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QUEM É SNOWDEN

Ligia Aguilhar

Murilo Roncolato

 

Não se engane, espionagem não nasceu nos Estados Unidos, nem foi inventada pela Agência de Segurança Nacional (NSA) deles. A prática é tão antiga quanto a vontade de empresas e governos saberem os segredos dos seus rivais. A internet só tornou o trabalho de todo espião mais fácil.

 

Edward Snowden sabe disso, trabalhou na área de inteligência e TI para o governo americano desde os seus 23 anos. Há um ano, o nome do ex-agente, então com 29 anos, era o mais falado no mundo. Tudo porque vazou documentos sensíveis do seu país e escancarou algo que já bem se desconfiava: todos estão sendo ou podem ser vigiados pela máquina de espionagem americana. “Hackeamos todos em qualquer lugar” é uma de suas frases.

 

Ele abandonou namorada, emprego estável (que pagava, segundo a empresa, algo em torno de US$ 122 mil por ano), colocou sua família e amigos – com os quais não pode mais se comunicar – na mira dos Estados Unidos, e se condenou a possivelmente viver o resto da vida longe de casa, com medo de ser preso ou morto a qualquer momento.

 

Snowden também sabia disso, mas alega não ter suportado viver sabendo que o governo do seu país fazia “esse tipo de coisa”. Pior. O alcance da NSA e agências aliadas é imprevisível e “apavorante”. Enquanto isso, as formas de prevenção são, quase sempre, ineficientes. Em nome da guerra contra o terrorismo “nós coletamos mais informações sobre os EUA do que sobre os russos”, já disse o ex-agente.

 

O conteúdo dos documentos revelado pelos jornais Washington Post, The Guardian e, mais recentemente, pelo The Intercept – criado pelos braços direito de Snowden, Glenn Greewald e Laura Poitras – gerou um efeito dominó. Barack Obama teve de explicar as ações do seu governo ao povo americano e a chefes de Estado – como Dilma Rousseff, que cancelou a visita que faria ao país e fez um duro discurso durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) –, e ainda arquitetar uma reforma da NSA, já aprovada na Câmara e a caminho do Senado americano.

 

 

 

De resto, ficou a paranoia e a desconfiança. Como efeito, leis de internet e privacidade, como o Marco Civil da Internet brasileiro – que só ganhou urgência e foi aprovado em um contexto pós-Snowden – são discutidas em diferentes países; empresas como Google e Yahoo! passaram a adotar criptografia em seus sistemas; e usuários começam a se familiarizar com soluções como Tor, para navegação anônima, e PGP, para e-mails protegidos, enquanto aplicativos móveis e celulares que se anunciam seguros vão surgindo e ganhando cada vez mais popularidade.

 

Agora o tempo de Snowden na Rússia está acabando. Seu asilo no país, concedido com prazo de um ano por Vladimir Putin, tem agosto como prazo. Se tiver sorte, a hospedagem pode ser prorrogada. Caso contrário, terá de procurar outro lugar para se esconder enquanto novos vazamentos, contendo o que Snowden chama de “crimes” da “agência de inteligência mais poderosa do mundo”, continuam a ser revelados mundo afora.

 

 

 

Reforma da NSA:

1. A NSA não tem mais autonomia para acessar informações dos bancos de dados do governo

2. Mesmo com autorização para investigar um telefone, a NSA terá poderes limitados

3. Os metadados telefônicos

não serão mais armazenados

pela NSA

4. O Congresso americano vai criar uma comissão para discutir

a questão da privacidade e monitorar atividades de inteligência

5. Dados de estrangeiros e

chefes de Estado também

serão protegidos

6.. Mais transparência sobre quem é alvo de investigação