recrutamento de adolescentes para engrossar as fileiras da guerrilha é comum também no Paraguai, onde o Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo de orientação marxista, opera ativamente no estado (departamento) de Concepción, ao norte de Assunção. Nos últimos meses, vídeos produzidos pelos próprios guerrilheiros, obtidos nas investigações da Força Tarefa Conjunta (FTC) do governo paraguaio, que combate a guerrilha na região, mostram a presença de jovens de 15, 16 e 17 anos entre os extremistas do EPP.
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De acordo com a polícia paraguaia, no grupo de guarda dos reféns Arlan Fick Bremm, de 17 anos, sequestrado em 2 de abril, e do policial Edelio Morínigo, 25, capturado em 5 de julho, estão pelo menos dois jovens. O vídeo, divulgado como propaganda do EPP, no qual se vê Arlan e Edelio enviando recados às famílias, o menor F.B.M., de 16 anos, aparece empunhando uma carabina. Ele é irmão do líder guerrilheiro Antônio Bernal Maíz e de Bernardo Bernal Maíz, o Tenente Coco, epepista que foi morto no dia do sequestro de Fick, filho do produtor rural brasileiro Alcido Fick Bremm, em Paso Tuya, em Azotey, à beira da estrada Ruta 3. As imagens mostram ainda outro jovem, Domingo Ovelar González, de 18 anos, com um M16.
Numa caçada aos guerrilheiros, no final de setembro, a FTC encontrou entre os mortos no tiroteio em Horqueta, distrito de Concepción, o corpo de Andrés López Fernández, de 15 anos, que, segundo a polícia, integrava um grupo dissidente do EPP, conhecido como Associação Campesina Armada (ACA), ligado aos irmãos Albino e Alfredo Jara Larrea. Um outro menor, AFF, de 17 anos, também foi identificado entre os " soldados" do ACA.
Segundo o professor Tomaz Esposito, da Universidade Federal de Dourados, que estuda a evolução do EPP, o movimento paraguaio não faz recrutamento forçado de crianças e jovens no estido das Farc ou Sendero peruano. Para ele, a situação no Paraguai é diferente. O grupo guerrilheiro, que atua na região de Concepción, é incipiente, embora esteja em pleno crescimento.
O pesquisador explicou que a adesão dos adolescentes ao EPP ocorre como cooptação. "As comunidades vivem na pobreza e abandono. Os adolescentes externam sua revolta e descontentamento aderindo ao movimento", declarou. Esposito diz que o processo de formação dos rebeldes paraguaios é similar ao que ocorre no tráfico de drogas das grandes cidades brasileiras. "Os adolescentes se aproximam, conhecem lideranças", disse. Ele destacou que há uma preocupação crescente também do Brasil na área de fronteira, de Amambai, onde foi instalado o projeto piloto do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).
Segundo o governo brasileiro, as operações de inteligência do Sisfron, programa orçado em R$ 12 bilhões, subordinado ao Comando Militar do Oeste, atinge uma faixa de 600 quilômetros da fronteira com o Paraguai. O Sisfron usa "equipamentos tecnológicos de ponta, como radares e outros meios de sensoriamento, que serão aplicados ao longo dos 16,8 mil quilômetros da fronteira nacional. Isso equivale a um monitoramento de aproximadamente 27% do território do país, abrangendo os Comandos Militares da Amazônia, do Norte, do Oeste e do Sul", informa documento do Exército brasileiro. "O controle de fronteira aqui é difícil. O mais eficiente é mesmo o trabalho de inteligência e de aproximação entre os dois governos e as comunidades dos dois lados", acredita o pesquisador da Federal de Dourados. (colaborou Roberto Godoy)
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Soldados da Força Tarefa Conjunta do Paraguai em operação na região de Concepción, onde atua o EPP