Perto da hora de se aposentar, se você quiser continuar trabalhando, saiba que terá de batalhar. E sozinho. As empresas no Brasil praticamente não têm política de recursos humanos (RH) para reter ou qualificar os idosos. As poucas companhias que estabelecem metas nesse sentido se limitam a processos seletivos para contratar pessoas mais velhas para funções de relacionamento com o público, como vendas ou atendimento ao cliente.

Apenas 1% dos cargos em mais de uma centena de empresas no Brasil são ocupados por pessoas com mais de 65 anos, de acordo com o estudo Envelhecimento da Força de Trabalho no Brasil, feito pela consultoria PWC e a Fundação Getulio Vargas. Pior que isso, 70% das empresas que responderam à pesquisa acreditam que profissionais na terceira idade são mais caros, 69% responderam que eles não se adaptam bem às mudanças e 63% os veem como acomodados com a proximidade da aposentadoria.

A professora do Núcleo de Estudos em Organizações e Gestão de Pessoas (NEOP) da FGV, Maria José Tonelli, uma das responsáveis pela pesquisa, conta que mesmo já tendo passado quatro anos da coleta de dados, a realidade do mercado é a mesma. “A resposta foi que, supostamente, não existe um preconceito declarado, mas, ao mesmo tempo, não há prática de seleção ou de cultura organizacional que faça o engajamento de profissionais mais velhos. Isso não mudou.”

Após anos de trabalho em cargos altos no grupo Votorantim, o administrador Gilberto Lara, hoje com 68 anos, decidiu que era a hora de mudar. Tomou a decisão aos 65 anos. Ele conta que optou por se aposentar da empresa, mas que não cogitou parar de trabalhar. Acionou, então, sua rede contato, chamada de networking no jargão empresarial. “Eu pude escolher o que fazer depois de me aposentar porque já tinha contato com várias pessoas do ramo.” Então, passou de executivo a consultor.

Para o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional São Paulo (ABRH-SP), Theunis Marinho, as empresas e os profissionais brasileiros mais velhos poderiam se inspirar em um modelo que é muito comum na Europa. “Existe uma realidade de usar essas experiências de pessoas mais idosas profissionalmente. Elas trabalham menos, mas continuam trabalhando, às vezes como autônomas. Mas fazendo aquilo em que são bons na vida: contar sua história.”

O estudo da PWC com a FGV chega a conclusões parecidas e destaca que as companhias devem ter projetos de como lidar com esse envelhecimento da mão de obra e de como tirar o melhor deles, tal como fez a BMW, considerada um estudo de caso mundial. A empresa alemã adaptou linhas de montagem especialmente para funcionários com mais de 55 anos, em 2007, na fábrica de Dingolfing, na Baviera. O programa se espalhou por outras unidades no país, além de Estados Unidos e Áustria. A professora Maria José Tonelli conta que, em muitos casos, as linhas de montagem adaptadas registraram produtividade superior à de outras estações de trabalho nas fábricas.

O engajamento de idosos é menor no Brasil. Um estudo de cultura corporativa da Top Employers Institute, com 1.200 empresas de diversos países, mostrou que enquanto na Europa 50% das empresas tinham ações para “atrair, engajar e reter pessoas idosas”, no Brasil esse número é de 21%. Para Gustavo Tavares, gerente geral do Top Employers Institute Brazil, o que mais se vê é a preocupação de envolver jovens em programas de trainee e estágios. “Os profissionais de um certo nível de maturidade acabam sendo relegados a um segundo plano, só que essa mão de obra experiente pode agregar muito, como multiplicador de conhecimento, de know how”, afirma. “Pensando no que a gente vai enfrentar nos próximos anos no Brasil, as empresas que estão no processo de tentar atrair ou reter esse talento saem em vantagem. Aliás, já passou do tempo de fazer isso.”

Novo emprego

Especialistas em RH relatam que ao buscar emprego há dois tipos de profissionais mais maduros: aqueles que têm boa renda, são qualificados e, consequentemente, dispõem de maior liberdade de escolha; e aqueles que se aposentam, mas precisam complementar a renda e demoram a encontrar um trabalho.

De fato, pessoas desempregadas a partir dos 50 anos de idade encontram mais dificuldades para conseguir um novo emprego em comparação às mais jovens. No grupo mais maduro, segundo dados da Pesquisa Emprego e Desemprego (PED), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na Região Metropolitana de São Paulo, em 2016, o tempo médio gasto na procura por trabalho foi de 50 semanas, contra 35 para os desempregados abaixo dessa faixa etária.

Mudança

Ao iniciar a busca por um nova vaga, o idoso costuma olhar oportunidades na mesma área em que trabalhava, depois acaba mudando de ideia, conta Mórris Litvak, criador da MaturiJobs, plataforma com oportunidades de emprego para pessoas com mais de 50 anos. A maioria deles aceita outros tipos de trabalho, como de consultores, mentores ou decidem até empreender. “A falta de planejamento de carreira anterior, aos 40 e 50 anos, faz com que as pessoas cheguem aos 60 sem saber qual direção seguir”, afirma Litvak.

Por conta da MaturiJobs, a aposentada Marlene Choeri, de 61, foi contratada como controladora na área financeira da consultoria de gerenciamento Reos Partners. Demorou oito meses para conseguir a vaga. “Eu fiz apenas uma entrevista durante todo esse período, mas, felizmente, consegui em uma área com a qual já tinha afinidade.” Marlene conta que voltou ao mercado após perceber que precisava complementar a renda e, principalmente, “ocupar a cabeça”. Ela destaca que o salário é bom e que pode trabalhar de casa (home office). Segundo a controladora, a vantagem do trabalho flexível é que lhe permite mais tempo para fazer outras atividades, como ir à academia, por exemplo.

Do ponto de vista das empresas, há algumas dificuldades quando o assunto é contratar idosos. Leandro Palmeira, consultor do Instituto Mongeral Aegon, explica que poucas têm iniciativas de treinar e qualificar esse empregado. “Uma das razões pode ser o custo elevado de treinamento, mas eu acredito que não seja a principal. No meu entendimento o governo e a sociedade do País não dão tanta importância para a educação como um ponto de crescimento e enriquecimento.É uma grande miopia.”

Dos 16 mil trabalhadores em 15 países ouvidos na pesquisa divulgada este ano pelo Instituto para a Longevidade Mongeral Aegon, apenas 15% afirmaram que seus empregadores oferecem treinamentos ou educação continuada para manter as habilidades dos idosos atualizadas.

De toda forma, o profissional também deve fazer sua parte no desenvolvimento de carreira, procurando atualizar seus conhecimentos e manter o networking para continuar trabalhando após a aposentadoria oficial. Para Marinho, os dois lados têm que se preparar. “Esse plano é meio a meio, 50% é a empresa que faz na sua política de RH e 50% é o trabalhador, que tem que saber que esse futuro vai chegar”.

Serviço

Plataformas de emprego
Seja qual for a idade, há opções de serviços online que podem ajudar na busca por recolocação no mercado de trabalho. Conheça algumas:

1. MaturiJobs

O serviço é exclusivo para pessoas acima de 50 anos e também o primeiro do Brasil a focar em vagas de emprego para essa faixa etária. Mórris Litvak, idealizador da plataforma, conta que são ofertadas tanto vagas de emprego formal quanto de freelancers e os serviços podem ou não ser remunerados. A ferramenta é gratuita. Para usá-la basta fazer um cadastro no site e esperar que alguma empresa entre em contato.

2. Info Jobs

Fundada em 1998, a plataforma possibilita de forma gratuita que os usuários enviem currículos e que as empresas organizem processos seletivos de contratação. A busca pelas vagas pode ser feita de acordo com o cargo, área e localidade. Há oportunidades em todo o País.

3. VAGAS.com

A plataforma é gratuita e existe desde o ano de 1999. No site, os candidatos podem cadastrar os currículos e procurar oportunidades que combinem com seus perfis. A receita do VAGAS.com vem das empresas que utilizam o software VAGAS e-partner, usado pelos empregadores para buscar empregados e para gerenciar processos seletivos.

4. Catho

O site da Catho foi lançado em 1996 e a empresa tem sede em Barueri (SP). A plataforma online serve com uma intermediária entre empresas e candidatos que buscam emprego. O serviço anuncia mais de 160 mil oportunidades em 1.800 cidades brasileiras. Em 2016, cerca de 27 mil empresas ofertaram vagas no site

5. Linkedin

Com mais de 500 milhões de usuários, a rede social é uma das plataformas online de emprego mais conhecidas. No serviço, o perfil dos usuários é preenchido com informações tais como experiência profissional e qualificação. O site é muito usado para networking entre os usuários.