Demanda por renovação pode reverter tendência de envelhecimento da Câmara

Pela primeira vez em uma década, mediana de idade de deputados federais pode cair em 2018

Por Cássia Miranda, Jéssica Díez Corrêa e Júlia Belas

Pela primeira vez desde as eleições gerais de 1998, é possível que a tendência de envelhecimento do Congresso brasileiro seja revertida. Especialistas indicam que, nas próximas eleições, a mediana de idade da Casa irá diminuir. Para o especialista em marketing político digital Fred Perillo, os jovens terão papel de destaque em 2018. “O discurso de renovação vai estar muito forte no ano que vem. Eles já têm uma vantagem competitiva”, aponta.

Nas últimas cinco eleições, a mediana da idade dos deputados federais pouco se alterou. Entre as legislaturas de 1994 e 2014, variou de 48 anos a 52 anos de idade. A hipótese levantada pelo diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida, é de que o alto valor das campanhas favorece candidatos com nome já estabelecido na política, que têm mais facilidade para arrecadar recursos. “Dinheiro chama dinheiro. Então, o político que tem mais quilometragem na vida pública talvez tenha mais facilidade de conseguir recursos do que um mais jovem.”

Segundo Almeida, o fato de conhecer o sistema estimula a candidatura de pessoas que já ocuparam outros cargos eletivos, como ex-prefeitos e deputados estaduais. “As figuras que são mais capazes de mobilizar recursos são políticos que estão há muito tempo no sistema, então tende a ser alguém mais velho”.

Na eleição de 2014, apenas 22 dos 513 deputados federais eleitos tinham menos de 30 anos de idade, uma representatividade de pouco mais de 4%. Destes, apenas três não têm laços familiares com políticos. “As pessoas votam nos filhos, netos e sobrinhos porque existe facilidade de identificação”, explica o professor e pesquisador Carlos Zacarias, da Universidade Federal da Bahia.

Alerta

Especialistas e políticos concordam que não se pode tratar juventude e renovação como sinônimos. De acordo com o cofundador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, a idade não indicaria uma sintonia de atuação entre os candidatos. “Não acho que o fato de ser jovem una ideologicamente os candidatos e faça com que eles tenham alguma proposta comum para apresentar.”

Para a cientista política Nathália Porto, candidatos entre 20 e 30 anos serão novos atores, mas não necessariamente trabalharão com métodos inovadores. “A forma como essas pessoas farão política é uma coisa que precisaríamos discutir também.”

De acordo com o diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (CEPAC), Rubens Figueiredo, mesmo que sejam eleitos, os candidatos mais jovens não ocupariam posições importantes no Congresso. “Eles podem trazer mais adrenalina para o debate, mas não se muda uma política praticada por décadas e um sistema político viciado apenas com juventude.”

Legendas

Militantes políticos, no entanto, creem que os candidatos jovens terão papel mais importante em 2018 em decorrência do clamor por renovação na Câmara após os escândalos políticos dos últimos anos, como o Mensalão e a Lava Jato. A presidente da União da Juventude Socialista (UJS) Carina Vitral, por exemplo, entrou em evidência por causa da militância online, assim como Kataguiri. Ambos são pré-candidatos a deputado federal nas eleições de 2018, aos 29 e 21 anos, respectivamente.

Carina diz que as legendas têm procurado candidatos mais novos para tentar reduzir a rejeição do público à política. “Eu acho que não é um verdadeiro despertar para a renovação política, e sim um remendo que alguns partidos tentam fazer”, avalia. Para Kataguiri, o principal apelo da juventude é o fato de não estarem envolvidos em polêmicas. “Os partidos sentem que existe uma indignação com os caras tradicionais e, para fazer quociente eleitoral e não perder votos, tendem a apostar em lideranças mais jovens.”

Colaboraram Alessandra Monnerat e Luiz Fernando Teixeira