Estrelas do Mundial
O Estadão mostra os grandes craques que vão disputar a Copa do Mundo, suas histórias e principais qualidades que poderão ajudar suas seleções na luta pelo título. Clique em “ver todos” para conferir a lista completa
Paulinho Brasil flag
Vida de altos e baixosCom apoio de Tite, volante renasce no Barcelona
Quando era pequeno, Paulinho não conseguia ver a rua quando abria a janela. Ele morava no depósito da subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. Dividia o terreno com tubos, cimento, pedra e areia. Ali trabalhava seu pai, Marcos Nascimento, analista de Suporte Técnico. A mãe, Érica Lima Nascimento, era assistente financeira.
Os horizontes começaram a ficar mais amplos quando passou na peneira par a jogar no Audax (SP). Acordava de madrugada e atravessava a cidade, de norte a sul, mas gostava. E se destacava. Descobriu que o futebol poderia ser seu futuro. Resolveu arriscar a sorte no time do Vilnius, da Lituânia, clube que tinha um intercâmbio com o Audax. Era 2006 e ele tinha 17 anos. No inverno, os termômetros chegam a 25° C negativos. Precisava de quatro casacos. Mas tem boas lembranças da neve.
Por outro lado, encontrou um rival tão cortante como o frio: o racismo. “Nas lojas, éramos atendidos com má vontade e os torcedores dos outros times imitavam macacos quando a gente passava”, diz Rodnei, um dos melhores amigos do volante. Paulinho não contava para a família e evita o assunto. No polonês LKS Lodz, o problema era outro: não pingava o salário na conta. Paulinho chorava para largar tudo. Foi a mulher Bárbara, primeira e única namorada, que o impediu.
Trocou a primeira divisão do Campeonato Polonês pela quarta do Campeonato Paulista no seu berço, o Audax. Passou a receber 20% do seu salário na Europa. Foi contratado pelo Bragantino, no qual ficou uma temporada, e atraiu o todo-poderoso Corinthians. Ali aperfeiçoou a função de volante: marcava, mas tinha liberdade para atacar. Foi aí que nasceu o estilo que o consagrou no Corinthians, soterrando a lembrança de Jucilei e Elias.
Essa versatilidade chamou a atenção dos técnicos da seleção, primeiro Mano Menezes e depois Felipão. E também dos europeus. Voltou para acertar as contas com o passado. Mas a passagem pelo Tottenham foi ainda mais frustrante. Não foi bem. Chegou a ser escolhido por torcedores em pesquisa da revista FourFourTwo como a pior contratação da história do clube londrino. Acabou vendido ao Guangzhou, da China, em 2015, por R$ 53 milhões. Ou R$ 22 milhões a menos do que a negociação anterior com o clube inglês. Desvalorização. Declínio. Incerteza.
Só que ele deu a volta por cima de maneira improvável. Dirigido por Felipão, renasceu. Em três anos disputou 91 jogos, marcou 26 gols e foi fundamental na conquista de cinco títulos. Tite, o mesmo que o dirigiu no vitorioso Corinthians, foi pinçá-lo.
Paulinho foi um dos responsáveis pela arrancada da seleção nas Eliminatórias Sul-americanas para a Copa do Mundo e acabou despertando o interesse do Barcelona. O sucesso surpreendeu boa parte dos críticos. Entrou no rodízio com Busquets, Rakitic, Iniesta e André Gomes. Foi eleito melhor estreante do Campeonato Espanhol. Mas uma lesão em janeiro interrompeu sua ascensão.
Paulinho é teimoso, mas otimista, daqueles que veem a metade cheia dos copos. Anos atrás, quando foi questionado pela reportagem do Estado sobre uma lembrança da infância, ele não falou da janela sem vista para a rua. “Eu gostava de empinar pipa”, disse, objetivo como seu jogo.
Agora, uma nova janela se abre para Paulinho. Uma que ele nem imaginava que ele poderia alcançar um dia quando morava no terreno da prefeitura: a janela da Copa do Mundo.
Nossa avaliação
Os jogadores foram selecionados de acordo com sua qualidade técnica no principal mercado do mundo, a Europa. Foram avaliados os quesitos cabeceio, habilidade, velocidade, drible e finalização e as notas foram dadas pela equipe de Esportes do Estadão. A cada sábado, uma história nova - serão 32 jogadores ao todo.