Crianças aprendem a inventar fazendo brinquedos

Em São Paulo, oficinas usam kits para estimular criatividade dos pequenos makers

Vitor Tavares

O primeiro passo é abrir a caixa e separar todas as peças: seis patas amarelas, duas antenas verdes com olhos na ponta e um corpo ligado a um motor que só funciona com a incidência de luz. A montagem do “grilo solar”, entretanto, não sai das mãos dos adultos experientes em tecnologia, mas das de crianças que, juntas, começam a exercitar o poder de criar.

Kits infantis criados pelo arquiteto Saulo Lisboa fazem crianças se tornarem inventoras Crédito: Felipe Rau

O kit impresso em 3D foi ideia do arquiteto Saulo Lisboa, dono do makerspace. Dadalab, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Para ele, é brincando e tendo o primeiro contato com programação que as crianças vão sentir que também podem inventar os próprios projetos. "Elas dão outra visão para tudo e não são fechadas no que está estabelecido. Sempre olham além da curva."

Hoje com 34 anos, Lisboa é interessado em tecnologia desde os 12. Naquela época, seu contato com o assunto se resumia a abrir os equipamentos eletrônicos em casa e ler revistas especializadas compradas na Rua Santa Ifigênia, no Centro da capital paulista. Com os kits makers que criou, ele vê a chance de a nova geração de inventores entender logo cedo o funcionamento dos próprios brinquedos. E, assim, também dar mais valor aos objetos. “Você não vai mais lá e compra outro de novo, mas conserta, ressignifica.”

No laboratório do Mundomaker, que funciona há seis meses na Vila Madalena, crianças de 7 a 14 anos são incentivadas a pensar um projeto coletivo, estabelecendo metas, prazos e o funcionamento das invenções. Os adultos só interferem no processo quando chega a hora de mexer em impressoras, fresadoras, martelos e furadeiras. “Além da alfabetização digital, a gente entende que deve deixar elas trabalhando em projetos que vão originar um produto final. Isso eles não aprendem nas escolas”, diz Fábio Zsigmond, um dos sócios do makerspace.

Munidos de arduínos, motores e outros elementos de robótica e eletrônica, os pequenos inventores fazem bijuterias, jogos e até instrumentos musicais gigantes. “Transformando ideias em realidade, a nova geração tem um pensamento mais crítico de tudo.”

Seja no Dadalab, no Mundomaker ou em oficinas realizadas em espaços como o Sesi, as crianças surpreendem principalmente pelas novas soluções que sugerem. Ao questionarem, por exemplo, ‘por que a cabeça do robô vira só para um lado e não para os dois’, elas aprimoram até as invenções dos adultos. “A persistência na curiosidade mostra, no fim, que elas realmente estão certas”, afirma Lisboa, do Dadalab.