andarFernanda Curam

Bastam duas rodas para mudar

por Edison Veiga
vídeo.Fernanda: saúde, economia e felicidade, graças à bike

“Para mim, esta é a grande diferença: de bicicleta você chega feliz ao trabalho.” Essa é a justificativa da publicitária Fernanda Curam, de 34 anos, para ter trocado o carro pela bike, no fim de 2013. O capacete recém-incorporado à roupa do trabalho representa a junção de duas ideias: viver de modo mais sustentável e economizar – só em combustível, eram R$ 500 por mês. “A meta era me deslocar de bike ao menos três vezes por semana. E tudo bem usar outros tipos de transporte”, diz. Às vezes, no mesmo dia, ela usa até quatro meios, de ônibus a táxi e trem. “São Paulo é uma cidade que se move de várias maneiras e, se soubermos aproveitá-las e, principalmente, integrá-las, a vida na cidade, além de mais econômica, fica mais inteligente e interessante.”

Até agora, a proposta tem dado certo. Mas a publicitária sabe que isso só não é lá muito complicado porque ela mora na Vila Madalena, na zona oeste, e trabalha na Vila Cordeiro, zona sul – menos de 7 km de deslocamento, em trajeto bem servido por ciclovias e pelo transporte público. “É a realidade de uma bolha. Não sou míope em relação às dificuldades das outras regiões”, frisa.

Com a rotina incorporada no dia a dia, a publicitária não parou de pedalar nem quando sua bike dobrável foi roubada. Agora, empresta a de amigos para se deslocar enquanto não compra outra. “Pedalar tem muitas vantagens: você pratica uma atividade física, contribui para o trânsito da cidade, se desloca em menos tempo quase sempre. É uma melhoria na saúde mental”, diz.

foto.Ciclovia do Rio Pinheiros, que tem 21,5 km de extensão

Mobilidade em xeque

por Giovana Girardi

Estudo mostra que carros respondem por 65% das emissões do setor; para mudar, dizem especialistas, o jeito é melhorar o transporte público e investir em corredores, faixas e ciclovias

Pode ser que muita gente ainda não aprove, mas é praticamente unanimidade entre especialistas em mobilidade urbana que ações como instalação de corredores e faixas de ônibus, de ciclovias e a redução da velocidade permitida aos carros são fundamentais para tornar São Paulo – ou qualquer outra cidade do mundo – mais justa, amigável ao cidadão, saudável e, de quebra, menos responsável pelas mudanças climáticas.

É o transporte, principalmente o de carros, o maior contribuinte para as emissões de gases de efeito estufa da cidade, de acordo com inventários da Secretaria do Verde do Município e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para a região metropolitana. Um novo trabalho, que está sendo finalizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), mostra que os automóveis são responsáveis por cerca de 65% das emissões do setor de transportes; aos ônibus cabem 19% das emissões.

“Ou seja, é preciso desestimular o uso de carros, incentivar faixas exclusivas de ônibus e aumentar a presença de ciclovias, o que de certo modo vem sendo feito”, diz André Ferreira, diretor-presidente do Iema.

Mas também é preciso melhorar o transporte público, diz ele. O instituto, junto com Greenpeace e a Rede Nossa São Paulo, questionou a licitação de ônibus que estava sendo feita pela Prefeitura, entre outros motivos porque a proposta não seguia a lei municipal de mudanças climáticas, que estabelece que, a partir de 2018, o transporte público estará obrigado a usar 100% de combustíveis renováveis. A licitação foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Município (TCM).

“A questão da sustentabilidade climática não pode ser separada da crise de mobilidade urbana. O problema do transporte tem duas caras. Um lado é não conseguir se deslocar. O outro é a poluição local e de gases de efeito estufa. Não é possível resolver um sem o outro. Pode colocar combustível renovável em toda a frota, mas se a cidade não andar, não resolve”, explica Ferreira.

O ambientalista Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde, também defende que é preciso pensar a mobilidade do ponto de vista do pedestre. Para ele, as pessoas só vão gostar de andar a pé se a cidade deixar de ser hostil ao pedestre. “As pessoas têm medo de andar na rua. Faltam árvores, temos ilhas de calor espalhadas pela cidade, as travessias não são facilitadas. Faltam lugares para que as pessoas possam sentar e descansar”, explica.

Para ele, a implementação de mais ciclovias também conversa com isso. “Em geral se acha que elas são importantes só para o ciclista, mas são para o pedestre. Onde há uma ciclovia, a cidade fica mais calma, porque a velocidade dos carros diminui. E ter mais gente andando na rua deixa também a cidade mais segura.”

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