A maleta maker vai à aula

Professor Sidnei Fenólio desperta nos alunos o interesse pela robótica ao unir criatividade e tecnologia em seu ‘laboratório’ ambulante

Isabella Macedo

Quando o professor de Ciências Sidnei Fenólio entrou na sala de aula com a maleta cinza, parecida com uma caixa de ferramentas, os alunos nem notaram. “Ninguém olhou para mim.” A situação só mudou quando ele começou a tirar dali garfos, garrafa e palitos. Ganhou o olhar e a atenção das crianças ao espetar dois garfos em uma rolha e equilibrar os objetos no palito, formando um pássaro de asas abertas. “Se vocês se acalmarem, tem mais”, prometeu.

São quase 20 anos despertando o interesse dos alunos desta maneira. A maleta, que acompanha Fenólio desde o início da carreira, já é um símbolo de suas aulas. A ideia é usar materiais que fazem parte do cotidiano dos alunos para criar o maior número de aulas possíveis. “O que eu faço é utilizar o que tenho em casa. É isso que um professor maker faz. A novidade é a tecnologia.” O laboratório ambulante tem de fios a bexigas, de pilhas a palitos de churrasco, de pedaços de cano a garrafas PET. Cultura maker, afirma o professor, é um novo nome para soluções criativas.

Professor de Ciências Sidnei Fenólio faz de sua maleta um laboratório ambulante Crédito: Felipe Rau

Fenólio acredita que o incentivo do educador é um dos pontos-chave no processo de aprendizagem. “O professor não é um deus ou detentor absoluto do conhecimento.” Ele encoraja seus estudantes a aprender fazendo, não importa se com sucata ou com equipamentos tecnológicos de ponta. Quando os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Deputada Ivete Vargas, na zona leste de São Paulo, não levam para casa os experimentos feitos em sala, Fenólio prefere guardar a descartar.

Trabalho de conclusão

As crianças de 11 a 15 anos põem em prática os conceitos fazendo experimentos. Nas aulas extracurriculares e semanais de robótica, elas já criaram um carrinho feito com placa de programação e sucata. Os projetos são para o Trabalho Colaborativo Anual (TCA) da rede municipal, no qual os alunos devem desenvolver e apresentar um trabalho ao final da série. No pavilhão da Bienal, três alunas de 13 e 14 anos exibiram em novembro protótipos de aviões e uma plataforma de petróleo. O projeto de Letícia Tomas, de 13 anos, era um dos TCAs que mais atraíam a curiosidade de professores e alunos de outras escolas. Ela desenvolveu um carrinho com sucata de DVD, rodinhas de patins e palito de churrasco, que se move a pilha e motor de impressora. “No fim, foi fácil. O professor só orientou e eu tive ideias para colar, fazer a montagem, colocar as peças e pegar palitinho para ligar uma parte à outra”, explica Letícia.

Fenólio não esconde o orgulho. “Se vocês soubessem a alegria de um aluno quando um LED acende pela primeira vez... Os olhos deles brilham!” A tecnologia tem chegado às escolas, mas devagar. Na Emef Dep. Ivete Vargas, há poucos kits de robótica, que precisam ser montados em uma aula e desmontados em outra para que todos os alunos usem. O que o professor comemora mesmo é abrir oportunidades para seus alunos por meio do curso de robótica, matéria antes restrita a algumas escolas particulares. “Não há dinheiro que pague ver a felicidade dos alunos em fazer uma coisa que nem todos os colégios privados fazem.”