Casos nos estádios de futebol e na internet crescem 64% em 2017
Os gestos racistas do botafoguense André Luis Moreira dos Santos em direção à família do flamenguista Vinicius Junior nas arquibancadas do Engenhão ou os insultos ao zagueiro Rafael Vaz nas redes sociais, em uma foto com sua filha de dois anos, são apenas exemplos de uma estatística que – infelizmente – tem de ser atualizada a cada rodada do Campeonato Brasileiro. Os casos de injúria racial explodiram neste ano, tanto nos estádios como na internet.
Até o mês de outubro, já foram computados 41 casos nos estádios de todo o Brasil e na internet. Isso significa um aumento de 64% em relação a 2016. Os dados são do Observatório da Discriminação Racial do Futebol Brasileiro, entidade dedicada a pesquisar e discutir o tema no esporte.
O Estado teve acesso a trechos do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol, documento que a entidade publica após catalogar os casos de injúria racial e racismo no esporte brasileiro e também os casos sofridos por atletas do Brasil no exterior.
O estudo, que engloba ainda casos de xenofobia e homofobia, conta com a parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em sua elaboração, está em sua quarta edição. A data da publicação do estudo de 2016 ainda não está definida por falta de parcerias (ver mais informações abaixo).
A base de pesquisa do Observatório são os casos veiculados pela imprensa brasileira e denúncias enviadas por torcedores nas redes sociais. Esses dados, colhidos por meio de um trabalho voluntário, mostram um problema recorrente. Em 2014, foram 20 registros. No ano seguinte, eles subiram para 35 registros. O movimento que parecia ter regredido em 2016, com 25 casos, estourou novamente neste ano. “Um dos maiores erros é enxergar cada caso como um novidade, como algo isolado. Todos estão inseridos em um contexto que exige preocupação e atitude”, explica Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório.
Para Juvenal Araújo, secretário especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, o problema está relacionado à própria sociedade brasileira. “Depois de 129 anos, o racismo ainda não acabou. Ainda vivemos o dia 14 de maio, o dia seguinte à proclamação da Lei Áurea”, diz o secretário. “As condições de liberdade e também da invisibilidade do negro se refletem no futebol. O esporte é reflexo da sociedade”, completa.
Para os jogadores, o tema é delicado e controverso. A maioria dos negros vítimas de injúrias não quis falar. Apenas o goleiro Aranha e o Rafael Vaz abordaram o tema abertamente.
De acordo com o Observatório da Discriminação Racial, os casos de injúria são apenas a ponta do iceberg no mundo do futebol. Para Carvalho, o problema é muito maior diante da ausência dos negros em outras posições de destaques, como treinadores, dirigentes, presidentes de clubes e também como comentaristas, repórteres e apresentadores nos principais programas esportivos.