Fab Lab não tem idade

Arquiteto de 54 anos não se intimida em ambiente dominado por jovens

Júlia Corrêa

Toda quinta-feira, o arquiteto Augusto Citrangulo passa a manhã e a tarde envolvido em experimentações com impressoras 3D e cortadoras a laser. Com essas ferramentas, auxiliado por monitores mais jovens, ele vem modificando o jeito de fazer suas invenções. “Virou uma religião para mim, só vou embora porque preciso buscar meu filho na escola.” O ritual a que se refere acontece no Fab Lab do Insper, inaugurado há cerca de dois anos para os alunos da faculdade e aberto ao público uma vez por semana.

Aos 54 anos, ele é um dos frequentadores mais veteranos do espaço, mas o que poderia ser um choque de gerações tornou-se um atrativo para o arquiteto. Nas primeiras idas ao Fab Lab, há cerca de quatro meses, Citrangulo se surpreendeu com o que encontrou: makers lidando naturalmente com máquinas para criar até mãos e braços biônicos. A interação com os jovens rendeu ideias para incrementar trabalhos antigos de sua trajetória como inventor.

Aos 54 anos, Augusto Citrangulo frequenta o Fab Lab do Insper, em São Paulo Crédito: Felipe Rau

É o caso de um projeto de carrinhos de sucata, vinculado a um trabalho educacional que desenvolveu durante dez anos em escolas e centros culturais de São Paulo. Agora, a partir da parceria com um estudante de robótica do Insper, ele pretende motorizar os brinquedos. O garoto também tirou proveito da ideia e usará as embalagens resistentes para tornar seus robôs mais lúdicos.

No Insper, Citrangulo também percebeu que poderia complementar os trabalhos que faz em seu estúdio, onde une arquitetura, artes plásticas e design. Recentemente, utilizou uma cortadora a laser do espaço para fazer grades com detalhes personalizados para o mobiliário de um casal de clientes. “Eu queria algo único, nada que existisse no mercado. Com a cortadora, consegui reproduzir nos móveis padrões de mosaico que tinha visto em uma viagem ao Marrocos”, relata.

Assim, Citrangulo explora à exaustão possibilidades inéditas para um inventor à moda antiga. “Ele chega a refazer dez vezes a mesma coisa”, conta um dos makers que acompanham seu trabalho no Fab Lab. Na nova “religião” do arquiteto, só o que o incomoda é ter de esperar até a quinta-feira seguinte para dar sequência às suas invenções.