Com exceção da biografia Asas da Loucura, do americano Paul Hoffman, no entanto, que diz que ele teve caso por exemplo com o caricaturista francês Georges Goursat, o Sem, os biógrafos são praticamente unânimes em afirmar que Santos-Dumont não era gay. Ao contrário: a maioria diz que ele foi, na verdade, um “Don Juan” com as mulheres. E há também quem diga que seus relacionamentos nunca passaram do amor platônico – Gondim da Fonseca, por exemplo, dizia que o inventor morreu virgem.
Famoso, tímido e reservado, Santos-Dumont foi um prato-cheio para a imprensa francesa. Frequentador do restaurante Maxim’s, que até hoje existe na Rue Royale, em Paris, ele costumava, segundo biógrafos, ser visto com belas mulheres, em companhia de artistas e cortesãs. E não escapou de perguntas indiscretas.
“E as mulheres, tão admiradoras dos audaciosos, que pensam elas das suas experiências? Apaixonam-se? Elas o perseguem?”, questionou o jornalista Fernando Fos, enviado ao hangar de Saint-Cloud pelo jornal francês Monde Illustré, em agosto de 1901.
“Esta pergunta imprevista deixou o simpático inventor embaraçado”, revela trecho da entrevista reproduzido no livro A História do Brasil nas Ruas de Paris (Editora Casa da Palavra), de Maurício Torres Assumpção. “Ele sorri, ruboriza-se um pouco mais do que antes e finalmente responde: ‘As mulheres! Elas só têm asas às costas quando estão no lar, quando fazem seus maridos felizes. A aerostação as deixa indiferentes; e os aeronautas, pelo que posso dizer da minha experiência, só podem lhe inspirar o medo. Até agora nenhuma se dispôs a voar comigo. Nenhuma me escreveu cartas apaixonadas. As únicas cartas apaixonadas que eu recebo são de inventores, meus confrades, que têm sempre algo de revolucionário a me oferecer’.”
Publicações da época, porém, mantiveram-se firme na tentativa de atribuir romances ao inventor. Sempre heterossexuais. No acervo sob guarda do Centro de Documentação da Aeronáutica (Cendoc), há recortes de 1901 sobre seu suposto namoro com a americana Edna Powers. Uma das reportagens do que parece ser uma série sobre heróis populares resume: “Sr. Santos-Dumont, o querido herói de toda Paris, perde seu coração para Srta. Powers, uma pequena e charmosa garota americana”.
Em 21 de dezembro, o jornal Republic, de Saint Louis, nos Estados Unidos, afirma que o “rei do ar vai casar com uma bela garota ianque”. A matéria diz que a noiva de Santos-Dumont pertencia à colônia americana em Paris e “perdeu seu coração” para ele ao ouvi-lo contar sobre as aventuras de seus voos. “E ele, dentro de sua solidão longe de sua casa brasileira, perdeu seu coração para ela porque ela era brilhante, compreensiva e insinuante.”
Coincidência ou não, Santos-Dumont escreve dois dias depois, em 23 de dezembro de 1901, uma carta ao amigo brasileiro Pedro Guimarães em que menciona estar num dilema – amoroso e interesseiro, financeiramente falando. Ele não menciona o nome de Edna Powers, mas se refere à “querida”. O texto diz o seguinte, com a grafia e a pontuação originais:
“Caro Pedro
Estimo saber que estás melhor, porém te aconselho de não abusar...
Aqui vai-se indo bem, no dia 2 vou a Monte Carlo, o ballão já lá está.
Enfim aqui chegou a querida no dia 19. No dia 21 fui tomar chá na casa d’ella (sou verdadeiramente corajoso) e hontem ella veio tomar chá na casa da amiga aonde nos encontramos de novo. Depois eu conduzi ella e o Pai no automobile!!!
Ella est muito gentil e linda porem eu logo que vi a familia não sei porque, desconfiei que não deviam de ser muito ricos, e só hoje é que a amiga d’ella me explicou a coisa. O pai d’elle é que é muito rico porem elle está brigado com o pai e deserdado são dois outros irmaos que teram o dinheiro!!!!
C’est vraiment de la guigue (Que grande azar). Acabo de vir de uma casa americana aonde eu toquei no assunto dizendo que elles me convidaram para ir jantar amanha dia de Noël com elles e então esta senhora americana me disse a mesma coisa, que elles farram por ser muito ricos aqui em Paris porem que a verdade é que elles só tem um meio milhão e que a pequena não tem dote!!!! Porem o meu coração está já muito com ella... e não sei o que fazer si parar o namoro ou si continuar? é uma posição muito critica.”
Pedro respondeu ao amigo em 18 de fevereiro de 1902, com uma carta enviada do Brasil, embora o local de origem já viesse impresso como Paris. Após dizer que estava afflicto para viajar logo para a capital francesa ou para “New York”, ele pergunta:
“Continuas a adorar a S. ou já abandonastes? Visto não teres visto o milhar creio que o amor dessaparecerá, ainda que suste. Ahi rapaz correcto!!! Ela é bonitinha? Pelos teus relatorios vê-se o amôr ardente, porem depois do banho pode ser que o amôr melhore (...) Casas-te ou não?”
No ano seguinte, foi a vez de a americana de ascendência cubana Aída de Acosta levantar rumores sobre um suposto affair com o aviador, não confirmado. Numa reportagem do jornal Philadelphia Press, de 19 de julho de 1903, também sob guarda do Cendoc, ela é descrita por Santos-Dumont como “bonita e corajosa”. Na época em que se tornou a primeira mulher do mundo a conduzir sozinha um dirigível, 20 dias antes da publicação do artigo, Aída tinha 19 anos. O inventor disse aos jornalistas que a levara a um passeio no cesto de seu balão, após ela ir com a mãe ao aeródromo. Durante o voo, contou-lhe como o mecanismo funcionava e tentou uma modesta ascensão. Depois de uma semana de experiências, Santos-Dumont balanceou seu n.º 9 de modo que não pudesse subir a mais de cem pés de altura e permitiu que Aída fosse até o Campo de Bagatelle e voltasse pilotando o dirigível sozinha. O relacionamento entre os dois não teria ido além da amizade.
Em seu livro Meus Balões, também chamado de No Ar, Santos-Dumont não cita o nome de Aída, mas a descreve como uma “jovem e lindíssima cubana, muito relacionada na sociedade de Nova York”, que havia ido com amigos à sua “estação” e manifestado “seu ardente desejo de voar”. “Não quero ser conduzida. Desejo voar sozinha, dirigir livremente, como o senhor!”, disse ela.
Após três lições sobre “manobra do motor e dos maquinismos”, Aída ascendeu com o dirigível n.º 9 de Neuilly Saint-James em direção a Bagatelle, onde ocorria um jogo de polo. Santos-Dumont acompanhou o trajeto de ida e volta em sua bicicleta. Dizem os biógrafos que os pais de Aída não gostaram nada de saber sobre as aventuras da filha nos ares e exigiram que Santos-Dumont omitisse seu nome de entrevistas e livros. Também a mandaram de volta aos Estados Unidos, onde anos depois ela se tornaria uma socialite conhecida pela benemerência. Casou-se e divorciou-se duas vezes e se notabilizou não só pelo interesse pelas artes como por seu papel em campanhas em prol da saúde, particularmente relacionadas à Oftalmologia. Morreu em 1962, aos 77 anos.
Uma rápida pesquisa na internet mostra que Aída é reconhecida, ainda hoje, como a primeira mulher a voar sozinha num balão dirigível. O livro Latinas in the United States: A Historical Enciclopedia (Indiana University Press), de Vicki Ruiz e Virgínia Sánchez Korrol, narra uma passagem curiosa: ela só revelou a história de seu voo no dirigível de Santos-Dumont 30 anos depois, durante um jantar que deu em Nova York. Um jovem oficial da Marinha americana lhe explicava por que queria pilotar dirigíveis e Aída disse que entendia o interesse dele porque ela mesma já havia voado. A revelação causou surpresa até para seu então marido, coronel Henry Breckinridge, amigo de Charles Lindberg, que em 1927 foi o primeiro a cruzar sozinho de avião o Atlântico Norte.
As notícias sobre supostas namoradas de Santos-Dumont não pararam por aí. Em 19 de fevereiro de 1905, o jornal americano Chronicles, de Houston, publicou a coluna In Gotham’s Society. Nela, a autora, Ida Innerly, fala do “romance” entre o aviador e outra linda jovem americana. Não era Edna Powers, mas sim Lurline Spreckels, integrante de uma família milionária de São Francisco, que o teria conhecido por meio de uma amiga em comum e se apaixonado. O recorte foi enviado a Santos-Dumont pela empresa The Manhattan Press Clipping Bureau e também faz parte do acervo do Cendoc, assim como fotos dos dois juntos.
A fama do inventor multiplicava os rumores, devidamente registrados pelos biógrafos. No livro As Lutas, a Glória e o Martírio de Santos-Dumont, Fernando Jorge reproduz depoimento em que o comandante Amadeu Saraiva, amigo do aviador, diz que ele viveu durante muito tempo com uma atriz francesa, célebre pela beleza. Conta-se também que a artista da Comédie Française Cécile Sorel costumava jantar e passear de automóvel com o brasileiro. Na Encantada, há um retrato da “admiradora chilena” Luiza Villagran, datado de junho de 1916.
Sobre essa viagem ao Chile, o biógrafo Fernando Hippolyto da Costa menciona frase do diplomata Luís Gurgel do Amaral de que no país vizinho o inventor “andou atarefadíssimo nos amores”. Em sua biografia Cousas Idas e Vividas, ele conta que, logo ao chegar, Santos-Dumont teria perguntado: “Seu Amaral, como vamos aqui de mulherzinhas?”, supostamente se referindo a prostitutas.
O biógrafo Cosme Degenar Drummond relaciona ainda vários outros nomes de mulheres que desfilaram com Santos-Dumont. Entre eles os das dançarinas francesas Mistinguett e Cléo de Mérode e das sopranos Maria Barrientos, espanhola, e Bidu Sayão, brasileira. No livro Alberto Santos-Dumont Novas Revelações, conta ainda que o inventor “cortejou e apreciava também as chamadas ‘damas da noite’”. “No período de maior notoriedade, frequentou casas noturnas em Paris, Santiago do Chile e Rio de Janeiro. Sua predileção eram as mulheres mais jovens.”
As especulações sobre a vida amorosa do inventor continuaram no Brasil. Uma das amigas famosas de Santos-Dumont foi a integrante da sociedade paulista Yolanda Penteado. Na biografia Tudo em Cor de Rosa, ela revela que conheceu o inventor quando ele tinha 42 anos e ela, 16. “Eu era uma menina bonita e pura, um oásis de descanso, de coisas inteiramente fúteis na vida interior muito intensa do Alberto”, contou. “As pessoas que o conheciam melhor diziam que, quando me via, ele ficava elétrico.”
Henrique, irmão do aviador, era casado com Amália, tia de Yolanda. Quando a adolescente passava temporadas no Rio, Santos-Dumont a visitava frequentemente. “Ele vinha todos os dias para jantar e ficava, dizendo que era para ver a Lua sair.” Sempre de botas de salto alto – para aumentar a estatura de pouco mais de um metro e meio –, calças justas, colarinhos imponentes e chapéu, ele levava sempre flores e bombons para presenteá-la e chamava a atenção pelo hábito de subir e descer a pé o Morro do Corcovado.
Em setembro de 1980, Yolanda contou à revista Manchete sobre quando foi almoçar na Encantada com a mãe e uma tia e encontrou a mesa toda forrada de violetas europeias. Também lembrou das palavras da mãe ao vê-la um dia na sacada admirando o luar com Santos-Dumont: “Esse velho mais velho do que eu e namorando a minha filha, só porque pensa que voa”.
O relacionamento que ela classificou como “platônico”, porém, não foi adiante e Yolanda se casaria duas vezes: a primeira com Jayme da Silva Telles, de quem se separou, e, anos mais tarde, com o ítalo-brasileiro Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo. A amizade com Santos-Dumont permaneceu. Os dois se encontraram na Europa várias vezes. Numa delas, em 1928, ele a acompanhou na temporada de esqui em Saint Moritz e a fez testar uma de suas invenções, o Conversor Marciano, também chamado de Transformador Marciano, aparelho que supostamente facilitava a subida de esquiadores nas colinas geladas e hoje faz parte do acervo do 4º Comando Aéreo Regional (Comar), em São Paulo. No mesmo ano, quando jornais noticiaram a “chegada de Santos-Dumont ao Rio de Janeiro”, publicaram uma foto em que o “grande brasileiro” aparece junto de “sua sobrinha Yolanda Penteado” e outras pessoas.
Yolanda conta na entrevista à Manchete que, na última vez em que encontrou Santos-Dumont, ele estava internado num sanatório na Suíça. E ela sentiu que tudo havia acabado quando, diante do leito daquele homem já meio calvo, debilitado psicologicamente, o ouviu perguntar ao médico: “Quem é essa mulher?”.
A filha de Voisin. Yolanda não teria sido a primeira adolescente cortejada pelo inventor. Em seu livro Alberto Santos-Dumont (O Pai da Aviação), dedicado à “mocidade estudiosa do Brasil”, o tenente-coronel Fernando Hippólyto da Costa destaca artigo publicado por Gabriel Voisin no número 11 da revista Pioneers (janeiro de 1967). Nele, o aviador relembra que em certo dia de 1926 seu velho amigo passou por seu escritório em Issy-Les-Moulineaux. “Alberto estava inquieto e muito acanhado. Mas a sua atitude tornou-se explicável quando, em meio às palavras tímidas proferidas, pediu a mão de minha filha em casamento! Como explicar àquele homem prodigioso que isso não seria possível? Janine (a filha) tinha então 17 anos e o meu amigo passava dos 50...”
Entre parentes, o inventor também era visto como paquerador. Na comemoração do cinquentenário do histórico voo do 14-Bis, em 1956, o jornal O Globo entrevistou sua cunhada Amália, viúva de Henrique. Disse ela: “Era mesmo um esquisitão o Alberto. Numa roda, ele ficava sempre na cadeira mais distante. Cruzava os braços, baixava a cabeça e ali ficava horas e horas se fosse preciso. Quando achava necessário ia conversando, dando sua opinião. Era um homem bom. Louco por moças. Morreu solteiro mas não podia ver moça que já se entusiasmava e tocava a conversar. Uma vez, respondendo a alguém que lhe perguntou por que não se casava, disse pilhérico: Já fui até pedido em casamento, mas não quero casar.” Num desenho feito em 8 de janeiro de 1929, três anos antes de morrer, Santos-Dumont escreve que o dirigível, o biplano e o monoplano eram sua família.
Em 20 de outubro de 1956, A Gazeta falou do tema no artigo A volta do vencedor em 1903. “Santos Dumont, homem fino, com um estágio de muitos anos em Paris, cujos costumes e atitudes assimilara graças ao convívio com uma sociedade que o distinguia e tanto admirava, de modo muito gentil, durante as recepções, beijava cerimoniosamente as mãos e as faces das moças e das damas que efusivamente o cumprimentavam. Um delicioso prêmio para um jovem herói nacional, que as moças paulistas e campineiras não recusariam a quem tão alto elevara o nome do Brasil.”
Já o jornal A Platea publicou os seguintes versos sobre a visita de Santos-Dumont a Campinas:
“Santos Dumont em Campinas
Beijou toda a moçarada,
Beijou grossas, beijou finas
Santos Dumont em Campinas
E dizem as tais meninas
Que o beijar não custa nada.
Santos Dumont em Campinas
Beijou toda a moçarada”
O texto deu o que falar. Em resposta, o jornal Comercio de Campinas publicou versos de um estrangeiro casado com uma brasileira, identificado pelo pseudônimo Don Pedrito!, que foram considerados “insultuosos” contra as senhoras paulistas e motivaram réplica em outra reportagem, desta vez de A Gazeta: “É esta a maneira pela qual esse biltre paga a hospitalidade generosa que aqui lhe demos há mais de quinze anos”.
E de onde surgiu a tese da homossexualidade de Santos-Dumont? “Até hoje não consegui identificar”, diz o escritor Márcio Souza, autor de O Brasileiro Voador – Um Romance mais Leve que o Ar, apostando que a história nasceu no Brasil porque em suas pesquisas na imprensa francesa o assunto não aparece. “Este foi um ponto que pesquisei com cuidado, mas nunca vi nenhum documento que sugerisse isso. A imprensa francesa era indiscreta, parte era de fofoca, de escândalo. Esses órgãos mexiam com a homossexualidade de outros personagens importantes da Paris da época e em alguns casos as pessoas denegriam as outras. Faziam muitas fofocas sobre Santos-Dumont. Tinha a história, por exemplo, de que ele era avarento, de que deu dinheiro para uma artista de teatro e depois descobriu que o homem que ela dizia ser seu irmão era na verdade seu amante, mas não encontrei nada sobre gay, ao contrário.”
Sobre o cartunista Sem, grande amigo do inventor, Márcio descobriu que escreveu uma reportagem famosa, que causou discussão na época. “Falava justamente sobre gays ricos franceses que iam ao Marrocos explorar jovens marroquinos. Foi um escândalo.”
“Ele tinha arranjos, mas não divulgava. Falam que ele era gay, mas é mentira”, resume o sobrinho-neto Jorge Henrique Dodsworth.
Já Maurício Assumpção resgata em seu livro duas opiniões controversas e curiosas. Autor da primeira biografia de Santos-Dumont em inglês, o brigadeiro da Royal Air Force Peter Wykeham disse em 1962 que o inventor não podia ser gay porque, além de manter a reputação ilibada por 16 anos em Paris, onde nada podia ser mantido em segredo por muito tempo, ele “nutria profunda devoção ao pai, era indiferente às artes e demonstrava um grande interesse pelas ciências e pela mecânica”. Michel Nénichou argumenta, porém, em seu livro La demoiselle et la mort que Santos-Dumont teria motivos para esconder uma suposta homossexualidade, mesmo numa cidade liberal como Paris. E cita, como exemplo, o dramaturgo inglês Oscar Wilde, contemporâneo de Santos-Dumont, que, “condenado na Inglaterra por homossexualismo, passara dois anos na prisão antes de se exilar em Paris, onde morreu pobre e decadente”.
Para a psicóloga Angela de Padua Schnoor, casada com Alberto Dodsworth Wanderley, sobrinho-bisneto do inventor, é preciso analisar a criação de Santos-Dumont e o contexto da época. Ela lembra que o inventor conviveu muito de perto com as irmãs, sobretudo Virgínia, que o alfabetizou e depois o hospedaria com frequênica em São Paulo, em seu casarão na Avenida Paulista, 105. Tinha também dois irmãos, mas um – Henrique – era bem mais velho e o outro – Luís – bem mais novo. “No meio só havia mulheres e ele por já ter uma personalidade sensível e introspectiva, cheio de fantasias, foi absorvendo esse universo feminino. Aprendeu, por exemplo, trabalhos manuais, a fazer tricô, encadernar livros.”
O hábito foi descrito em uma reportagem usada por Paul Hoffman no livro Asas da Loucura para reforçar a suposta tese da homossexualidade. Nela, o jornalista do New York Mail and Express diz que Santos-Dumont “revela em seus trabalhos manuais um pendor supostamente exclusivo à feminilidade e, o mais curioso, não se importa que saibam que o faz”. Conta que nada na sala de seu apartamento em Paris indica “por um momento um toque masculino” e o que ele mais gosta é de tricotar , “o que faz instintivamente quando sob excitação mental ou quando precisa descansar”. O texto fala dos “dedos cobertos por anéis de vários modelos, muitos com pedras coloridas” e termina dizendo, que “por algum motivo obscuro”, Santos-Dumont “adquiriu a reputação de um grande sedutor de mulheres, mas não há em suas maneiras nada que indique, nem remotamente, seu interesse pelo sexo oposto”. “As mulheres se sentiam atraídas por ele, porém era difícil que alguma encontrasse eco em seus anseios.”
Para Angela, a discussão sobre a sexualidade de Santos-Dumont é completamente inadequada na biografia dele. “O feminino existe, mas feminino não quer dizer gay. Você pega fotos do escritório dele em Paris e vê que seguiam o décor da época.”