Por Estevão Taiar, Fellipe Bernardino, Mariana Lima, Patrícia Oliveira e Tiago Nicacio
Empreender envolve riscos que são ainda maiores quando o País não cresce. Do salão de cabeleireiro da esquina até a loja do shopping, o consumidor desaparece. As vendas caem, as demissões aumentam, os salários encolhem. Para o empreendedor, o impacto aparece no fluxo de caixa: o que as empresas precisam pagar não acompanha a queda na receita.
Com efeitos da crise, ambiente para novos empreendedores ficou mais incerto FOTO: Lucas Terribili/Divulgação
O cenário menos favorável não quer dizer que oportunidades de sucesso tenham sumido do mercado. Mas elas precisam ser mais bem pensadas. “O empresário sempre é otimista. Ele dificilmente acha que as coisas vão dar errado”, afirma Dênis Pedro Nunes, da unidade de Gestão Estratégica do Sebrae.
Esse otimismo aparece na pesquisa divulgada neste ano pelo Monitor Global de Empreendedorismo (GEM, na sigla em inglês): o Brasil ocupa o topo do ranking, com a maior taxa de empreendedores com idades entre 18 e 64 anos. Com o desemprego subindo, as pessoas são levadas a empreender, explica o pesquisador do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), Roberto Marcelino. “A diminuição da burocracia, com iniciativas como o Simples Nacional, por exemplo, atua como um incentivo."
Se você está lendo este texto, deve estar no grupo dos otimistas. Então, para que seu empreendimento não engrosse a estatística de 24% das empresas que abrem e fecham nos dois primeiros anos, considere uma peculiaridade do quadro econômico atual. A política de crédito, geralmente facilitada em momentos de crise para reforçar consumo e investimentos, não deve contar com estímulos do governo desta vez.
Com ajuste fiscal em andamento e inflação acima da meta, o governo vem cortando gastos ao mesmo tempo em que o Banco Central eleva os juros para segurar os preços. Na prática, isso encarece o crédito no mercado. Negócios que dependam de crédito e consumo, portanto, exigem cautela. Empreender hoje pode sair bem mais caro.
Dicas
1Trabalhe com o que você conhece. Parece óbvio, mas nem sempre isso é observado. Se você abre uma empresa em um ramo que já domina, consegue identificar mais rápido suas vantagens competitivas. Sem falar que o mercado e os potenciais consumidores são mais rápidos em dar feedback sobre seu serviço. Isso tudo ajuda a ter sucesso. Em poucas palavras, antes de pensar em algo extremamente inovador, procure alguma falha em um mercado que você já conheça.
2Comece pequeno, mas sonhe grande. O que empresas como Facebook, Google e LinkedIn têm em comum? Seus fundadores começaram pensando em um nicho bem específico, mas não perderam o horizonte de vista. Mark Zuckerberg, por exemplo, começou o Facebook testando o conceito original apenas na Universidade de Harvard. Hoje, a rede social tem mais de 1 bilhão de usuários ativos - 80% deles vivem fora dos Estados Unidos.
3Não se prenda ao plano de negócio O plano é importante para o sucesso? Sim. É essencial? Depende do uso que você der a ele. Se o modelo for seguido de modo cego, você pode perder a capacidade de adaptação e deixar de aproveitar as oportunidades. Use o seu plano de negócio como guia, mas não se deixe aprisionar!
4Procure investidores e ganhe conselhos Investidores dispostos a ajudar financeiramente são bons e todo mundo gosta, mas de que adianta ter dinheiro e não saber como usá-lo? Por isso, é importante que você se cerque de pessoas que, além de investir, estejam dispostas a dar conselhos. Ninguém consegue fazer tudo sozinho.
5A experiência leva mais longe Quem nunca se perguntou como jovens com tão pouca experiência de negócio conseguiram criar empresas gigantes e bem-sucedidas? A resposta é que, no geral, eles são flexíveis e estão mais dispostos a correr riscos. Fundador de uma das principais empresas de tecnologia do mundo, Michaell Dell é um bom exemplo. “Se você não tem muito a perder, falhar não é grande coisa”, afirma Dell. “Tem de aprender errando, aprender fazendo.”
Fonte: Endeavor
Passo a passo
Abrir um negócio é o terceiro maior sonho do brasileiro, segundo o Monitor Global de Empreendedorismo . Só perde para o desejo de ter casa própria e de viajar pelo Brasil. Mas transformar isso em realidade inclui lidar com a burocracia e um emaranhado de leis. Com a consultoria do Sebrae, montamos essa cartilha para você se tornar seu próprio patrão.
Há dois caminhos para abrir um negócio: você pode cumprir sozinho todas as etapas, percorrendo juntas comerciais, prefeitura e órgãos de licenciamento, como o Corpo de Bombeiros. Ou fazer isso pela Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), sistema criado por lei federal para reduzir o tempo e o custo para abertura de uma empresa no Brasil.
A questão é que a Redesim ainda não é uma realidade nacional. Além de não incluir Acre, Maranhão e Piauí, nos Estados em que já está funcionando há possibilidade de não cobrir todas as etapas da abertura de uma empresa.
O primeiro passo é ir até a Junta Comercial do Estado para ver se o nome que você pensou para sua empresa já foi usado. Depois, pesquise no site de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) o código que indica o tipo de atividade da sua empresa. Há um número específico para cada tipo de restaurante ou de loja, por exemplo. Em alguns casos, o estabelecimento pode se enquadrar em mais de um código. E é nessa hora que o processo começa a complicar - se você se sentir confuso, contrate um advogado ou contador. Com esse(s) número(s) em mãos, verifique na prefeitura se o local em que você pretende instalar a empresa pode receber aquele tipo de atividade.
A seguir, será preciso elaborar um contrato social e registrá-lo na Junta Comercial. Outra vez, contar com a consultoria de um advogado ou consultor ajuda muito: há detalhes específicos que só um profissional especializado vai entender. Com o registro, você já consegue o Número de Identificação do Registro de Empresas (Nire) e o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
A próxima etapa é se inscrever na Secretaria de Finanças. Procure a estadual se a empresa for de comércio e indústria. E vá para a municipal em caso de serviços.
No caso dos pequenos negócios, é importante inscrever a empresa no Simples Nacional para ter acesso ao sistema de tributação mais vantajoso para empresas desse porte.
O passo seguinte é obter a nota fiscal do Simples Nacional. Se você quiser dar notas de papel, vai precisar de autorização da Secretaria da Fazenda. E a impressão do bloco de notas terá de ser feita em uma gráfica autorizada pelo órgão. Se optar pela nota fiscal digital, você terá de ter um validador online (veja no site da Receita Federal).
Parabéns, a maratona está chegando ao fim! A última etapa é levar todos os documentos à prefeitura. Se as atividades da empresa se enquadrarem na categoria “baixo risco”, a própria prefeitura emitirá o alvará de funcionamento. Caso contrário, você terá de procurar outros órgãos, como Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária e Secretaria de Meio Ambiente. Eles emitem os documentos adicionais que podem ser necessários para a empresa começar a funcionar.
No Estado de São Paulo, no entanto, há uma ferramenta mais simples para o licenciamento: a Via Rápida Empresa. Ela permite que você pesquise diretamente com o Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária e o Meio Ambiente se a empresa pode ser licenciada.
Procure a Redesim do seu Estado, órgão integrado às Juntas Comerciais estaduais e à Receita Federal. No site, você faz uma consulta prévia sobre a viabilidade legal do empreendimento. As perguntas básicas são sobre o nome da empresa, se a localização do empreendimento permite aquele tipo de atividade e os códigos da atividade segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Em caso de dúvida nos códigos, procure um advogado ou um contador para não incluir a informação errada e atrasar a aprovação. A resposta da Redesim sai em até 48 horas.
O próximo passo é elaborar um contrato social. Há um modelo padronizado na Redesim, mas ele pode não ser adequado para seu caso - e você precisará, novamente, da ajuda de um profissional especializado. Em seguida, você terá de entregar o contrato na Junta Comercial, que tem até 48 horas para responder. Se tudo estiver correto, a empresa recebe o Número de Identificação do Registro de Empresas (Nira) e o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
A terceira etapa consiste em enviar todos os dados, por meio da Redesim, para a Receita Federal, Secretarias da Fazenda (estadual e municipal) e órgãos licenciadores.
Por fim, ocorre o licenciamento. Se as atividades da empresa se enquadrarem na categoria “baixo risco”, a própria prefeitura emitirá o alvará de funcionamento. Caso contrário, você terá de procurar outros órgãos, como Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária e Secretaria de Meio Ambiente. Eles emitem os documentos adicionais que podem ser necessários para a empresa começar a funcionar.
Quanto vou gastar com taxas para abrir uma empresa?
Não há uma resposta padrão. A quantia vai variar de acordo com o Estado em que a empresa será aberta, seu segmento de atuação e a taxa cobrada por órgãos como Corpo de Bombeiros e Vigilância Sanitária, entre outras variáveis.
De quanto tempo vou precisar para abrir uma empresa?
Depende. Pela Redesim, uma empresa de baixo risco pode ser aberta em até cinco dias. Já no caso de empresas de alto risco, esse processo pode levar até 90 dias. Se o Estado não tiver a Redesim, que simplifica a burocracia, os prazos são maiores.
Carga horária: 16 horas
É para quem quer iniciar um negócio, ter noções básicas de gerenciamento ou melhorar a gestão de uma empresa que já existe. Inclui conceitos de mercado, finanças e empreendedorismo.
Carga horária: 30 horas
Aprenda os princípios e as práticas de empreendedorismo que são necessários para abrir pequenos negócios. O curso garante noções de produtos e serviços, além de técnicas para elaborar pesquisas de mercado.
Carga horária: 15 dias / 5 horas
Indicado para empreendedores iniciantes, com pouco conhecimento sobre gestão financeira dos pequenos negócios. As aulas oferecem noções básicas de fluxo de caixa e a necessária separação entre o dinheiro do microempreendedor e da empresa.
Carga horária: 10 dias / 5 horas
Se você é um trabalhador informal e quer saber mais sobre as vantagens de aderir ao MEI, esse curso oferece informações sobre o processo de legalização, os impostos e os benefícios concedidos ao empreendedor legalizado.
Carga horária: 30 dias / 15 horas
Aprender a utilizar ferramentas digitais é um trunfo importante na hora de estabelecer seu negócio e economizar nos custos. Nas aulas, você aprenderá a elaborar estratégias de atuação no mercado virtual e novas tendências do comércio eletrônico.
Carga horária: 30 dias / 15 horas
O curso ensina ao microempreendedor como definir o preço de seus produtos, levando em conta procedimentos técnicos e conhecimento do mercado. Os alunos também estarão aptos a diferenciar custos e despesas fixas de custos e despesas variáveis.
Carga horária: 30 dias / 20 horas
As aulas ajudam os pequenos empreendedores a identificar os pontos fracos de suas empresas e desenvolver seu planejamento estratégico. O aluno também aprende a aumentar a competitividade e avaliar os resultados de sua empresa.
Vídeos
Tallis Gomes, de 28 anos, tem no currículo a criação de empresas como Easy Taxi, eGenius Founders e Singu. Uma boa dica para novos empreendedores, diz ele, é observar bem o momento do mercado: “Timing é tão ou mais importante que ter um modelo de negócio.”Gabriel Benarrós montou a startup Ingresse para vender entradas de uma festa na universidade de Stanford, na Califórnia. Após o lançamento, foi apontado pela Forbes como o “novo Steve Jobs”. A dica que ele dá aos iniciantes é não se intimidar: “Começar não requer tanto dinheiro e nem é tão complexo quanto você imagina.”Henrique Dubugras criou a Pagar.me, empresa de pagamentos online, com apenas 16 anos. Hoje, aos 18, está prestes a alcançar empresas consolidadas como a PayPall. Para ele, o mais importante é tirar a ideia do papel. “Não espere a ideia perfeita, nem o momento perfeito. Apenas comece!”Bel Pesce, de 26 anos, idealizou a escola de empreendedorismo “FazInova” em 2013, após estudar no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e estagiar no Google e na Microsoft. Autora de três livros, ela lembra que Facebook e LinkedIn começaram em época de crise. “Use as horas vagas para tocar seu projeto e testar hipóteses.”
Dados
Brasil lidera ranking global de empreendedorismo
Fonte: Monitor Global de Empreendedorismo
Podcast
Criar um negócio na crise? Sim, é possível
O empreendedor Alfredo Soares, de 28 anos, fundou a Xtech Commerce, plataforma para criação de lojas virtuais, em outubro de 2014, quando a economia já recomendava cautela na hora de investir. Hoje, tem 3 mil clientes. "Tentei enxergar o outro lado da situação e aproveitar o potencial empreendedor do brasileiro." Ouça a entrevista.