A história de Roraima
﷯antigo território do Rio Branco foi disputado por espanhóis, portugueses, holandeses e ingleses desde o início do século 16. Seus povoados, no entanto, começaram a se instalar apenas no século 18, após o extermínio de grande número de indígenas.
Em 1858, o governo federal criou a freguesia de Nossa Senhora do Carmo, transformada no município de Boa Vista do Rio Branco, em 1890. Em 1904 houve disputa territorial com a Inglaterra, que tirou do Brasil a maior parte das terras da região do Pirara, pequeno afluente do Rio Maú, incorporadas à Guiana Inglesa.
A partir de 1943, foi criado o Território Federal do Rio Branco, cuja área foi desmembrada do Estado do Amazonas. Passou a se chamar Território Federal de Roraima em 13 de setembro de 1962. Em 5 de outubro de 1988, com a promulgação da nova Constituição do País, o Território foi transformado em Estado da Federação O
O território antes da autonomia Fotos: Arquivo Estadão
Raio X do Estado

MUNICÍPIOS

POPULAÇÃO

POPULAÇÃO INDÍGENA

NÚMERO DE TERRAS INDÍGENAS

PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS

15 55 mil 496 mil habitantes pessoas ou 1% da população, a maior proporção estadual que ocupam 46% do território estadual 34 reservas Pecuária e cultivos de arroz, soja, feijão, milho, sorgo, girassol, algodão, cana-de-açúcar e fruticultura
A vida em Roraima pós-demarcação Contrabando de gasolina, saída para a economia local  Parado à beira da BR 174, em frente à estação rodoviária de Paracaima, cidade cravada na Terra Indígena São Marcos, no extremo norte do País, divisa com a Venezuela, um homem com um celular na mão controla o movimento dos policiais militares no posto na entrada da cidade, a 220 quilômetros de Boa Vista. Quando o carro com policiais sai do prédio da barreira de controle de Defesa Agropecuária, a cerca de 700 metros, para fazer ronda, o olheiro dá o sinal para liberar os carros estacionados diante de um bar para que sigam viagem no rumo de Boa Vista carregados com gasolina contrabandeada da vizinha venezuelana Santa Elena Uiarén, de cerca de 30 mil habitantes. “São os caroteiros”, diz um morador, que não quer ser identificado. Carotes são os galões que os motoristas transportam cheios do combustível ilegal, comprado a R$ 0,80 ou R$ 1, dependendo do vendedor, do freguês e do dia da compra na Venezuela. “Com a saída dos arrozeiros, a cidade perdeu economia. E o contrabando virou meio de vida aqui”, disse um servidor público que acompanha de perto a movimentação dos caroteiros. No país vizinho o combustível é quase de graça para a população local. Mas os vizinhos brasileiros de Pacaraima enchem um tanque com R$ 1 no mercado paralelo. Em Santa Elena, cidadão venezuelano compra um litro por 25 centavos de bolívar. Muitos revendem o combustível aos caroteiros, ou “pampeiros”, que atravessam a fronteira em carros velhos adaptados com reservatórios de até 350 litros. A prática do contrabando se agravou nos últimos meses na região, depois que autoridades venezuelanas apertaram o cerco aos pampeiros brasileiros e começaram a pressionar seus compatriotas que comercializavam a gasolina nas ruas e residências. Vender gasolina para brasileiros hoje dá cadeia em Santa Elena. A medida do governo federal, porém, funcionou mesmo como um estímulo ao mercado paralelo do combustível. Hoje, os brasileiros só podem abastecer seus carros em um único posto com permissão de venda, logo depois que passam pelos dois marcos da fronteira. Na semana passada, o litro custava R$ 1,80. Do lado brasileiro, Pacaraima não tem bombas de gasolina e, em Boa Vista, em portos regulares, o litro está na faixa dos R$ 3 a R$ 3,10. “A venda desse combustível no Brasil é ilegal”, diz um policial da fronteira, mostrando o pátio da Receita Federal, na frente do terreno da Polícia Federal, que tem diversos veículos adulterados detidos. “Quanto mais a gente pega caroteiro, mais eles aparecem. Aqui, uns 85% dos casos são de contrabando de gasolina”, afirma o policial. Desde setembro, pelo menos 20 motoristas foram presos naquele trecho. Na região, os veículos turbinados com tanques-reserva e galões escondidos também são conhecidos como carros-bomba. Não por fornecerem o desejado combustível barato, mas porque eles explodem na estrada. Nos retões da BR 174, livres de fiscalização da polícia rodoviária, entre Pacaraima e a capital do Estado, é comum o viajante ver as carcaças abandonada, emborcadas, à beira da estrada. Habituado a circular naquele trecho, um morador de Boa Vista que atravessava as vastas planícies roraimenses, cobiçadas por arrozeiros e, mais recentemente, por plantadores de soja, explica que os carros são virados depois dos incêndios porque os pampeiros voltam para buscar os tanques. Em Roraima, moda é comprar na Guiana Lethem, na fronteira com brasileira Bonfim, se transforma no ‘Paraguai do Norte’  Seis anos depois de o Supremo Tribunal Federal determinar a demarcação contínua das terras da reserva Raposa Serra do Sol, no extremo norte de Roraima, decisão que mudou as relações entre índios e não índios da região, a produção agrícola caiu e o funcionalismo público e os repasses de verbas federais subiram. Porém, se a economia agrícola do Estado sofreu um baque, nos últimos meses os roraimenses fazem a festa nas compras de uma nova fronteira de comércio popular. Na cidade de Lethem, de cerca de 5 mil habitantes, na Guiana, a 125 quilômetros da capital Boa Vista pela rodovia BR 401, uma invasão de brasileiros, moradores da região e turistas, faz a festa das lojas de produtos chineses de baixo preço. Irmã de fronteira de Bonfim, o último município de fala portuguesa na ponta da BR 401, a cidadela guianense recebe também lojistas que abandonam a cidade de Santa Elena, na Venezuela, a 340 quilômetros, e atravessam a ponte do Rio Tacutu para aproveitar as vendas de roupas, calçados, bolsas, perfumes, brinquedos, bicicletas, pneus e até ar-condicionado. “Roupas e calçados são coisas que saem muito mais em conta do que no Brasil”, afirmou a brasileira Larissa Santana, moradora de Boa Vista que frequenta as lojas em Lethem. Ao lado do marido, Daniel Carlos, Larissa contou que os descontos chegam a 80% em relação aos produtos no Brasil. E o pagamento pode ser feito em moeda brasileira.
Em janeiro, controladores brasileiros da fronteira registraram a passagem de 2.500 carros por dia, aos sábados, principal data de compras em Lethem. A fama das promoções e dos preços tem provocado romarias não só de moradores de municípios de Roraima, mas até de Manaus, a cerca de mil quilômetros pela BR 174, rodovia que atravessa Roraima e liga a região amazônica ao Caribe.
Com ruas de mão inglesa (tráfego invertido para motoristas brasileiros), o comércio de Lethem está longe dos volumes de negócios de uma Rua 25 de Março, José Paulino ou Brás, em São Paulo. Mas dá sinais que a aproximam de ambientes de livre comércio de fronteira como o das cidades paraguaias Pedro Juan Caballero e Ciudad Del Este. E não são somente os consumidores com reais que estão mudando a paisagem de Lethem. “O movimento nos últimos meses cresceu cerca de 40%”, afirmou o comerciante Weverton Brito, ele próprio um brasileiro, morador da vizinha Bonfim, que atravessou a fronteira para surfar na onda do lado de lá da ponte. Proprietário do comércio, Brito disse que a chegada dos brasileiros atraiu lojistas até de Boa Vista. E explicou: “O imposto que se paga na Guiana fica em torno de 10% do preço da mercadoria. Isso baixa o preço para o consumidor. E os comerciantes estão vindo para cá aproveitar esse movimento”, afirmou, contando que espera obter neste ano um faturamento mensal de R$ 800 mil. “Isso aqui é o Paraguai do Norte”, emendou Richardson Thomé, também lojista que corre para se colocar no mercado guianense de olho nos reais dos compatriotas. Thomé, que tem negócios em Boa Vista, acaba de abrir uma loja de eletroeletrônicos na Guiana e já se prepara para ampliar o faturamento. Em um mês planejar vender também vestuário e perfumes, que importa dos Estados Unidos. Segundo o comerciante, a expectativa de faturamento está em torno de R$ 200 mil por mês. Os negócios não prometem ganhos somente para brasileiros, que compram ou que vendem. “Hoje há pelo menos dez lojas grandes de chineses aqui”, disse Thomé. “São chineses que tinham lojas e mercados em Santa Elena, mas fecharam lá”, contou o brasileiro. Produção cai e Estado aumenta servidores  Desde 2009, quando o Supremo Tribunal Federal determinou a saída de fazendeiros da Raposa Serra do Sol, a produção agrícola de Roraima desabou. “A gente plantava 22 mil hectares de arroz até 2009. Isso caiu para 9 mil em 2010. Estamos recuperando, mas está longe do que era”, diz Genor Faccio, da associação dos arrozeiros, um dos retirados da área. A exportação agrícola do Estado, que em 2006 foi de US$ 16,4 milhões, caiu em 2009 para US$ 12,6 milhões, chegou a US$ 15,1 milhões (2012), mas despencou novamente em 2013 (US$ 8 milhões). Porém, se os indicadores econômicos mostram cenário complicado, na contratação de servidores a coisa vai de vento em popa. O número de funcionários públicos explodiu. Na Prefeitura de Boa Vista, que tem 315 mil dos 496 mil habitantes do estado, o quadro saltou de 2.452 servidores em 2006 para 3.930 em 2010. E fechou 2013 com 5.100, alta de 59,1% sobre o ano anterior. No governo estadual, que tem 16.171 servidores, o aumento foi de 10,9% sobre 2012. Os repasses da União eram de R$ 1,8 bilhão (2009) e chegaram a R$ 2,4 bilhões (2013).