John HughesO gênio da Sessão da Tarde

Seus filmes eram praticamente todos ambientados nos subúrbios de Chicago, cidade onde passou a maior parte de sua vida e próxima à região onde nasceu.

Eram simples e até meio rasas. A menina pobre que gosta do garoto rico. O nerd que só quer se dar bem. O estudante que mata aula para se divertir. E por aí vai. Giravam em torno de personagens carregados de estereótipos (que eram postos a prova no decorrer da história) e seus dramas. Tudo apoiado numa típica estrutura de colégio: o grupo dos populares contra a turma dos não populares.

Alternava momentos de humor atrevido (e carregado de uma certa dose de picardia), com delicadas reflexões sobre assuntos que são caros aos adolescentes, tais como amor não correspondido, pressão social e bullying. "Ele conhecia o coração e a alma da angústia adolescente", diz a produtora Lauren Shuler Donner, que trabalhou com o diretor em A Garota de Rosa-Shocking. E se utilizava muito do recurso de "derrubar a quarta parede". Termo usado para definir as cenas onde o ator atua olhando para câmera, simulando uma conversa com o expectador.

Referências à bandas pop eram uma constante e as canções não se faziam presentes apenas para dar um clima às cenas, faziam parte do conceito dos personagens, ou até do filme. Por exemplo, a idéia para o longa A Garota de Rosa-Shocking (Pretty in Pink, no original) se originou da canção Pretty in Pink, do grupo new wave californiano The Psychedelic Furs. Banda que foi apresentada a Hughes justamente pela atriz Molly Ringwald, personagem principal do filme.

Adorava comédias físicas, romances ousados e histórias onde os oprimidos venciam. Dr. Jivago (Doctor Zhivago, 1964), um drama sobre a paixão de um jovem médico aristocrata por uma enfermeira plebéia em plena Revolução Russa, alimentou todo seu ideal de romantismo que veríamos, mais tarde, em seus trabalhos. Da comédia Cupido é Moleque Teimoso (The Awful Truth, 1937), com Cary Grant, Hughes aprendeu que um humor físico e sutil pode ser uma ferramenta poderosa para atingir as platéias. Outra grande influência, foi o trabalho do cineasta Frank Capra e sua visão positiva da humanidade.

Adorado pelo telespectadores mas ignorado pela crítica nos anos 80. Hoje, John Hughes é visto como um autor extremamente autoral por ambos. É difícil medir a influência da sua obra nas produções atuais. É possível ver ecos do seu trabalho nos longas dos irmãos Farrelly, Jude Apatow e Kevin Smith, e em filmes como American Pie: A Primeira Vez é Inesquecível (American Pie, 1999) e 10 Coisas que Eu Odeio em Você (10 Things I Hate About You, 1999) sendo uma referência presente em qualquer comédia ou produção adolescente que se preze. Por exemplo, a Marvel Studios quer que os próximos longas do Homem-Aranha (que serão ambientados no colegial com um ator mais jovem,Tom Holland, no papel principal) tenham o mesmo sabor das produções de Hughes.

• Era fascinado pela obra do artista espanhol Pablo Picasso. Adolescente, chegou a pintar um mural, em estilo cubista, em uma das paredes do porão da casa onde morava.

• No Ensino Médio, muitas vezes, ia para a escola vestindo calças de golfe com tênis com estampas quadriculadas (era zoado pelos garotos mas as meninas adoravam). Sempre moderno e arrumadinho, tentava emular o estilo dos Beatles, sua banda favorita, e, principalmente, de John Lennon, sua obsessão.

• Tinha uma Fender Stratocaster e era um bom guitarrista.

• Não teve uma relação fácil com os pais. Era muito criticado por eles, que não viam com bom olhos seu interesse obsessivo pelas artes. Queriam que tivesse "uma carreira de verdade".

• Apesar de ser tímido e nerd, fazia sucesso com as meninas. Em 1967, aos 17 anos, conheceu uma líder de torcida loirinha, no melhor estilo "rainha do baile", chamada Nancy Ludwig, e os dois começaram a namorar. Três anos depois, se casaram e ficaram juntos até a morte de Hughes, em 2009.

• Nos anos 70, Hughes conciliava seu trabalho de redator na agência de publicidade Leo Burnett com o de escritor na revista de humor National Lampoon. Quando precisava fugir, durante a tarde, para Nova Iorque (a agência ficava em Chicago) para se reunir com os editores do humorístico, largava um copo de café cheio na sua mesa para o chefe pensar que ele só tinha ido ao banheiro.

• Foi um escritor prolífico. Escreveu o roteiro de Gatinhos e Gatões em dois dias, e a história de Curtindo a Vida Adoidado, em seis dias. Anotava todas idéias, pensamentos e conversas que ouvia, e achava interessante, em cadernos e blocos de anotações.