigesto que queria roubar a atenção do mundo: a União Soviética, criada em 1922 e que nos anos 1920 já contava com seis das 15 repúblicas que formariam a URSS até 1991: Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Armênia, Geórgia e Azerbaijão. O modelo de esporte burguês do Ocidente era condenado pelos sovietes, que pregavam que a prática esportiva deveria ser voltada à disciplina e à coletividade, e não a glórias individuais. E assim pensaram: se eles têm Olimpíada assim, vamos criar a nossa própria, tavaritch!
Quem foi Espártaco?
A Spartakiad, conhecida de Jogos Soviéticos dos Trabalhadores, nasceu sob o governo de Josef Stalin (1924-1953) e teve como principal motivo festejar os dez anos da Revolução de Outubro e da nova cultura esportiva implantada no país. Só que o ano e a data escolhidos, as mesmas do que a Olimpíada na Holanda, não eram mera coincidência, e sim um boicote e resposta direta a um evento considerado por alas mais radicais do Partido Comunista, como o Proletkult e os “higienistas” como “uma relíquia do passado decadente do Ocidente” e “algo degenerado da cultura capitalista”.
Como forma de valorizar a força do trabalhador, o nome do evento foi inspirado na história do gladiador trácio Espártaco, que feito escravo pelos romanos, lidera, em 71 AC, o maior levante de escravos do Império Romano, com mais de 40 mil formando um exército rebelde, que perdeu a “Terceira Guerra Servil”. Como o corpo de Espártaco nunca foi encontrado e sepultado, a mitologia em torno de seu nome ficou ainda maior.
A paixão soviete pela bola e a política
Um dos sucessos da primeira Spartakiad, que foi realizada no estádio do Dínamo de Moscou, foi a disputa do futebol, que nos anos 1920 era uma das paixões soviéticas e que acabaria, nos anos seguintes, se tornando uma ferramenta de diplomacia e de abertura controlada ao mundo fora dos muros da União Soviética. A decisão da Spartakiad foi decidida em três jogos.
No primeiro, que reunia os melhores times da época na URSS, o Dínamo venceu o Lokomotiv por 5 a 3, enquanto que na prévia internacional a Ucrânia bateu os uruguaios, que haviam acabado de se tornar bicampeões olímpicos, por 4 a 0. O jogo final foi vencido pelo Moscou, que fez 1 a 0 nos ucranianos.
Com a entrada nos anos 1930, e com um cheirinho de Segunda Guerra Mundial pairando no ar, os soviéticos deixaram um pouco de lado a ideia da Spartakiad e começam a ter mais contato com o mundo exterior a partir do esporte, e a também a negociar a entrada na Fifa e no COI.
O mundo em 1928 a 1936
1929
Início da Grande Depressão nos EUA, com a quebra da Bolsa de NY. Aprovação de medidas duras para combater hábitos que se agravaram com o desemprego em massa, como o alcoolismo, por meio da Lei Seca.
1930
O Brasil participa da primeira Copa do Mundo e não avança de fase, pois apenas o melhor da chave com três se classificava. Jogos: Iugoslávia 2 x 1 Brasil e Brasil 4 x 0 Bolívia.
1933
Adolf Hitler sobe ao poder na Alemanha, e junto com Mussolini, que se encontra no comando da Itália desde 1922, iniciam uma era de regimes nazifascistas e de ameaça de quebra de tratados que davam certa estabilidade ao continente europeu.
1934
Realização da segunda Copa do Mundo, na Itália, e que seria vencida pelos donos da casa. O Brasil é eliminado na primeira rodada, ao perder para a Espanha, por 3 a 1, já que o regulamento previa jogos eliminatórios e sem pontuação.
1936
Guerra Civil Espanhola e subida de Francisco Franco ao poder. Acirramento nas diplomacias entre os países europeus e ameaças de invasões e conflitos.