“Vivemos uma revolução democratizante”, diz Chris Anderson

Para britânico, mundo vive uma terceira revolução industrial, na qual pessoas comuns também fazem diferença

Luciana Amaral e Luiza Pollo Mazurek

Jornalista britânico Chris Anderson, um dos principais defensores do movimento com o livro Makers: a Nova Revolução Industrial Crédito: Divulgação

Um dos pensadores mais influentes do movimento maker, o jornalista Chris Anderson afirma que uma terceira revolução industrial está em curso com a combinação entre o mecânico e o digital. Para o britânico radicado nos Estados Unidos, os makers são peças fundamentais desse processo e podem mudar a maneira como as futuras gerações se relacionam com a tecnologia.

Conhecido pelo best-seller A Cauda Longa: do Mercado de Massa para o Mercado de Nicho, Anderson defende uma mudança de comportamento em seu livro mais recente - Makers: a Nova Revolução Industrial. As pessoas passaram a compartilhar ideias e informações para fabricar objetos por prazer ou por necessidade, afirma. Anderson conversou com o Estado sobre o movimento, as transformações na sociedade e o panorama brasileiro no contexto mundial.

Qual a diferença entre os makers do passado e os atuais? O que as pessoas costumavam fazer de diferente?

A resposta para isso é, basicamente, a web. Makers do passado trabalhavam sozinhos enquanto makers do presente trabalham juntos, em comunidades e online.

Você afirma que vivemos a terceira revolução industrial. Como ela está acontecendo e como o movimento maker embasa essas transformações?

Não é que ele em si seja a terceira revolução industrial. Há uma revolução acontecendo agora e o movimento maker é parte disso. A primeira substituiu músculos por máquinas e introduziu as fábricas. A segunda substituiu o poder de pensar dos cérebros por computadores. A terceira é uma combinação das duas. É a manufatura digital. A diferença é que agora ela não está ocorrendo apenas nas empresas, mas também entre as pessoas comuns. Vivemos uma revolução democratizante.

Críticos afirmam que você é muito otimista, pois há fortes barreiras econômicas, como patentes e o próprio custo dos equipamentos. Como responde a esses questionamentos?

Eu não presto atenção às críticas. Nem as entendo. Você consegue patentes por US$ 1 mil, tenho dezenas delas. Milhares de pessoas fazem isso todos os dias, é só olhar as campanhas de crowdfunding e ver que não há impedimentos assim.

Trazendo essa realidade para o Brasil, em que nem todos têm condições financeiras para bancar uma startup ou ir a um Fab Lab, como se aplica?

Praticamente todas as iniciativas partem de indivíduos com base em ferramentas em nuvens na web ou impressoras 3D disponíveis em escolas ou em casa. Infelizmente, o Brasil é um caso problemático. É o único país com altas taxas de importação para a maioria desses componentes eletrônicos. As políticas brasileiras são muito danosas para a tecnologia e fazem o Brasil estar ausente da discussão global sobre o assunto. É preocupante ter tanto potencial, mas não oferecer acesso fácil a essas ferramentas. A China disparou com uma visão diametralmente oposta e hoje é o maior maker, com propostas virando negócios de verdade.

Quais são outras barreiras ao movimento, além das tecnológicas? Dá para ser um maker com pouco?

A maior mudança do movimento maker nos últimos sete anos foi a transferência do aspecto puro e geek para uma grande indústria do trabalho manual. O movimento atual inclui esses trabalhos manuais e, em sua maioria, é composto por mulheres. É só olhar os vídeos de “Faça você mesmo” no YouTube. Eles abrangem tanto as artes quanto a ciência, tanto hobbies quanto empresas. Barreiras estão caindo e, como resultado, o movimento maker fica mais mainstream. Há empresas como a minha, que saíram do movimento maker e hoje valem bilhões de dólares.

Como o movimento maker pode mudar o modo de pensar e agir da futura geração? Como vai influenciar o futuro?

Objetos que costumavam ser feitos por profissionais ou exigiam conhecimento especial, como design digital e engenharia, podem ser feitos por crianças na escola. O que vemos são as ferramentas para manufatura e desenho de produtos tão democratizados quanto o computador. É exatamente o que aconteceu com a computação, a comunicação e a web. Agora está chegando às coisas físicas.