PCC 10 anos

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Acervo:
'Facção é uma ficção'


Rose Saconi Texto
Governo negou existência do
PCC até junho de 2000. ‘Estado’
publica reportagens desde 1999

Sete anos antes do início dos ataques de 2006, em março de 1999, o Estado publicava denúncia do Ministério Público Estadual sobre a existência de uma organização criminosa nas penitenciárias de São Paulo que estaria em ação desde o ano de 1993. O grupo “mata, ameaça, promove rebeliões, fugas e comanda o tráfico de entorpecentes e de armas”. Os detentos, dizia a reportagem, são integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). “A existência do PCC não passa de uma ficção, uma fantasia”, declarou na época o secretário da Administração Penitenciária, João Benedito de Azevedo Marques.

O governo paulista só admitiu a presença da organização nos presídios em junho de 2000. Nessa época, reportagem especial investigativa apontou a atuação de três grandes facções nas maiores penitenciárias de São Paulo, “o PCC é o grupo mais antigo; as quadrilhas atuam nos presídios, mas ainda não ganharam as ruas”, contou o jornal. Durante um mês, a reportagem do Estado reuniu depoimentos, documentos, cartas e entrevistou presos, funcionários públicos e religiosos para reconstruir a história desses grupos, cuja existência era sistematicamente negada pelo governo – que não queria dar-lhes fama nem força.

Partido. Na radiografia do sistema penitenciário levantada pelo jornal nessa época, os membros desse chamado 'partido', PCC, foram identificados como bandidos de pouca expressão e pobres, que se uniram na prisão para sobreviver e são responsáveis por assassinatos, agressões, fugas e achaques contra parentes de outros presos.

Entre os maiores líderes estavam Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra; Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Marcos Marcondes Augusto, o Mortão, Nílson de Paula Alcântara Reis, o Faísca, Edmir Volete e Alcides Sérgio Delassari, o Blindado.

Ações. O jornal continuou cobrindo todas as ações criminosas da facção, sequestro, rebeliões, mortes, atentados a bombas até os maiores ataques que começaram na noite de 12 de maio de 2006, minutos depois de Marcola e outras lideranças chegarem ao prédio do Deic.

“Guerra do PCC espalha terror e deixa 32 mortos”, foi a manchete do Estado, guerra considerada “a maior ofensiva do crime organizado já registrada no País”.

Policiais, guardas civis e agentes penitenciários foram mortos em emboscadas. Nem bombeiros escaparam dos ataques. Delegacias e batalhões da Polícia Militar foram metralhados. Em alguns prédios, os bandidos explodiram granadas. Estabelecimentos comerciais dispensaram os funcionários mais cedo. Fóruns criminais e o Ministério Público de São Paulo fizeram o mesmo, a partir do dia 15 de maio, uma segunda-feira.

Dados da Secretaria da Segurança Pública contabilizaram, até o dia 18 de maio daquele ano, 293 ataques. A cobertura do jornal continuou intensa diariamente. Foram mortos 23 PMs, 7 policiais civis, 3 guardas municipais e 8 agentes penitenciários; 107 suspeitos foram mortos em confronto com a polícia e outros 124 acabaram presos.