EM MINAS, CASA NATAL REVELA LADO FAZENDEIRO DO INVENTOR

Na mesma época em que parentes de Alberto Santos-Dumont esvaziavam a Encantada, em Petrópolis, a cerca de 165 quilômetros de distância dali, na Serra da Mantiqueira, em Minas, amigos do aviador encaixotavam os objetos que ele mantinha na casa de Cabangu, onde nascera 59 anos antes, em 20 de julho de 1873. Haviam sabido havia pouco de sua morte pelo telegrafista da cidade, que anunciou: “Morreu Santos-Dumont em São Paulo”.

“A casa estava fechada. Dois dias depois da morte, os amigos disseram: ‘Vamos ao Cabangu antes que roubem o que tem lá’”, conta Mônica Castello Branco Henriques, curadora da Casa Natal de Santos-Dumont.

Para chegar, era preciso percorrer alguns quilômetros no então chamado trem leiteiro, que ganhou esse nome porque costumava fazer várias paradas nas fazendas da região para recolher o leite que depois era entregue numa fábrica de queijos. Santos-Dumont também criou gado holandês ali, em terras cortadas pela estrada de ferro construída no século 19 por seu pai, o engenheiro Henrique Dumont.

Então chamada de Palmira, a cidade na região de Barbacena mudaria seu nome para Santos-Dumont uma semana depois do suicídio do aviador, em 1932. Era uma homenagem ao herói nacional que ali ficou conhecido como um homem calado e generoso, que fazia questão de hastear a bandeira nacional em sua propriedade e gostava de andar de um lado para outro da varanda, sempre com roupas bem lavadas e engomadas.

A primeira ideia dos amigos foi levar os objetos e documentos pessoais de Santos-Dumont para a prefeitura da cidade, mas o espaço era insuficiente. O secretário-geral do município, Oswaldo Henrique Castello Branco, que liderou a comitiva até o Cabangu, decidiu então guardar as peças num quarto da própria casa. Como tinha nove filhos pequenos, a primeira providência foi trancar o cômodo e proibir a entrada das crianças.

VÍDEO Mônica Castello Branco conta a história de Santos-Dumont em Cabangu

“Eu nasci dentro do acervo de Santos-Dumont porque ele ficava guardado dentro da casa do meu pai”, conta Mônica, lembrando que as peças e documentos permaneceram no cômodo por quatro décadas, de 1932 a 1973, quando o museu foi aberto, no centenário de nascimento do inventor. “Se não tivesse sido preservado aí, ele certamente teria sido perdido.”

Desde a inauguração, o museu que costuma receber visitas principalmente de escolas, grupos de terceira idade e corpos militares de recrutas tem segurança permanente da Aeronáutica. A cada semana, o corpo de guarda, composto por um sargento, um cabo e seis soldados, é trocado.

No livro Uma Cidade à Beira do Caminho Novo, Castello Branco conta como foi a primeira visita oficial da Escola Preparatória de Cadetes do Ar a Cabangu, em 23 de outubro de 1952, duas décadas após a morte do inventor: “Ponderamos ao ilustre comandante (coronel Doorgal Borges) a dificuldade de se chegar ao local, por falta de estrada, ao menos que se fizesse o sacrifício de andar a pé, da Mantiqueira a Cabangu, pelo leito da linha da Central do Brasil, num percurso de 4 km. Do ilustre comandante ouvimos em resposta: ‘Estamos pagando um tributo e um tributo se paga com sacrifício. O senhor nos acompanha?’”

À comitiva de alunos e oficiais se juntaram outros moradores da cidade. O grupo encontrou em Cabangu uma casa “em estado de ruínas”, segundo o autor. O que não abalou o tom solene da cerimônia. “Foi então colocada uma corbelha de flores, com palavras de profunda emoção do coronel Doorgal, e batidas várias fotografias para testemunhar o grande acontecimento”, descreve o livro.

Castello Branco faleceu em 1995. De 1973, quando o museu foi aberto, até o ano de sua morte, ele recebia os visitantes na casa simples que abrigou a família Dumont. Para preservar o acervo, reuniu pessoas da cidade e criou em 1949 a Fundação Casa de Cabangu. “A visão do meu pai foi incrível”, afirma Mônica. “A criação da fundação foi uma forma de proteger o que estava dentro da casa. Ele chegou a fazer minha mãe assinar um termo de entrega. Se ele faltasse antes de fazer o museu, ela não poderia ficar com o acervo.”

Quando, já famoso, Santos-Dumont decidiu voltar à terra natal, a casa fazia parte do patrimônio da Estrada de Ferro Central do Brasil. O aviador passou então a tentar comprá-la. Após alguns meses de dificuldades e burocracia, foi feita uma lei para dar a propriedade de presente ao herói da aviação. Coube a Paulo Gustavo de Frontin a iniciativa de apresentar ao Congresso Nacional o projeto de doação do imóvel ao aviador.

Em 1918, ele recebeu a casa e mandou instalar na entrada uma placa de metal que ainda hoje está lá: “Esta casa, onde nasci, me foi oferecida pelo Congresso Nacional. Santos-Dumont (agradecido)”. Depois, comprou terras vizinhas e, até parar de visitar a região, entre 1926 e 1927, transformou-se em um fazendeiro da Mantiqueira.

“As pessoas conhecem o Santos-Dumont aeronauta, mas nós temos documentos do homem comum, que comprava gado, dava de presente, puxava a orelha dos funcionários”, conta Mônica. “Aqui ele foi um fazendeiro atuante, com um intercâmbio muito bom com vizinhos fazendeiros. Não era um homem depressivo.”

No livro Da Frísia à Mantiqueira, A História de João Kingma, um Pioneiro da Indústria de Laticínios, Victor Kingma conta que Santos-Dumont costumava se refugiar do tédio e da solidão na Fazenda Pinho, de Otávio e Maria Sá Fortes, pois a casa em Cabangu era um pouco isolada. Também costumava ir com o amigo Antônio Orlando até a Fazenda Catauá, do irmão de Antônio, para comer frango ao molho pardo com angu e couve preparado por dona Vitalina de Jesus, espécie de governanta da fazenda. “Após o almoço, Santos-Dumont passava horas descansando no alpendre da fazenda e vez por outra, olhando a linda paisagem, respirava profundamente e com os braços abertos, imitando uma asa, feito Ícaro, costumava dizer: ‘Isto aqui é um outro mundo, um paraíso’.” Na saída, levava de presente uma lata de biscoito de fubá.

O autor lembra que o aviador às vezes falava da infância e da família, tinha grande sensibilidade com crianças e era chamado de “doutor” pelos amigos. Quando surgia algum problema para resolver na fazenda, recorria a José Jorge Sá Fortes, seu “professor” de pecuária. Mas raramente comentava sobre suas históricas experiências em Paris, talvez porque visse na Mantiqueira um lugar para “se refugiar um pouco do assédio e da repercussão” de seu feito.

Mesmo quando estava em outra cidade, o aviador mantinha contato com Cabangu. O menu de um dos jantares que ofereceu, por exemplo, trazia uma foto panorâmica da propriedade e, em francês, o cardápio que incluía os vinhos Chablis Village e Château Langoa 1914, champanhe de Lossy e, entre os pratos, creme de aspargos e trutas ao molho de champanhe.

Cardápio de jantar oferecido em 1922 por Santos-Dumont com a foto panorâmica de Cabangu. ACERVO MUSEU PAULISTA / REPRODUÇÃO

O inventor ainda costumava enviar cartas aos vizinhos de região. Em 4 de janeiro de 1923, por exemplo, pediu ajuda para vender “uma dúzia ou meia dúzia de vacas de leite” porque vinha gastando muito com Cabangu. No final, acrescentou: “Desejaria saber qual é a quantidade de farelinho que o senhor está dando às suas vacas e com este trato e tirando leite duas vezes por dia qual é o argumento que o senhor conseguiu. Eu desejaria fazer a experiência com umas 12 vacas das melhores”.

Entre os objetos guardados pelos amigos de Santos-Dumont após sua morte estava uma caixa cheia de cartas amassadas enviadas pelo aviador ao funcionário João. Nelas, avisava quando ia voltar, falava de animais e trabalhos que precisavam ser feitos na fazenda, dava ordens de pagamento.

Em 21 de junho de 1920, por exemplo, mandou a seguinte carta de São Paulo:
“João,
Acabo de comprar um lindo touro importado da Inglaterra, tem 1 ano e meio. Guarde agora as novilhas para elle. Já tem o esterco?”
Outra carta, datada apenas com “7 de junho”, começa com:
“João,
Recebi sua carta e estou contente de saber que tudo vai bem. Partiram hoje algumas gallinhas (7 gallinhas e 2 gallos) dirigidos a Rocha Dias. Como vai o trabalho do fazedor de rego? E o aterro do lago já está acabado?”
Algumas correspondências denotam certa irritação com o funcionário. Como a de 6 de setembro de 1923:
“João,
Eu não posso mandar ordem para pagar os trabalhadores sem que você me mande dizer quanto é. Você deve estar tomando os nomes dos trabalhadores num livro e os dias de trabalho, como você fazia quando limpava o pasto há dois anos.
Santos=Dumont”

No ano seguinte, em 31 de janeiro, outra correspondência, enviada de Petrópolis, termina com a ordem: “Responda a Santos=Dumont estas perguntas”.

Meses antes de morrer, Santos-Dumont mandou vender todas as terras vizinhas a Cabangu. A área original da casa, porém, foi devolvida “à nação brasileira” em seu testamento. Diz o documento lavrado num cartório de Sorocaba, interior de São Paulo, em 7 de setembro de 1931: “Tendo sido dada ao testador pela Nação a propriedade onde elle nasceu, situada em João Ayres (Cabangú) Estado de Minas, é de seu desejo que tal propriedade seja restituida a mesma doadora – a Nação brasileira”.

Galeria: na casa natal

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Melhorias. Após receber a casa, Santos-Dumont promoveu algumas reformas: aterrou os porões, modificou paredes, construiu uma lareira, criou um lago com água trazida do alto da montanha por canos de bambu e o adornou com um chafariz que funciona sem motor. Também adotou a cadela Fly e dividiu a antiga cozinha com uma parede para fazer um banheiro, o que não era comum nas casas da região – na época, a latrina ficava no fundo da casa e escravas ou empregadas levavam jarras e bacias para os patrões lavarem o rosto ou tomarem banho nos quartos.

“Ele era tão minucioso nas coisas dele que na lareira já construiu dois pedestais de acordo com o peso e o tamanho dos dois bustos franceses que ia colocar: um de bronze de 1902 feito por Colim George, o mesmo autor do Ícaro de Saint-Cloud, e um de gesso de Laffourrie, de 1907”, conta Mônica. As duas peças ficaram guardadas no cômodo da casa da família da curadora por quatro décadas. Feito de bronze e inaugurado em 1913 numa praça nos arredores de Paris, o Ícaro foi uma homenagem do Aeroclube da França aos feitos de Santos-Dumont.

Outros objetos originais que hoje compõem o acervo da Casa Natal de Santos-Dumont foram arrematados pela Fundação Casa de Cabangu num leilão no Rio – a mesa redonda da sala, a cama e o lavatório do aviador – ou cedidos por parentes, fazendeiros da região e militares. Um brigadeiro doou um telegrama original da princesa Isabel felicitando Santos-Dumont, parentes deram colarinhos, bengalas, cartola e outras peças e o amigo João Kingma doou uma das peças mais curiosas do acervo: um marcador de ferro com as letras SD que foi usado para identificar o gado do aviador.

Fazenda da família no interior paulista deu origem a uma nova cidade

Outro lugar onde Santos-Dumont morou na infância também virou museu. Trata-se da Fazenda Dumont – antiga Fazenda Arindeúva –, na região de Ribeirão Preto. Lá o pai fez fortuna com o café depois de se mudar de Cabangu e viver algum tempo em Valença, atual Rio das Flores, no Rio de Janeiro. O local da fazenda hoje pertence a Dumont – cidade com cerca de 8,2 mil habitantes, criada em 1963 – e num cômodo da sede da fazenda, ocupada pela Prefeitura, está um museu que leva o nome do inventor.

“Foi aqui que despertou a paixão de Santos-Dumont pela mecânica”, explica o curador do Museu Santos-Dumont de Dumont, Vanderci Pessotti Filho. “E o pai foi um dos grandes precursores disso.”

Em seu livro O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos, Santos-Dumont lembra que Henrique Dumont nasceu em Diamantina e se formou em Engenharia na Escola Central de Paris. Após trabalhar vários anos na Estrada de Ferro Central do Brasil, dedicou-se à lavoura no Estado do Rio.

“Vendo que aí nada de grande podia fazer, partiu com minha mãe e oito filhos, então todos crianças, para Ribeirão Preto, que se achava a três dias de viagem a cavalo da ponta dos trilhos da Mogiana. Explorara, antes, o interior do Estado de São Paulo e ficou maravilhado com as matas de Ribeirão Preto”, conta o inventor.

Henrique Dumont, pai do inventor.CENDOC No país essencialmente agrícola, Henrique foi, segundo o filho famoso, “o protótipo do fazendeiro audacioso” e, “com uma energia tão grande como a sua confiança no futuro, desbravou sertões e cultivou o solo”. Em dez anos, já tinha 5 milhões de pés de café e uma estrada de ferro particular até Ribeirão Preto, por ele construída. Acabou anos mais tarde vendendo as terras a uma companhia inglesa após sofrer um acidente que lhe fez perder o movimento de metade do corpo. Mas, como lembra Santos-Dumont, “para que não morresse na memória dos homens a lembrança do valor desse audacioso, os ingleses, em significativa homenagem, conservaram seu nome na companhia proprietária daquelas terras”. “Em 1905, a Dumont Coffee Company colheu, naquele cafezal, 498 mil arrobas; em 1911, obteve uma renda bruta de 3.883 contos de réis.”

“Aqui na fazenda era feito todo o processamento do grão, que já chegava pronto à Mogiana para ir para São Paulo”, explica Vanderci. “E era onde, além de mexer nas máquinas e acompanhar o pai, Santos-Dumont gostava de deitar na varanda e observar os pássaros.”


Em Petrópolis, Encantada investe em interatividade para atrair público

Foi de uma janela do Palace Hotel (prédio que hoje abriga a Universidade Católica de Petrópolis) que Santos-Dumont viu o terreno vago na Rua do Encanto, 22, em Petrópolis. Imaginou ali um chalé alpino em formato de ninho de pássaros. Os amigos apostaram uma caixa de garrafas de uísque que ele não conseguiria construir casa alguma num terreno tão íngreme. O inventor ganhou a aposta. Comprou a área e encomendou o projeto. Eduardo Pederneiras, que já havia feito o hotel Copacabana Palace, no Rio, encarregou-se da obra. Em três meses, a Encantada estava pronta.

Hoje, o Museu Casa de Santos-Dumont é a segunda atração mais visitada de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Segundo a coordenadora, Fabiana Toledo de Sales, a instituição só perde para o Museu Imperial. A cada mês, 20 mil pessoas passam por lá – boa parte estudantes.

Além dos cômodos que abrigaram o inventor em suas temporadas por Petrópolis, dos 45 anos de idade até próximo da morte, aos 59, visitantes podem ver painéis informativos, assistir a um vídeo sobre sua vida e obra, narradas pelo ator Sílvio Costa vestido a caráter, e participar de atividades pedagógicas. Para crianças até 5 anos, foi criado o personagem Albertinho. Há 3 anos, a casa construída na encosta íngreme ganhou elevador para deficientes, maquete tátil, tour virtual.

O museu é cheio de curiosidades para os visitantes. Sem cozinha, a Encantada abrigou o primeiro chuveiro com aquecimento a álcool do País e um dos primeiros telefones de magneto instalados pela Western Electric Company. Segundo a lista telefônica de assinantes de 1918, Santos-Dumont tinha o número 111. Por ele, o inventor pedia comida para o Palace Hotel, que funcionava bem em frente. “Santos-Dumont foi o precursor do delivery”, brinca Andrea Almeida, animadora cultural da Encantada. “Um garçom atravessava a rua com a bandeja e vinha servi-lo.”

Especialmente pensada para o momento das refeições, a mesa da casa tem um recorte à direita, o lado em que o aviador era servido. Muitos dos móveis da antiga residência também têm dupla utilidade. A escrivaninha, por exemplo, servia como cama à noite. Mas o que mais chama a atenção são as escadas que só permitem um pé por degrau.

Estudantes ouvem explicação sobre a curiosa escada da Encantada. WILTON JÚNIOR/ESTADÃO

Ao falar delas, as monitoras tentam desconstruir a ideia de que o pai da aviação foi um excêntrico supersticioso. Na da entrada, obrigatoriamente o visitante tem de começar pelo pé direito. Esse detalhe sempre foi atribuído a uma das superstições de Santos-Dumont, mas as monitoras garantem que ele tem um significado utilitário. Como as escadas são bem íngremes, os degraus de um pé só ajudam na hora de subir e descer. “Essas escadas foram feitas para facilitar a subida, tanto que a de dentro começa com o pé esquerdo”, explica a monitora Bruna Barros. “Santos-Dumont tinha suas manias, mas era um homem da ciência”, afirma Andrea.

Dona Eulália, a empregada de Santos-Dumont, morava num imóvel atrás da casa e certamente deve ter se acostumado a ver o patrão olhando as estrelas num pequeno observatório construído sobre o telhado de folhas de flandres dispostas de maneira a captar melhor o calor. Para manter o isolamento térmico da casa, os construtores também deixaram um espaço entre as paredes.

“Essa casa é meio estranha”, comenta a estudante Isabela de Mattos Sillero, de 10 anos, que a visitou no começo de julho com a escola. “Aquela escada de um pé só, não tem cozinha... Se ele tivesse um filho, não ia conseguir dar banho na criança naquele banheiro.”

Mesmo com a queda da monarquia, frequentar Petrópolis, ainda hoje conhecida como Cidade Imperial, continuou sendo chique. Por lá circulavam, além do pai da aviação, Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Manoel Bandeira, Paulo de Frontin e outras personalidades. Os amigos já sabiam: assim que chegava à Encantada, o inventor hasteava a bandeira do Brasil no telhado. Às vezes saía para disputar uma partida no Tênis Club de Petrópolis, hoje Clube Petropolitano, mas a maior parte do tempo passava mesmo era dentro de casa. “Aqui foi um refúgio para Santos-Dumont”, lembra Andrea. “Era da personalidade dele ficar recluso, sozinho.”

O presidente Getúlio Vargas, porém, não deu sorte de encontrá-lo. Numa das paredes da casa-museu, uma carta escrita por Santos-Dumont pede desculpas ao político gaúcho por não estar em casa quando ele foi visitá-lo. Na verdade, nem em Petrópolis se encontrava, mas sim na casa da irmã Virgínia, em São Paulo, na Avenida Paulista, 105.

E quais são as perguntas que os visitantes mais fazem sobre Santos -Dumont? “Perguntam se ele era gay, perguntam sobre a morte e perguntam a respeito dos irmãos Wright”, conta Andrea. E o que ela responde? “Sobre a sexualidade, o que a gente sabe é que ele teve vários casos com mulheres. Sobre a morte, explico que ele tinha um transtorno e ficava triste ao ver o avião sendo usado como arma de guerra. Dos irmãos Wright, eles dizem que voaram antes, mas se realmente voaram foi com avião catapultado. Já Santos-Dumont voou diante de todos, com tudo documentado e fotografado.”

A Encantada fica aberta ao público de terça-feira a domingo, das 9 às 17 horas. Ingressos custam R$ 8. Alunos de escolas municipais e estaduais não pagam.

Galeria: por dentro da Encantada

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NO ARQUIVO HISTÓRICO, PEDIDO PARA DIRIGIR E TER UM CACHORRO

O Arquivo Histórico de Petrópolis guarda alguns documentos curiosos. Entre eles, um pedido de Santos-Dumont para ter um cachorro, uma solicitação de permissão para dirigir e o pedido de habite-se da Encantada feito pelo engenheiro Eduardo Pederneiras.

Em 15 de janeiro de 1919, o aviador pediu licença para usar um automóvel particular. A solicitação foi deferida em 18 de janeiro do mesmo ano e arquivada no dia 31. Um ano antes, em 21 de janeiro de 1918, Santos-Dumont havia requerido ao “excelentíssimo Sr. Dr. Prefeito Municipal de Petrópolis” licença para ter “um cão de nome Bob, de côr amarellada e raça policial”. Deferido, o pedido foi arquivado em 31 de janeiro de 1919.

Pedido de licença feito por Santos-Dumont para ter o cachorro Bob está no Arquivo Histórico de Petrópolis. REPRODUÇÃO

Também em 1918, em 19 de agosto, foi a vez de Pederneiras requerer vistoria do “prédio recém-construído à Rua do Encanto, de propriedade do Sr. Alberto Santos-Dumont”. A resposta chegou dez dias depois, em “20-8-918”: “Averbe-se, pagos os impostos, podendo ser habitado”.

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