Selecione e veja a situação atual dos clubes:

Sãocarlense XV de Jaú Marília Mirassol Comercial Francana Inter de Limeira União São João de Araras Guarani Rio Branco

Paulista de Jundiaí

O principal nutriente que dá força ao gramado do estádio do Paulista, em Jundiaí, é a esperança de que o cuidado meticuloso com os cinco tipos de grama lá plantados possa ajudar o time a se recolocar nos campeonatos. Com 85 anos, 30 deles dentro do Paulista, seu Domingos Casagrande trabalha horas agachado tirando pragas insistentes em se infiltrar no gramado do estádio em Jundiaí por onde até Pelé pisou. Usa apenas uma faca e as mãos. Seu fiel escudeiro é 25 anos mais moço e trabalha montado em um pequeno trator cor de abóbora, para cortar e alisar o tapete verde do Jayme Cintra. "Aqui a gente faz tudo: corta, risca, tampa buraco, arranca praga", explicou Casagrande, chapelão de palha pousado do lado da cabeça.

O terceirizado e torcedor Luiz Aparecido Bento, na casa dos 60 anos, também cuida da manutenção do estádio de Paulista, mas não é funcionário do clube. Ele faz parte de uma nova leva de mudanças para o time de Jundiaí: a tentativa de resgate da credibilidade. "A pintura somos nós que estamos fazendo, limpamos tudo. Nós estamos dando um suporte ao estádio." Ele é do tempo em que as arquibancadas eram feitas de madeira. Lá no alto, dois ou três funcionários de roupas alaranjadas com grandes rolos de pintura executam a ideia do "Novo Paulista".

Coordenador técnico do Paulista, Armando Bracali também é guardião do tapete-gramado

"O objetivo é trazer uma nova forma de gestão, que aproxime o clube das pessoas da cidade e do pequeno comerciante até o grande empresário", disse o coordenador técnico do Paulista e um dos guardiões do gramado jundiaiense, Armando Bracali, de 64 anos. A experiência, testada e aprovada no PSV da Holanda, parece ser a última saída e precisa dar certo, segundo ele.

Com pouco menos da metade da idade de Bracali, o gerente de marketing do Paulista, Jurandir Segli Júnior, aos 28 anos tem ambição que ultrapassa os muros do Jayme Cintra. "Nós queremos sacudir o futebol brasileiro. (O Novo Paulista) é um modelo diferente de tudo o que a gente vê por aí. É bem pé no chão, mas é muito legal." Começaram criando o "Tricolor, meu clube amado", um grupo para discutir os problemas do time entre os torcedores. "Com o Douglas Stephens, que já tinha feito a Rádio Curingão, formamos uma nova diretoria. Isso aqui ia fechar as portas, cara!"

Sala de troféus do Paulista

Assim como nas outras equipes do Interior, as dificuldades econômicas ameaçam as conquistas dentro de campo. "Para tocar o clube na Série A2 do Estadual, pegamos um porcentual de direitos econômicos de vários atletas e fizemos 16 cestas. Os próprios empresários compraram a R$ 50 mil cada uma", afirmou Bracali. Hoje, as cinco categorias de base disputam o Campeonato Paulista. E, na sequêcia, em 19 de julho, o time principal participa da Copa Paulista. Ambos os torneios são uma preparação para a disputa da Série A2 novamente no ano que vem.

ECONOMIA DE LUZ


Gerido pelas empresas Lousano, Etti e Parmalat nos anos 1990 e 2000, respectivamente, o Paulista tem hoje uma dívida entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões e a média de público só fez piorar a ausência de receitas: não passou de 600 no torneio. "O pessoal até acompanha o Paulista, mas não vem ao estádio. Isso dá um prejuízo de uns R$ 12 mil por partida", calcula o cartola. O quadro resultou em medidas drásticas, como não disputar campeonato de categoria Sub-20, redução no número de alojados do clube pela metade, não realização de partidas noturnas para economizar na conta de energia e demissão de pessoas.

Isso dói especialmente para quem, desde 1991, entre indas e vindas, se dedica ao clube. Momentos antes da conversa sobre os rumos da equipe, diante dos vários quadros com formações antigas, Bracali apontou, entre atletas de renome, seu próprio rosto com idades bem variadas. Dentre tantas funções, treinou os goleiros no Paulista. Um deles guarda com mais carinho por razões óbvias, seu filho Rafael. "No começo falavam que ele jogava porque era filho do treinador, o 'filho do Bracali'. Depois de um tempo, era o contrário. Apontavam pra mim e diziam: 'lá vai o pai do Rafael'", recorda com sorriso por baixo dos bigodes fartos e grisalhos.

Nada apaga de sua memória a conquista da Copa do Brasil, a maior do Paulista, quando bateu o Fluminense por 2 a 0. No fim do jogo, o filho deu uma carreira e abraçou o pai, apontando as luvas para a câmera. "Aquilo ali foi o máximo. Ao longo daquele campeonato, nós ganhamos de seis rivais que disputavam a primeira divisão. Aqui é a casa que me acolheu, que me deu oportunidade de atuar profissionalmente."

DEMÃO DE TINTA NO ESTÁDIO


Na penúltima semana de maio, o prefeito de Jundiaí, Pedro Bigardi (PCdoB), encampou de vez a luta pelo Novo Paulista e se juntou ao mutirão que foi dar uma demão de tinta no estádio. "Nós não podemos colocar recurso público lá, então estamos mobilizando empresas", disse por telefone. "A gente está agitando esses eventos (de aniversário). Isso está dando certo, porque as pessoas começam a se interessar mais. Vou lá desde moleque e é um patrimônio da cidade."

A cara do movimento Novo Paulista: o gerente de marketing Jurandir Ségli Júnior, de 28 anos

É também para Jurandir. "Meu avô gostava muito disso aqui. Meu pai conta que meu avô dava dinheiro do próprio bolso para o time." Em vez de pagar, como o avô, ele encontrou no trabalho a fórmula para reerguer de maneira sustentável a gestão do Paulista e trazer novos torcedores. "O Bracali vê, eu passo o dia inteiro aqui pedindo ajuda." Bracali balançou a cabeça, concordando, pensativo. Depois de um breve silêncio, arrematou: "A verdade é que a torcida do Paulista envelheceu. Pra você ter uma ideia, aqui na cidade tem sedes das quatro torcidas organizadas dos times grandes de São Paulo. A molecada não quer torcer pra quem é 'perdedor'."

Mas, no fim, o que importa é que o jovem estava à frente do evento que deu o ponta-pé inicial no projeto do Novo Paulista para o público, no início de junho. "A gente está fazendo uma série de eventos para comemorar o aniversário de 106 anos do clube", adiantou, quando as festividades ainda eram planejadas. Com shows de bandas da cidade, que abriram mão de cachê, e a montagem de um food park, as portas do Paulista foram abertas à população. De acordo com Jurandir, até visita no campo teria. "Isso se o Bracali deixar pisar no gramado, claro."